Por Reinaldo Azevedo
Daqui a pouco, Dilma Rousseff estará no programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga, na Globo. Dentro de alguns dias, estará com Hebe Camargo, da Rede TV. Quando a maioria de vocês ler este post, o bate-papo já terá ido ao ar. Sou notívago, varo madrugadas, mas tenho limites. Vejo depois na Internet. A apresentadora promete “muita emoção”. Dilma falará sobre questões de governo, problemas do Brasil, desafios etc, mas o “gancho” é o “Dia Internacional da Mulher”, que se comemora na terça que vem. O papo deve ter seu lado Maricota, mas uma Maricota liberada, pós-machismo e pós-feminismo.
Será uma operação bem-sucedida. Ana Maria é muito simpática, e Dilma aprendeu bastante sobre TV. Ninguém toma café com a apresentadora para ser posto contra a parede. Nem faria sentido. Não será Ana Maria a fazer o que não faz boa parte do jornalismo, certo?
A “entrevista” já faz parte de uma nova fase do plano de marketing. Não estou dizendo que as coisas foram assim planejadas, mas assim estão se mostrando:
1 - Na fase um, Dilma não podia existir para que pudesse ter existência; sua única chance de se eleger estava em provar que não tinha vontade própria. Como o Apedeuta deixou claro, o nome “Dilma”, na urna eletrônica, queria dizer “Lula”. Funcionou.
2 - Na fase dois, Dilma tinha de começar a provar que existia. Para tanto, era preciso marcar a diferença com o antecessor. Em dois temas sensíveis, fez-nos vislumbrar outra orientação — “controle da mídia” e política externa —, mas a diferença maior foi mesmo de estilo. Se Lula era falastrão, ela é silenciosa; se Lula era um provocador permanente, ela flerta com alguma forma de conciliação; se Lula “não sai da mídia”, assumindo o papel de animador político da máquina do governo, ela optou pelo perfil da gerente — bastante explorado na campanha eleitoral, é verdade.
3 - A fase três, agora, é a da popularização da “Dilma por Dilma”, não mais a “Dilma por Lula”. Não será ele a dizer o que acha dela, mas ela a falar de e por si mesma. Nesse sentido, o gancho do Dia Internacional da Mulher é perfeito. Eis, afinal de contas, um papel que o Apedeuta não pode assumir: o de mulher! E a melhor maneira de tratar desse assunto, é claro, não é se reunindo com Marilena Chaui, Olgária Matos, Maria Victória Benevides e Rose Marie Muraro. Ana Maria Braga e Hebe Camargo são mais eficientes.
Necessidade
O governo já decidiu aumentar o valor do Bolsa Família. Isso tem um apelo importante para parte considerável do eleitorado petista, mas é pouco. Analistas os mais sensatos desconfiam que a situação fiscal do governo é pior do que parece e que a inflação vai incomodar por um bom tempo. E isso num cenário de crescimento menor. O corte no Orçamento, ainda que não se cumpra na dimensão desejada pelo governo, acena para um tempo de euforia menor. Será preciso, pois, aumentar a interlocução, estar mais presente, mobilizar mais os brasileiros.
Lula fazia isso com os pés nas costas, vociferando contra seus inimigos imaginários, internos e externos. Aquela performance, não tem jeito, Dilma não conseguiria reproduzir ou mesmo imitar sem que parecesse ridícula. Não dá para imaginá-la suarenta, sobre um palanque, olhos injetados, fazendo poesia sobre a mãe que nasceu analfabeta… Boa parte do discurso lulista, aliás, era, de fato, de um ridículo atroz, mas a inimputabilidade que conquistou lhe permitiu ir adiante. Permitiu, inclusive, que metesse a economia nessa razoável encalacrada — o que fez, segundo tanto se anunciou, em parceria com Dilma Rousseff.
Dilma cortou, sim, os gastos sociais e as obras do PAC — ao menos em relação ao que ia no Orçamento —, mas gente muito boa desconfia da eficácia da ação para desacelerar a economia e conter a inflação, o que deve chamar ao debate o Banco Central, que talvez tenha de controlar pela via monetária o que o governo não conseguirá fazer pela via fiscal. A razão é simples: a porrada de R$ 50 bilhões agora só esconde a continuada irresponsabilidade dos dois últimos anos. O que a estabilidade econômica ensinou — inclusive aos seis primeiros anos de governo Lula — é que disciplina fiscal é obra continuada.
Mais: o corte se dá sobre um estoque fabuloso de promessas. O Minha Casa, Minha Vida levou um facão de 40%. Atenção! Dilma tem ainda 2,8 milhões de casas para entregar até 2014. É claro que ela não vai cumprir a promessa. Também garantiu a construção de 5 mil creches. Não! Ela não vai conseguir. As UPAs eram mil; ela já deixou por 500, que também não serão feitas.
Uma coisa é não cumprir promessas — e Lula as descumpriu às pencas — num cenário de inflação baixa, juros moderados e crescimento de 7%; outra, um tantinho diferente, é descumpri-las com juros altos, pressão inflacionária e crescimento de 4%, 4,5% — sim, é um bom crescimento. Mas a euforia mesmo começa ali pelos 6%…
Dilma tem de encontrar um modo, adequado a seu perfil mais tímido, de cair nos braços do povo, de mobilizá-lo. O período da euforia acabou. Se estruturada, a oposição estaria com uma baita agenda pela frente, dada de bandeja pela bagunça fiscal de 2009 e 2010. Mas esse terreno ainda parece uma vasta solidão. Dilma precisa cair nos braços do povo porque um espectro ronda o governo.
Alguns dos auxiliares da presidente o chamam de “O Barba”.
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