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segunda-feira, 5 de março de 2012

Em nome da renovação, parte da imprensa precisa renovar a pauta



Ou: Três “inteliquituais” independentes (!) comportam-se como “apparatchiki” do PT

                                                  Por Reinaldo Azevedo

O Estadão, ainda que eu nem sempre concorde com o jornal, ainda faz os melhores editoriais da imprensa brasileira. No sábado, por exemplo, publicou um texto impecável sobre as eleições em São Paulo.

A reportagem, no entanto, pode passar por caminhos estranhos.

Prestem atenção!

Na quarta-feira, dia 29, quando ficou claro que José Serra disputaria as prévias do PSDB para se candidatar à Prefeitura de São Paulo, o repórter Gustavo Uribe escreveu uma, vá lá, reportagem no Estadão Online ouvindo um púnico “cientista político”, Carlos Melo, habitual crítico de Serra nas páginas do próprio Estadão. Até aí, tudo bem. Melo veio com uma tese: o PSDB não se renova, enquanto o PT buscaria a renovação com Fernando Haddad. Eu o contestei num vermelho-e-azul parágrafo a parágrafo, com o respeito e o humor habituais. Indaguei, por exemplo (em azul):


Em política, NOVIDADE NÃO É UM FETICHE. Eu indago ao sociólogo e professor Carlos Melo - e espero uma resposta de alcance acadêmico - o que há de NOVO no modo como Lula decidiu quem seria o candidato do PT? O que é “novo”, Melo?


- Atropelar a democracia interna do partido?

- Minar as bases de apoio do nome preferido?

- Massacrar, com o peso de sua liderança nacional, aquela que a maioria dos petistas queria como candidata?

Então tá!

O PSDB pode nem se renovar tanto, mas a reportagem de política do Estadão está esquecendo de inovar a pauta. Eis que abro o jornal nesta segunda e deparo lá com o seguinte título: “Falta de renovação volta à discussão na corrida paulistana”.

De novo???

Um dos ouvidos?

Acreditem!

Melo outra vez!

Com os mesmos argumentos e a mesma falta de explicação — desta feita, no entanto, acompanhado de outros “especialistas”. A única coisa que mudou foi o repóter. A pauta de Gustavo Uribe passou para Fernando Gallo. Bem, lá vou eu. Reproduzo o texto em vermelho e faço a contestação em azul, já a partir do título. Acho que vale a pena ler porque o texto ajuda a compreender o exercício da argumentação.


*
Falta de renovação volta à discussão na corrida paulistana


“Volta à discussão” onde? Só se for na pauta do Estadão. A matéria do dia 29, que se limita a colher a opinião de um só, está sendo reeditada no dia 4. Prestem atenção para o subtítulo do texto, que se chama “linha fina” no jargão jornalístico:
Enquanto PT aposta em novidade na eleição com Haddad, o PSDB deve lançar Serra, nome já conhecido do eleitorado
Fica evidente aí que se trata de uma abordagem simpática ao PT, que teria escolhido a novidade, e crítica ao PSDB, que escolheu o nome conhecido. Assim, toma-se a “novidade” como um categoria superior da política. O fabuloso, no entanto, é que o primeiro parágrafo do texto, como verão abaixo, tenta, vamos dizer, disfarçar a tese “petistófila”. Vamos ver.

A falta de novas lideranças em seus quadros leva o PT e o PSDB a optarem por caminhos distintos na eleição municipal de 2012, avaliam especialistas consultados pelo Estado. Com a entrada do ex-governador José Serra na corrida eleitoral, os tucanos continuam a apresentar desde 1996 os mesmos dois nomes aos eleitores da capital: Serra e o governador Geraldo Alckmin. Os petistas, por sua vez, optam pelo novato Fernando Haddad, que desbancou a senadora Marta Suplicy (PT-SP) depois de três eleições consecutivas.
Perceberam a contradição? O que se quer mesmo é criticar o PSDB. Para que o texto assuma aquela cara “isenta” e, bem…, disfarce o seu propósito — criticar  PSDB —, então se fala da “falta de novas lideranças” nos “‘quadros do PT e do PSDB”. Ocorre que o próprio texto e a linha fina apontam Fernando Haddad como o “novato” — ou “a novidade”.
O PSDB, dizem os analistas, é vítima de uma armadilha: sem um nome alternativo forte, busca o recall alto de Serra, mas adia o processo de renovação, impedindo o surgimento de novas lideranças. “Como vai haver recall de outros nomes se nunca é dado aos mais jovens a oportunidade de aparecer?”, indaga Carlos Melo, professor do Insper.
Isso é ciência política? A tese do “recall”, tratada dessa maneira, com a máxima vênia, ou é desinformação ou é má fé. Digam-me cá: um “recall” será sempre positivo? Ele não pode ser, também, negativo? Ora, o “recall” embute uma avaliação do eleitorado sobre o trabalho feito pelo político! Orestes Quércia, por exemplo, tentou voltar ao primeiro plano da política muitas vezes depois que deixou o governo de São Paulo, mas o “recall”, Carlos Melo, nunca deixou! Sei, sei… Talvez o PSDB devesse ter inovado em 2006 na disputa pelo governo do Estado, não é?, dando o Palácio dos Bandeirantes a Aloizio Mercadante. Melo certamente estaria aplaudindo: “Vejam o PSDB! Perdeu a eleição, mas se renovou!!!” Ou, então, deveria tê-lo feito em 2010. Alckmin diria: “Ah, não, vamos renovar o partido!” E Mercadante ficaria muito grato. E lá iria Melo: “Pô, gente, o governo de São Paulo é besteira quando se pensa na renovação do partido!” É curioso que a tese da “renovação” não tenha aparecido ao longo das cinco disputas presidenciais de Lula! Nunca! Ao contrário: o único que ousou confrontar o Apedeuta uma vez, Cristovam Buarque, foi esmagado.
Política, agora, é “oportunidade de aparecer”? Melo está confundindo essa atividade com show de calouros? Ora, que apareçam na cidade, no Estado e no país no curso normal dos acontecimentos. A eleição não é exatamente o melhor momento de oferecer uma “novidade”. Mas sigamos.
Ele lembra que Serra, em 1996, e Alckmin, em 2000, concorreram nas eleições municipais, e perderam. “Perder não é pecado, é do jogo. Eleições não são feitas só para ganhar, mas para expor um programa, uma alternativa a ser testada. Você não pode ser o dono da fila.”
É verdade. Eles perderam, mas não havia melhores nomes — do ponto de vista da viabilidade eleitoral — para ganhar. Não foi o ânimo da renovação que contou, não. Fez-se o possível para ganhar, mas não deu.
O cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV, avalia que Alckmin não fez pelo deputado Bruno Covas, seu secretário de Meio Ambiente, aquilo que o avô de Bruno, Mário Covas, fez pelo governador ao fomentar sua candidatura à prefeitura em 2000. “O Alckmin é fruto do Covas, que o bancou. Uma liderança pensa no futuro”, alfineta. “Pode ser que Bruno, que foi o deputado estadual mais votado e tem sobrenome forte, perdesse a eleição, mas chegaria a 15% ou 20 % dos votos e seria um PSDB novo.”
Abrucio é capaz de dizer grandes bobagens com o ar solene de quem dá Minerva à luz. E se dedica, nesse caso, à tentativa de criar intriga no tucanato. Vamos pensar um pouquinho sobre sua magistral tese. Em primeiro lugar, note-se que Abrucio é tão partidário da tese da renovação, mas tão partidário — e está tomado de tal ímpeto republicano — que acredita que o neto é herdeiro do que considera a fidelidade devida por Ackmin ao avô do outro! É um troço espantoso! A tese ficaria bem numa Teoria Geral da Aristocracia Política do Segundo Reinado.
Mas não é só isso. Vai implícita na avaliação de Abrucio, este incansável militante da renovação política, a consideração de que o governador Alckmin, em nome da modernização, deveria ter feito como Lula: “O candidato é Bruno Covas! Acabou!” Abrucio se mostra um fanático do cesarismo lulista, que mandou o PT de São Paulo às favas e indicou o candidato no dedaço.
Ainda não terminei. Quando Covas fez Alckmin candidato à Prefeitura, este era mesmo a melhor opção — qual seria a outra? Não foi por boniteza, foi por necessidade. Abrucio é um verdadeiro poeta da derrota tucana: “Pode ser que Bruno, que foi o deputado estadual mais votado e tem sobrenome forte, perdesse a eleição, mas chegaria a 15% ou 20 % dos votos e seria um PSDB novo.”
Entendi: com um PT que exerce uma hegemonia avassaladora no Brasil, Abrucio acha que o PSDB deveria escolher conscientemente a derrota em São Paulo, o seu principal esteio político. MAS COM RENOVAÇÃO!
Trata-se de uma revolução do pensamento político como não se via desde Maquiavel. O objetivo do Príncipe (o da oposição, se isso fosse possível…) seria a renovação, não o poder. O “poder”, aquele, passaria a ser monopólio do Moderno Príncipe: o PT! Trata-se de uma soma fabulosa de bobagens, sem teoria política que as justifique além do achismo. É certo que Melo e Abrucio, “cientistas políticos” que são, podem me surpreender com uma bibliografia que eu não conheça. Sou todo ouvidos e olhos para aprender. Eu adoro aprender coisas novas. Cadê a bibliografia?
Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, vê a falta de base partidária como impeditivo à renovação no tucanato. “O PSDB tem ligação precária com a sociedade e um problema grave de reprodução. Não cresce nem se renova porque não é oxigenado pela sociedade”, destaca.
Huuummm… Este, ao menos, não tenta disfarçar… Partido, agora, tem de seguir necessariamente o modelo petista, que aparelha sindicatos, movimentos sociais, até batizado e enterro. Nem parece ser este o partido que governou o país por oito anos, chefia o Executivo em oito estados — mais da metade do PIB — e teve mais de 40 milhões de votos na eleição presidencial passada.
- Partido “de base” é aquele em que Lula diz cinco vezes: “O candidato sou eu”.
- Partido “de base” é aquele em que Lula diz: “A candidata será a Dilma”.
- Partido “de base” é aquele em que Lula diz: “O candidato será Fernando Haddad”.
- Partido “de base” é aquele em que Lula diz: “Nossa candidata no Maranhão é a Roseana” - notória política “de bases” naquele estado.
É uma vergonha que essa gente toda fale em nome da “ciência política” fazendo proselitismo partidário, senão explícito, implícito ao menos. Não é mera coincidência o fato de que a sua “recomendação” ao tucanato resultaria na entrega de São Paulo aos petistas SEM NEM AO MENOS RESISTÊNCIA. Atenção que agora vem um arremedo de crítica ao PT
PT
No caso petista, além do envelhecimento e do desgaste de alguns líderes como Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante, houve dirigentes abatidos pela crise do mensalão. “Envelheceram e não é apenas de idade, envelheceram politicamente. O José Dirceu é mais novo que o Serra, mas não tem a mesma força de antes”, diz Abrucio.
Ah… Como é mesmo? A hipocrisia é o tributo que o vício presta à virtude! “Zé Dirceu”??? “Mesma força de antes”??? Desde quando Dirceu é um político que mobiliza massas? Aliás, o PT resiste tanto em se renovar que esse aí jamais deixou de ser um chefão de uma ala do partido. Todos os mensaleiros voltaram. Para renovar!
Mesmo com um nome novo na disputa, o PT não escapa das críticas, dirigidas a escolha de Haddad pelo dedaço do ex-presidente Lula, segunda etapa de um processo de renovação nacional do partido, iniciado em 2010 com a escolha de Dilma.
Vejam que coisa estupefaciente!!! Releiam! A escolha de Haddad seria a “segunda etapa” de um “processo de renovação iniciado com a escolha de Dilma”. O único senão é que se fez com o “dedaço” de Lula!!! Ah, que pena!

“Não é uma renovação natural, de políticos que surgiram na base, foram vereadores, deputados.” Segundo ele, a renovação foi “contingencial”, uma necessidade do projeto nacional de Lula. “O Lula enfrentou uma queda de braço com setores do PT e ganhou. Por isso ocorre a renovação.” Para Abrucio, os nomes foram tirados da burocracia de governo. “Não é necessariamente ruim, embora fosse melhor que nascessem nos partidos. Mas a vida partidária está frágil.”
Ou seja, no fim das contas, o “dedaço” de Lula foi positivo; o partido não queria isso que chamam “renovação”, mas o coronel foi lá e botou o porrete na mesa.
A isso alguns chamam “ciência política”. Nem o stalinismo produziu justificadores dessa qualidade. Stálin era muito menos burro do que a propaganda trostskista anunciava e exigia bons argumentadores. E notem a confusão: um pensador acha que o PT se renova por causa das “bases” - mas o dedaço de Lula desautoriza a tese; o outro acha que o partido “se renova” justamente por causa do “dedaço”, o que, olhem que fabuloso!, IGNORA A VONTADE das tais “bases”, exaltadas pelo primeiro pensador.
Em qualquer dos casos, o PT sempre sai por acima na análise, e ruim mesmo é o PSDB. Este partido, como querem os três, deveria escolher de saída a derrota eleitoral para demonstrar que aposta, sim, na renovação. Enquanto isso, o PT vai sendo dirigido pela vontade olímpica de Lula, mas com muito “movimento social”.
Sinto, ao ler essas coisas, aquela tal vergonha alheia… Isso não é ciência política porcaria nenhuma! Isso é só voz dos apparatchiki do petismo (no plural, é com “i” no fim da palavra).
Em tempo: nada de ficar falando mal de mim por aí, que isso é coisa de gente fofoqueira, alguém sempre me conta, e seu fico, invariavelmente, com preugiça. Acima, eu estou desconstruindo argumentos e apresentando outros. Havendo melhores do que os meus, eu os ouço e os leio com atenção! “Ah, vê lá se a gente vai debater com esse Reinaldo…” Huuummm… Pena! Eu debato até com o capeta se me der vontade.
Mas uma obrigação  os professores, que são “cientistas políticos”, têm: apresentar  a bibliografia. Não para mim, mas para seus alunos. Eu acho que “cientista político”, em certos casos, tem de ser como médico, físico ou engenheiro: se tem uma tese contramajoritária, precisa apresentar as referências técnicas. Imaginem em sala: “Mas professor, quais são as balizas desse pensamento?” Reposta possível: “Eu!” Pode ser? Pode até ser! Mas então é preciso escrever a obra. Aguardo ansioso. Ou vou considerar isso tudo mero proselitismo petista, disfarçado de ciência política e vazado como jornalismo.

“E você, que já disse que vai votar no Serra?”

 É verdade!

Eu já disse!

Mas eu, ao menos, disse, né?

Não escondo isso de ninguém.

E a diferença não é só essa: eu não tento trasnformar as minhas opiniões em “ciência”.

E tenho a humildade de argumentar COM FATOS!
05/03/2012


às 18:58

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