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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Para a tribo de Dilma e Chávez, só existe um crime imperdoável: perder o poder





Por Augusto Nunes

Em 18 de setembro de 2010, a
coluna exibiu pela primeira vez o vídeo em que o venezuelano Hugo Chávez registra o carinho e a admiração que nutre pela presidente do Brasil.

“Dilma Rousseff, uma grande companheira, uma grande patriota sul-americana”, derrama-se o chefe da revolução bolivariana no meio da discurseira reproduzida na seção História em Imagens.

“Eu a conheci em uma reunião. O que me impressionou foi sua claridade do conceito de sua profundidade”, completou, caprichando no sotaque de milongueiro apaixonado e no olhar 171.

Em junho de 2011, depois de um encontro reservado em Brasília, Hugo e Dilma mantiveram em segredo o que haviam dito um ao outro.

Como artistas de cinema de antigamente na fase dos arrulhos, limitaram-se a informar que eram apenas bons amigos. “Ninguém sabe se ainda é só amizade ou se já virou namoro”, conformou-se o post sobre o diálogo misterioso.

É algo bem maior que ambas as hipóteses, esclareceu há dias o apoio escancarado do Planalto à vigarice que pretende estuprar a Constituição venezuelana para substituir uma democracia em frangalhos pela monarquia à cucaracha.

Se o mandato de Chávez for estendido por prazo indeterminado, como tramam os golpistas , o trono mudará de dono só depois da morte do rei Hugo I. (Isso se a oposição conseguir provar que é impossível comandar do Além um grotão sul-americano).

“Todos sabem do apreço que o governo brasileiro tem pelo presidente Chávez”, recitou Marco Aurélio Garcia, uma boca que à espera de um dentista e, desde 2003, conselheiro presidencial para complicações internacionais.

É verdade.

Em 2009, por exemplo, García comunicou ao mundo que no reino do companheiro Chávez “existe democracia até demais”.

Mas o “governo brasileiro” a que se referiu, visto de perto, é o mais recente codinome de Dilma Rousseff.

Foi Dilma quem resolveu, entre um pito no salva-vidas mais próximo e um passeio de lancha no litoral da Bahia, que Garcia deveria interromper as férias no México, baixar em Cuba e descobrir se o parceiro hospitalizado está mais próximo de um telegrama com palavras de estímulo ou de um convite para o desfile na Sapucaí.

Foi Dilma quem ordenou ao teórico da política externa da safadeza que deixasse as coisas bem claras: no peito da gerente durona bate um coração exigente e seletivo. Nele não há lugar para outro governante venezuelano que não se chame Hugo Chávez.

Para afagar um farsante de picadeiro, a presidente mandou às favas as leis venezuelanas, as normas que regem o convívio internacional, a soberania das nações, a lógica, o bom senso e o respeito aos que têm mais de cinco neurônios na cabeça.

Para homenagear um bolívar-de-hospício, a doutora em nada envergonhou o Brasil.

De qualquer forma, o episódio revelou que o que une a dupla Dilma e Chávez vai muito além da amizade e é mais forte que qualquer namoro.

Os dois são comparsas nascidos e criados na mesma tribo.

Para seus integrantes, todos os pecados são permitidos, com uma solitária exceção.

Só é crime perder o poder.
10/01/2013

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