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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A apuração se impõe



Opinião do Estadão


Imagem: Abobado
Embora nada contenham de realmente novo, são graves demais para não serem rigorosamente investigadas as denúncias do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza sobre o envolvimento pessoal do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o mensalão.

Como revelou anteontem este jornal, em 24 de setembro passado o operador do esquema, condenado na antevéspera pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas antes de ser apenado a 40 anos de prisão, procurou a Procuradoria-Geral da República para acusar Lula de praticamente tudo de que ele já foi acusado desde que o ex-guerrilheiro e fundador do PT Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido por ter revelado, de público, o método petista de governar visando, a qualquer preço, à maior permanência possível no poder e à ampliação máxima da esfera do governo.

De novo, realmente, apenas as despesas pessoais de Lula bancadas por dinheiro sujo do PT.

Além disso, no depoimento que se estende por 13 páginas, Valério fez ainda diversas outras afirmações, entre elas a de que Paulo Okamotto, amigo próximo de Lula e atual diretor do instituto que leva o seu nome, o teria ameaçado de morte se não se "comportasse".

Em Paris, onde foi colhido pela notícia, Lula se limitou a dizer que é tudo "mentira". Para a presidente Dilma Rousseff, trata-se de uma "lamentável" tentativa de destituir o antecessor da "imensa carga de respeito" do povo brasileiro por ele.

O presidente petista, Rui Falcão, declarou que "a mídia e o Ministério Público não deveriam dar crédito a alguém que, condenado, tenta reduzir suas penas caluniando o PT". Aqui e ali, talvez para fomentar uma conveniente confusão, se disse que o Estado "denunciou" Lula.

O que o jornal fez foi apenas noticiar com apropriado destaque as denúncias de Valério.

A desqualificação do denunciante, por sua vez, visa claramente a impedir que as suas imputações sejam apuradas.

O que conta, como também é óbvio, não são os motivos que o levaram a falar aos procuradores, mas o que possa haver de verdadeiro nas suas palavras.

A título algum, portanto, podem ser descartadas de antemão, por ser o que é quem as proferiu. Assim se manifestaram o presidente do STF, Joaquim Barbosa (que teve acesso "oficiosamente" ao texto), e dois de seus pares, os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, ao defender que Lula seja investigado. A decisão cabe ao procurador-geral Roberto Gurgel.

Ele vai esperar o término do julgamento do mensalão, na próxima semana, para resolver se tomará a si a incumbência ou se a encaminhará a uma instância inferior do organismo, dado que Lula, ex-presidente, não goza de foro privilegiado.

Estará decepcionando quem passou a admirá-lo pela atuação que teve no caso do mensalão, se decidir pelo arquivamento das denúncias. Pressões nesse sentido não faltarão.

No julgamento do mensalão, Dilma instruiu a sua equipe a não se manifestar — o assunto, argumentou, não envolvia o seu governo.

Desta vez, porém, fez saber que o Planalto se engajará na blindagem de Lula, desacreditando aquele que, pela primeira vez — e com presumível conhecimento de causa — apontou o dedo para o antecessor.

A base aliada não perdeu tempo em fazer a sua parte, a começar do titular do Senado, José Sarney. Quando esteve no pelourinho por irregularidades na Casa, anos atrás, Lula disse que ele não poderia ser tratado como "uma pessoa comum".

Sarney acaba de retribuir a barretada, alçando Lula à condição de "patrimônio do País". Bons democratas que são, cada qual, portanto, considera o outro invulnerável por definição.

A rigor, foi o que o ex-presidente vinha conseguindo, ao se manter no vestíbulo dos escândalos que inundavam a copa e a cozinha de seu governo e as dependências em geral de seu partido.

A mágica, ao que tudo indica, parou de funcionar. Algo realmente novo e mais grave do que tudo que se sabia até agora surgiu há cerca de três semanas, quando a Polícia Federal expôs os malfeitos da namorada de Lula, Rosemary Noronha, na chefia do escritório da Presidência da República em São Paulo, em que ele a colocou.

Agora vem Marcos Valério pôr em xeque mais uma vez o alegado alheamento de Lula das enormidades que os seus principais companheiros cometiam em benefício do governo petista.

Essa história está apenas começando.
13 dezembro, 2012

1 comentários:

Anônimo disse...

Delmiro Gouveia
Antonio Mexia, ex-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações de Portugal, disse numa entrevista para o jornal Expresso, publicada em 16 de julho de 2005, que recebeu o empresário brasileiro Marcos Valério em janeiro de 2005 como “consultor do Presidente do Brasil”, a pedido de Miguel Horta e Costa, presidente da Portugal Telecom.
site: Tribuna da Imprensa