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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Nova pesquisa dá pequena vantagem a Obama. Ou: Como votam os EUA nos últimos 40 anos. Ou ainda: O que é o que não é legitimo na democracia




Presidente norte-americano, Barack Obama (D), e o candidato republicano Mitt Romney cumprimentam-se no início do último debate presidencial na Lynn University em Boca Raton, Flórida. Obama e Romney farão uma corrida frenética por uma série de Estados decisivos nesta segunda-feira, apresentando os argumentos finais aos eleitores no último dia de uma disputa extremamente acirrada pela Casa Branca. 22/10/2012 REUTERS/Kevin Lamarque


Por Reinaldo Azevedo

Pesquisa Reuters/Ipsos divulgada nesta segunda aponta uma vitória do democrata Barack Obama sobre o republicano Mitt Romney por 48% a 46% nos votos totais na eleição desta terça. Foram ouvidos 4.725 eleitores em todo o país, e a margem de erro é de 3,4 pontos para mais ou para menos. Logo, trata-se de um… empate. O cenário lembra mesmo a primeira eleição de George W. Bush, em 2000, embora dificilmente se repita placar tão apertado: o republicano acabou obtendo 271 votos no colégio, contra 267 do adversário democrata, Al Gore, que conquistou mais eleitores nos votos totais do que aquele que se fez presidente. Em 2004, contra John Kerry, o resultado foi um pouco mais folgado: 286 a 252.

Em 2008, Barack Obama conseguiu, no colégio, uma vitória expressiva contra John McCain: 365 a 173, mas sem superar o também democrata Bill Clinton: em 1992, 370 contra 168 de Bush pai e, em 1996, 379 a 159 contra Bob Dole. Outro democrata que governou os EUA nos últimos 40 anos, Jimmy Carter, não obteve marca expressiva: 297 a 240 no confronto com o atrapalhado Gerald Ford, que tivera a má sorte de suceder Nixon. Em matéria de massacre eleitoral, os republicanos é que levam vantagem nas últimas quatro décadas.

Em 1972, Richard Nixon venceu em todos os estados americanos, exceção feita a Massachusetts, que deu os únicos 17 votos ao democrata McGovern — morto, aliás, aos 90 anos no dia 21 do mês passado. Nixon levou 520 votos. Ainda não seria essa a maior lavada. Em 1984, Ronald Reagan obteve 525 votos. Os 13 de Walter Mondale saíram doo único estado em que venceu: Minnesota. Na sua primeira eleição, em 1980, Reagan já lograra contra Carter vitória esmagadora: 489 a 49 — ou 44 estados. Em 1988, Bush pai venceu Michael Dukakis por expressivos 426 votos a 111.

De novo, viva a democracia!
Vejam, então, que sociedade notável! Nos últimos 40 anos, os EUA já foram governados por quatro republicanos — Nixon-Ford (1973-1976); Reagan (1981-1988); Bush pai (1989-1992) e Bush Filho (2001 a 2008). São seis mandatos do partido. Ao todo, 24 anos. Tiveram três democratas: Carter (1977-1980); Bill Clinton (1993-2000) e Barack Obama (2009-2012) — um total de 16 anos. Se o democrata vencer — é a aposta majoritária —, os 16 se farão 20 até 2016, encostando na marca republicana.

Quando os republicanos esmagaram os democratas no colégio eleitoral, nem por isso esse partido ousou declinar de seu papel. Depois de dois mandatos de Reagan, tornado um mito nos EUA, fazendo seu sucessor, apareceu a notável figura de Bill Clinton. Não fez o sucessor como Reagan, é fato. Mas lá estavam os democratas com um candidato viável depois dos dois mandatos de Bush filho. Cada partido cumpriu, em suma, rigorosamente o seu papel. Fazer oposição é coisa distinta de sabotar o país — o que só é possível se um partido estimula que leis democraticamente instituídas sejam atropeladas.

A literatura sobre o declínio do império americano é vastíssima — e também muito chata. Uma coisa é certa: enquanto as instituições vigerem plenamente, valores como o direito à oposição, a alternância no poder e respeito às leis estarão assegurados. São fundamentos da democracia. Censuro em Obama — especialmente nos obamistas e no obamismo (os deles e os nossos, porque os há às pencas por aqui também — certa propensão à deslegitimação do outro, à oposição, à divergência. Veio a público ontem uma pesquisa (material reproduzido, claro!, por nossa imprensa nesta segunda) atestando que a eleição de Obama, em 2008, teria causado uma elevação do racismo nos EUA, especialmente, ora vejam!, no eleitorado… republicano!

Trata-se de uma armadilha intelectual, eivada de absurdos lógicos. A prova maior de que os EUA não votaram levando em conta a raça — os negros são 13% da população americana apenas — é a própria eleição de Obama. Mas isso teria tornado as pessoas, na média, mais… racistas! Assim, a única maneira de demonstrar o contrário seria, mais uma vez, eleger Obama — o que valeria até mesmo para o eleitorado… republicano! Mais: como Obama é negro, só se poderia recusar o seu nome na urna por… razões raciais.

Não é um jeito honesto de fazer política.

Dado o conjunto da obra, torço, sim, pela vitória de Romney, embora saiba que o mais provável seja a vitória de Obama. Lá, aqui e em qualquer lugar, ganhar e perder têm de fazer parte do jogo.
*
PS - Ah, sim: os nossos intelectuais não gostam dos EUA e amam Cuba. Desde 1959, quando Fidel Castro chegou ao poder, os EUA já tiveram 14 mandatos presidenciais (incluindo o de Dwight Eisenhower, em curso quando se deu o golpe comunista na ilha) e 11 presidentes. Querem um tiranete mais recente? Desde 1998, quando se deu a ascensão de Hugo Chávez na Venezuela, também muito apreciado por nossos delinquentes da democracia, já se assistiram a quatro mandatos presidenciais nos EUA, com três presidentes distintos. No entanto, na ONU, Dilma resolveu puxar o saco de Cuba e dar um puxão de orelha nos americanos…

05/11/2012



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