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sábado, 13 de dezembro de 2014

A rotina do delator



Em prisão domiciliar, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa abandonou as caminhadas pelo condomínio onde mora, demitiu a empregada e o jardineiro e passou a se dedicar, ao lado da mulher, apenas aos afazeres domésticos
Rogério Daflon
(daflon@istoe.com.br)

O homem que tinha poder para assinar contratos milionários na Petrobras hoje não tem liberdade para se locomover dentro da própria casa, e muito menos fora dela. Aos 60 anos, o engenheiro paranaense Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da petrolífera – mentor e delator de uma organização criminosa que desviou bilhões da estatal –, vive em prisão domiciliar, usa uma tornozeleira eletrônica que limita seus passos a ponto de já ter sido visto mancando e é vigiado por agentes da Polícia Federal (PF) que ficam parados 24 horas por dia no portão de sua casa, no Condomínio Rio-Mar, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Depois de passar oito meses detido na carceragem da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, agora o ex-diretor dirige apenas a sua casa. Mas até a rotina privada não é como antes. Uma de suas primeiras decisões, ao voltar da cadeia, foi tentar reduzir o salário da empregada doméstica. Ela não aceitou e foi demitida. O jardineiro também foi dispensado, o que sugere uma tentativa de reduzir custos.

SEM SOSSEGO

Vigiado de perto por agentes da PF, que ficam parados 24 horas por dia no portão de sua casa, num condomínio na Barra da Tijuca, Paulo Roberto Costa só recebe visitas de advogados e parentes


As tarefas de casa passaram a ser, então, assumidas por Costa e sua mulher, Marici. Ele faz os serviços de jardineiro, piscineiro e cuidador de cachorros – quatro no total, todos vira-latas – e ela cuida da casa, segundo vizinhos. O engenheiro mecânico também abandonou as caminhadas nas redondezas e só recebe visitas de advogados e parentes, como as duas filhas, Ariana e Shanni de Azevedo Costa, e os respectivos maridos – Marcio Lewkowicz e Humberto Sampaio de Mesquita –, além dos filhos menores de ambas. Toda a família (mulher, filhas e genros) foi indiciada pelo Ministério Público Federal como cúmplices de Costa e vivem com sigilo telefônico e bancário quebrados.

A casa é apropriada para quem quer tentar levar uma vida mais reservada, depois do escândalo em que se meteu: penúltima do lado esquerdo de quem entra no condomínio, a residência de Paulo Roberto Costa é isolada das demais e conta, ainda, com um muro muito alto e árvores na calçada que inviabilizam a visão do interior. Com dois andares – sala e cozinha no primeiro piso e quatro quartos no segundo – é avaliada em R$ 3 milhões, segundo moradores da região. Um carro modelo Audi, agora sem função, permanece sozinho na garagem. A PF apreendeu o outro carro, uma Land Rover que tinha sido presenteada pelo doleiro Alberto Youssef, que também colabora na deleção premiada para redução de penas. O mimo, de R$ 500 mil em média, ilustra o tipo de presente brindado a integrantes do esquema do Petrolão.




Segundo um policial que se reveza na escolta, Costa tem permissão apenas para caminhar até a guarita do condomínio, a cerca de 50 metros de sua residência – o que nunca faz, no entanto. Ao contrário do delator do escândalo, Marici tem liberdade para se locomover, mas opta por ficar reclusa com o marido. Quando quis ser gentil com os policiais que não saem de sua calçada, abriu a porta e levou café para eles. Vizinhos contam que ela emagreceu muito. Além de a vida dos dois ter virado do avesso, o desgaste e as pressões sofridas nos últimos meses, com consequências até para os filhos, foram pesados.

Os moradores já se habituaram com a alteração do ritmo do condomínio. Um deles disse que o susto maior aconteceu no momento em que Costa foi preso, pois helicópteros, viaturas policiais e agentes da Polícia Federal invadiram o local. “Agora, já estamos acostumados”, disse um vizinho que pediu anonimato. Outro, mais exaltado e indignado, se disse impressionado com a quantidade de dinheiro que o vizinho até então considerado “um bom e honesto senhor” roubou. “Se ele já fez acordo com a Justiça para devolver US$ 23 milhões, imagina o quanto roubou!”, disse. Outro morador afirmou que “agora ele vai ficar mais humilde”, referindo-se ao jeito arredio de Costa antes de ser preso.

Radicado no Rio, Paulo Roberto Costa tinha muitos amigos e chegou a ser condecorado como cidadão fluminense na Assembleia Legislativa do Estado, em 2008. Após deixar a Petrobras, em 2012, manteve a rotina de fraudes na estatal, tendo apenas mudado a trincheira: abriu a consultoria Costa Global e a usou como fachada de um novo esquema que lesou não só a Petrobras, mas também outros órgãos do País.

13.Dez.14

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