Por Reinaldo Azevedo
Ou bem o acordo de leniência firmando pela Siemens com o Cade e o Ministério Público Federal vem a público, ou, não se duvide, estamos diante de uma operação típica, sim, de estados policiais.
O MP diz agora que há a suspeita de que o cartel das empresas liderado pela Siemens operou em todo o Brasil.
É mesmo, é? Lembrei num texto desta madrugada que a política de “compliance” da gigante alemã, como reza a nota da própria empresa no Brasil, é de alcance mundial. Isso quer dizer que práticas heterodoxas se espalham mundo e Brasil afora. Vai ver os petistas resistiram, né? Ora, ora, ora…
Eu não faço jornalismo investigativo. Investigo só ideias e advérbios de modo. Mas lembro aos coleguinhas que, com justiça, se orgulham de seu trabalho escarafunchador: as compras para o sistema Eletrobras têm tudo para ser o calcanhar de Aquiles federal.
A Siemens é uma das maiores fornecedoras do sistema. A Alstom é outra. Com quem trabalham Furnas, Eletronorte etc.? O acordo de leniência feito se refere também aos contratos com essas empresas? Também eles foram recolhidos?
Os vagabundos a soldo de estatais sugerem que estou a dizer que nada de errado houve em São Paulo.
Uma pinoia!
Quero conhecer, e isso é hoje imperioso se não se quer usar o estado democrático e de direito para fraudar o direito e a democracia, os termos do acordo de leniência e saber quais contratos da Siemens no Brasil foram, afinal de contas, alvo de investigação.
A quanto remonta a negociação de órgãos vinculados ao governo federal com a Siemens e outras gigantes do setor? Creio que o sistema de “compliance” da multinacional, de alcance mundial, supõe a sua subordinação às leis do país e à necessária transparência, não ao projeto de poder e à agenda eleitoral de um partido político.
Eis um bom trabalho para o jornalismo investigativo. Afinal, o que se chama “investigação”, até agora, é só fruto dos vazamentos industriados promovido pelo “CadeLeaks”, que obedecem a um mal disfarçado cronograma eleitoral — o que, obviamente, não escapou à moral e aos olhos sempre atentos de Luiz Inácio Lula da Silva (já falo a respeito em outro post). Urge saber em que termos se celebrou o tal acordo.
A Siemens já emitiu uma nota sobre as investigações. É pouco. A essa altura, é evidente que o caso se transformou num instrumento de luta política. Não basta dizer que está colaborando com as investigações. Apontem uma boa razão para que o suposto cartel tenha agido só em São Paulo e Brasília.
Um novo caso Delta?
Não sei, não…
Há um cheiro de novo Caso Delta no ar.
A que me refiro?
Quando estourou o escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira, que liquidou, e por justos motivos, com a carreira do então senador Demóstenes Torres, o PT logo se apresou em criar uma narrativa que atingiria algumas figuras da oposição e a própria imprensa. Armou-se uma CPI.
Passado algum tempinho, eis que se descobriu que Cachoeira tinha duas faces: uma era a do explorador de jogos ilegais — o bicheiro eletrônico —, a outra era a de testa de ferro da Delta no Centro-Oeste.
E a Delta, ora vejam, era a empreiteira que mantinha os maiores contratos com o governo federal e seus aliados.
O escândalo, preparado para promover uma razia nos partidos de oposição e na imprensa, estourou no quintal do PT e do PMDB, na sua versão cabralina. A CPI que prometia dar à luz uma montanha nem mesmo pariu ratos. Preferiu escondê-los e protegê-los.
A pauta da hora é esta: qual é valor dos contratos que a Siemens — e as outras gigantes acusadas de formação de cartel em São Paulo — mantém com o governo federal, em especial com a Eletrobras, e o que o acordo de leniência diz a respeito?
Os chamados ex-executivos que “colaboram” com a investigação foram convidados a apresentar documentos também sobre esses contratos, ou o Cade e o Ministério Público só se interessaram por contratos com São Paulo e com o Distrito Federal?
As democracias fazem valer a lei doa a quem doer.
Os bolivarianos fazem valer a lei apenas para os “inimigos”.13/08/2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
A Siemens é uma das principais fornecedoras da Eletrobras; o que diz o “acordo de leniência” a respeito? Coisa para o jornalismo investigativo, não apenas “vazativo”
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