Por Rivadavia Rosa
Nas épocas de crise generalizada como a que vivemos – parece que a ordem, a
inteligência ou consciência que se encontra por trás da infinita matriz da
realidade – se obscure e, muitos ficam esperando pelo salvador, da pátria
ou das almas (perdidas).
SURGEM OS PLANOS, as conspirações de dominação mundial ou as profecias
apocalípticas de fim do mundo – como se houvesse um determinismo, um
propósito deliberado – um planejamento dos eventos, dos fenômenos, do mundo
socioeconômico e político para a escravização/libertação do homem. Nesse
ponto de vista – tudo o que ocorre seria resultado de uma causa teleológica
que seria inexorável.
A ESSÊNCIA do milenarismo, assim como dos movimentos revolucionários,
inclusive de alguns que se dizem sociais é a esperança de uma transformação
completa e radical do mundo, pela mão de Deus, ou pela mão do homem,
respectivamente. Assim operam os movimentos messiânicos na história, todos
preconizando o advento de um mundo (para uns possível) – de justiça,
liberdade, igualdade, paz, fraternidade, solidariedade, em que todos
seríamos felizes, depois de excluídos, é claro os injustos, pecadores ou
capitalistas, burgueses ....
ESSA É A IDÉIA tipicamente paternalista – tanto do lado profano, quanto do
religioso, com um deus (Deus, do gênesis – com qualidades tipicamente
humanas) – que daria atenção pessoal, proporcionaria o bem-estar geral,
eliminando os sofrimentos, as atribulações, especialmente daqueles que têm
que trabalhar no dia a dia para ganhar o pão com o ‘suor de seu rosto’ – que
então não teriam mais desculpas para seus infortúnios pessoais.
PORÉM - A ORDEM, A INTELIGÊNCIA, energia, mente ou consciência cósmica
universal, tem suas LEIS fixas que permitem a vida em constante renovação,
assim como a persistência e a regularidade dos fenômenos; o propósito,
acredito é um atributo humano – ou seja - o definição de um fim ou objetivo
a ser alcançado individualmente e que nada tem com o divino.
O HOMEM EM SUA IMPERFEIÇÃO – não pode ser reformado e, nenhum homem pode
fazê-lo; a obra pronta e acabada foi entregue ao mundo e talvez até tenha
esgotado seu prazo de validade, mas ainda é possível difundir preceitos
cosmicamente inspirados e exemplificá-los em sua própria vida (e nem todos
os pastores de alma tem esse dom); o resto deve necessariamente resultar dos
esforços pessoais dos indivíduos e da comunidade, em seus interesses comuns.
JESUS CRISTO e outros grandes líderes religiosos, em corpo, alma, espírito e
sangue – trouxeram ao mundo filosofias espirituais que indicam o caminho
seguro - pelas quais se poderia alcançar a paz, apenas seguindo esses
ensinamentos espirituais.
ENFIM CADA UM COM SUA VISÃO e as ideologias, inclusive o ateísmo quando
dominados por dogmas produzem cegueira mental e ideológica nos seus
seguidores/devotos, pois cada um pré julga através do caleidoscópio que
adotou. Por isso Pilatos, cético, formulou a pergunta a Jesus: "o que é a
verdade?"
ENQUANTO ISSO – o capitalismo, sob a mão invisível do mercado e, com alguns
percalços com sua gênese efetivamente revolucionária – promove a educação, a
ciência e o progresso e, isso é inexorável, independente das resistências de
viés primitivistas.
O APOCALIPSE DE JOÃO E O SEU CONTRIBUTO PARA AS CONCEPÇÕES MILENARISTAS DA HISTÓRIA
Surgindo como o autor do último livro da Bíblia, João apresenta-se comoalguém que sofre as consequências das perseguições efectuadas aos cristãos
pelos romanos, encontrando-se por isso exilado na ilha de Patmos, situada no
mar Egeu.
Dirige o Apocalipse às sete igrejas da Ásia Menor, ficando estas situadas na
actual Turquia.
"Apocalipse" significa revelação e revelação é o acto de tirar o véu. Assim,
o autor tem como objectivo pôr a descoberto o plano de Deus em pleno
ambiente de perseguições.
À aflição das comunidades cristãs, que se questionavam sobre a duração dos actos que sobre si recaiam, o Apocalipse respondia que o tempo da libertação estava próximo.
Deus iria mudar a situação, na medida em que só ele e não o Imperador, era senhor da História.
João apresenta a sua mensagem em forma de apocalipse, maneira muito própria
de anunciar a Boa Nova em épocas de perseguições. Qualquer apocalipse
caracteriza-se como sendo composto por imagens relativas a sonhos e visões,
carregados de símbolos e cor que necessitam, para o entendimento da
mensagem, ser decifrados.
A história do passado é vista numa perspectiva de profecia e a do presente,
imbuída de dificuldades, recebe a luz da profecia do passado em função da
libertação futura e próxima. Deus entregou o seu poder a Jesus e este levará
o seu povo à vitória final.
O Apocalipse tem, pois, como fim, incutir confiança aos cristãos em tempo de
perseguição. No entanto, e indo para além do seu tempo, teve reflexos
poderosíssimos em tempos posteriores, influenciando profundamente a
religiosidade popular medieval, mas também indivíduos pertencentes à Igreja
e outros que se dedicavam ao registro de fotos e acontecimentos, através de
crônicas, anais, entre outros. Importa aqui registrar, para que fique claro,
que à medida que a Igreja se foi organizando, as autoridades eclesiásticas
empenharam-se em reduzir o milenarismo a uma expressão simbólica, tendo
adoptado como seu representante Santo Agostinho (354-430), na medida em que a doutrina deste sobre a matéria foi transformada em doutrina oficial.
No entanto, apesar dos esforços da Igreja e da teoria agostiniana, a
continuidade das especulações sobre o caminho da História para o "fim dos
tempos", foi um constatação.
Os anos de 1000, 1033, 1186, 1229, 1250, 1260,1290, 1300, 1310, 1325, 1335, 1345, 1360, 1367, 1375, 1348, 1360, 1367,1375, 1378, 1387, 1395, 1396, 1400, 1417, 1429 e 1490 foram anunciados como sendo os da concretização do fim do mundo.
Sendo que a eles coincidem situações como fomes, pestes, inundações ou outros fenómenos tidos como sobrenaturais, caso de eclipses ou cometas, então percebe-se que tudo isto era interpretado como sinais apocalípticos.
Antes de avançarmos com mais com conjunto de registos atentemos, então, em
alguns excertos do Apocalipse:
"Introdução
1. Este livro contém a revelação que Jesus Cristo recebeu de Deus, para a
dar a conhecer àqueles que o seguem. Trata-se de coisas que hão-de acontecer
brevemente e que Cristo deu a conhecer ao seu discípulo João, por um anjo
que lhe enviou.
João é testemunha daquilo que Deus disse e que Jesus Cristo confirmou.
Foi isto que ele viu. Feliz daquele que lê este livro, e felizes os que ouvem
estas palavras proféticas e as guardam no seu coração. Pois tudo há-de
acontecer em breve.
(...)
A grande prostituta e a fera [corresponde à destruição da cidade de Roma - a
Grande Prostituta-]
Aproximou-se depois um dos sete anjos que tinham as sete taças e falou-me
assim:
"Vem cá! Vou mostrar-te a sentença de condenação da grande prostituta que
vive junto das águas abundantes. Os reis da terra cometeram pecado com ela e
os habitantes da terra embriagaram-se com o vinho da sua imortalidade. (...)
Depois o anjo continuou a explicar-me: "As águas que viste, onde vive a
prostituta, são povos, multidões, nações e línguas. Os dez chifres e a outra
fera que viste vão odiar a prostituta. Vão despojá-la de tudo e deixá-la
nua. Vão comer-lhe as carnes e queimá-la no fogo. Foi Deus quem lhes meteu
isto na cabeça, para assim realizarem o seu plano. (...)
A queda da grande cidade
Depois disto, vi outro anjo que descia do céu, com grande poder. E o seu
esplendor iluminou a terra. Gritou com voz forte:
A grande Babilónia caiu por terra!
Tornou-se habitação dos demónios, refúgio de todos os espíritos maus, e de
todas as aves selvagens e repelentes.
É que ela embriagou todas as nações com o vinho da sua imoralidade
desenfreada.
Os reis da terra cometeram imoralidades com ela, e os comerciantes da terra
tornaram-se ricos com o seu luxo desmedido. (...)
As bodas do Cordeiro [=Jesus]
E do trono saiu uma voz que dizia.
"Louvem o nosso Deus
todos os que o servem,
todos os seus fiéis,
pequenos e grandes!"
Depois ouvi como que a voz duma grande multidão semelhante ao ruído duma
grande cascata e de fortes trovões que dizia:
"Aleluia!
Quem reina é o Senhor,
o nosso Deus, todo-poderoso!
Alegremo-nos, regozijemo-nos
e dêmos-lhe glória.
Chegou o tempo das bodas do
Cordeiro
A sua noiva já se preparou.
Foi-lhe dado um vestido de linho
fino e resplandecente."(...)
Os mil anos
A seguir vi um anjo que descia do céu e na sua mão tinha a chave do abismo e
uma grande corrente. Agarrou o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo ou
Satanás, e prendeu-o por mil anos. Lançou-o pelo abismo, fechou a porta á
chave e selou-a para que não enganasse mais as nações, até que se cumpram os
mil anos. Depois deste período, deve ser solto durante algum tempo.
Vi também alguns tronos. Os que se sentaram neles receberam o poder de
julgar.
Vi ainda as almas daqueles a quem tinham cortado a cabeça por terem
dado testemunho de Jesus e proclamado a mensagem de Deus. São os que não
adoraram a fera, nem a sua estátua, nem trouxeram na fronte ou na mão a sua
marca. Estes vivem novamente com Jesus e reinam com ele durante mil anos.
Os outros mortos não voltaram à vida a não ser depois dos mil anos. Esta é a
primeira ressureição. Ditosos e santos os que tomam parte na primeira
ressureição. Sobre eles a segunda morte não tem qualquer poder. Eles serão
sacerdotes de Deus e de Cristo e hão-de reinar com ele durante mil anos.
Derrota de Satanás
Passados mil anos, Satanás será solto da prisão. (...)
Juizo final
(...)
A morte e o abismo foram lançados no lago do fogo. Este lago de fogo é a
segunda morte. E quem não tinha o seu nome escrito no livro da vida foi
lançado no lago do fogo.
Novos céus e nova terra
Vi, então, um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra
tinham desaparecido e o mar desapareceu.
E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade Santa, a nova Jerusalém.
(...)
E o que estava sentado no trono disse:
"Agora faço tudo de novo" (...) E disse-me ainda: "É um facto. Eu sou o Alfa
e o Ómega, o princípio e o fim. (...)
A nova Jerusalém
(...)
A cidade não tinha qualquer templo. O Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro
é que são o seu templo. (...) As nações hão-de caminhar à luz daquela
cidade. Os reis da terra hão-de levar-lhe as suas riquezas (...) E na
cidade,estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos hão-de
adorá-lo (...). O Senhor Deus será a sua luz e hão-de reinar para todo o
sempre. (...)".
Para além do Apocalipse existiram outros 4 textos que contribuiram
igualmente para a difusão das ideias milenaristas. Foram eles os apócalipses
apócrifos de:
- Baruc: relacionava a vinda de Cristo a uma fartura nunca vista, ao termo
das doenças e à instalação da paz;
- Edras: descrevia as várias catástrofes que anunciariam o fim dos tempos,
até que o Messias retornaria revelando a Jerusalém Celeste e o Paraíso;
- Henoc: afirmava que os seriam recompensados com paz, fartura e justiça.
Temos ainda os Oráculos Sibilinos, um conjunto de textos gregos escritos
entre os séculos II a.c e IV d.c, profetizando a instalação de uma era de
abundância e de justiça, cujo governo seria levado a cabo pelo denominado
Último Imperador do Mundo.
Publicado por sandra em agosto 22, 2003 04:50 PM
http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/006814.html
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