Pressionados, governantes recuaram do reajuste das passagens após enfrentarem uma onda de protestos
São Paulo - Um dos líderes do Movimento Passe Livre, Matheus Preis, de 19 anos, durante o protesto contra o aumento da tarifa do transporte público - Felipe Frazão
Depois de uma inédita onda de protestos que tomou as ruas do país, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro anunciaram na tarde desta quarta-feira a redução das tarifas de metrô, ônibus e trens, revogando o reajuste em vigor desde o início do mês. Nesta semana, outras quatro capitais - Cuiabá (MT), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e João Pessoa (PB) - também recuaram do reajuste das passagens.
Na capital paulista, as tarifas recuarão de 3,20 centavos para 3 reais a partir de segunda-feira. No Rio, o preço cairá de 2,95 reais para 2,75 reais a partir desta quinta-feira.
O anúncio em São Paulo foi feito em conjunto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo prefeito Fernando Haddad (PT) após uma reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O pronunciamento foi feito simultaneamente à fala do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Todos eles resistiam em recuar, mas acabaram cedendo devido ao crescimento dos protestos - foram seis na capital paulista e três no Rio -, que deixaram um rastro de destruição nas ruas e um custo político de dimensões ainda incertas. Também pesou a avaliação de que novas reivindicações estavam sendo agregadas ao cardápio dos manifestantes - e que as passeatas estavam ganhando adesões a cada dia.
Em pronunciamento conjunto, tanto Alckmin quanto Haddad frisaram que o ajuste dos preços nas catracas causará impacto nos investimentos. “É um sacrifício grande. Vamos ter de cortar investimentos”, disse o governador paulista. “Precisamos abrir a discussão sobre as consequências. O investimento fica comprometido por causa dessa medida”, afirmou o prefeito.
Haddad afirmou que apesar de o aumento das tarifas em São Paulo e no Rio de Janeiro ter sido feito em porcentagem abaixo da inflação, graças a desonerações de tributos negociadas com o governo federal, o recuo visava "favorecer o diálogo com a cidade".
Sintonia - Eduardo Paes e Fernando Haddad estão em contato permanente desde terça-feira. Ao longo desta quarta-feira, os dois conversaram e acertaram a estratégia de divulgação simultânea das revogações dos aumentos. Durante a entrevista na sede da prefeitura, Paes avisou que o governador Sérgio Cabral (PMDB) também determinou a redução de tarifas de transporte urbano.
A suspensão do aumento representa, segundo Paes, impacto de 200 milhões de reais por ano no orçamento do município.
“Venho hoje, depois de refletir muito, e mostrando que os 20 centavos de aumento não foram por desejo do município, anunciar que vamos suspender o aumento", disse Paes. Segundo o prefeito do Rio, o reajuste estava previsto em contrato. "O aumento, concedido dezoito meses depois do último, é fruto de contrato e planilha pública que acontece pela segunda ou terceira vez no Rio de Janeiro e leva em conta o aumento do custo de vida na cidade. Não é algo concedido aleatoriamente”, defendeu.
“Destaco que temos dado muito ouvido àqueles que fazem manifestação colocando seus pontos como devem ser colocados. Jamais daremos ouvidos a quem de utiliza pleitos legítimos para praticar atos de vandalismo e violência. Essas pessoas não sabem conviver em ambiente democrático e de respeito”, disse Paes, marcando posição contra a violência nas manifestações.
Rio - O governo do estado do Rio informou, em nota, que será publicado no Diário Oficial desta quinta-feira a medida que anula os reajustes de trens, barcas e metrô. Voltarão a valer, a partir de sexta-feira, os valores praticados antes do reajuste. O metrô, que havia subido para 3,50 reais, voltará a custar 3,20 reais; os trens recuam de 3,10 reais para 2,90 reais; as barcas, com bilhete único, passam de 3,30 reais para 3,10 reais. Já sem o bilhete único, a travessia de barcas, que havia passado para 4,80 reais, voltará a ser de 4,50 reais.
(Com reportagem de Jean-Philip Struck, Felipe Frazão, João Marcello Erthal e Cecília Ritto)
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