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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Câmara cassa André Vargas, sócio do doleiro Youssef


Rifado pelo PT para não atrapalhar as eleições, deputado perdeu o mandato nesta quarta-feira, após sessão tumultuada

Marcela Mattos, de Brasília


Vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas
Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/VEJA

A Câmara dos Deputados cassou nesta quarta-feira o primeiro mandato de um parlamentar flagrado no maior propinoduto já descoberto no país. Por 359 votos a favor, seis abstenções e um voto contra, o paranaense André Vargas, filiado ao Partido dos Trabalhadores até abril, perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar.

Homem forte no PT, André Vargas ocupava a cobiçada primeira-vice-presidência da Câmara quando seu nome apareceu na primeira etapa da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que à época se desenhava apenas uma grande investigação de combate à lavagem de dinheiro. Os desdobramentos da operação revelaram que o agora ex-deputado mantinha uma estreita relação com o doleiro Alberto Youssef, pivô de um esquema de lavagem de recursos públicos desviados cujas proporções ainda não foram totalmente dimensionadas. Segundo a Polícia Federal, Vargas era sócio em negócios ilícitos de Youssef, como o laboratório de fachada Labogen, usado para lavar 113,38 milhões de dólares em contratos de câmbio fictícios. Segundo as investigações, os dois trabalhavam para enriquecer juntos, fraudando contratos com o governo federal. Mensagens de celular interceptadas pela Polícia Federal evidenciaram que Vargas, que se referia ao doleiro como "irmão", exercia seu poder para cobrar compromissos de Youssef. O jornal Folha de S. Paulo também revelou que Vargas chegou a viajar em férias usando um jatinho fretado pelo doleiro.

Rifado pelo PT para que não contaminasse algumas candidaturas da sigla, Vargas manteve parte de sua influência na Câmara e contou com a ajuda de parlamentares do partido para protelar o desfecho do processo por oito meses. Por pouco não conseguiu encerrar a legislatura ileso, o que evitaria o enquadramento na Lei da Ficha Limpa e a inelegibilidade pelos próximos oito anos. Nesta quarta-feira, o deputado José Mentor (PT-SP) chegou a sentar na cadeira da presidência da Câmara encerrar pela manhã a sessão destinada a votar o parecer pela perda do mandato. A intenção era adiar a votação para a próxima semana, a última antes do recesso, o que provavelmente salvaria Vargas. A manobra só não deu certo porque a oposição pressionou e o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), retonou a sessão mais tarde.

Com o voto aberto, as únicas manifestações favoráveis a Vargas partiram de seus colegas petistas. Amigo do paranaense, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), cujo nome também ronda a Operação Lava Jato, saiu em defesa do colega: “Não é correto falar que um deputado que vote ‘não’ seja a favor da corrupção. Nós estamos votando aqui a cassação de um colega que acho que teve muita pouca base de avaliação”, afirmou. No entanto, ao orientar o voto da bancada, o líder do PT, Vicentinho (SP), defendeu a cassação do ex-petista.

Conhecido pelo estilo fanfarrão e truculento, Vargas não compareceu à sessão para se defender. Em uma última cartada para adiar a análise do processo, ele apresentou um atestado médico alegando que havia passado por uma cirurgia na boca. No entanto, o recurso foi negado sob o argumento de que o deputado deveria ter solicitado análise da junta médica da Câmara. O deputado Eurico Júnior (PV-RJ) assumiu a função de advogado dativo e fez a defesa do paranaense em plenário. Sem conseguir negar a relação de Vargas com o doleiro, o defensor pediu o abrandamento da pena: uma suspensão.

Ex-vice-presidente da Câmara e ex-Secretário Nacional de Comunicação do PT, Vargas foi um dos principais defensores dos políticos presos no julgamento do mensalão. Ao longo do processo, o agora ex-deputado acusou o Supremo Tribunal Federal de estar cedendo às pressões para agilizar o julgamento e deu uma série de declarações para desqualificar a corte. Da tribuna, Vargas protagonizou uma das principais cenas de desrespeito da Câmara ao hostilizar o então presidente do STF Joaquim Barbosa repetindo o gesto dos mensaleiros durante sessão solene no plenário.

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