Marcos Valério quer falar o que sabe sobre o mensalão.
É certo que ainda há muito a revelar para esclarecer a fundo o maior escândalo de corrupção da história política do país. Não passa um dia sem que novas ramificações surjam.
Até por esta razão, as autoridades deveriam voltar a ouvir o principal operador do esquema; ele deve ter muita coisa para contar e o PT muita coisa a temer.
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que, em setembro, Valério propôs a chamada delação premiada, ou seja, a possibilidade de colaborar com a Justiça em troca de benefícios, conforme revelara a revista Veja neste fim de semana.
O operador do mensalão também pediu inclusão no programa de proteção a testemunhas, por se considerar sob risco de morte. Deveria ter suas solicitações acatadas.
Valério agora falaria como quem já foi condenado pelo Supremo a 40 anos, um mês e seis dias de cadeia por crimes como corrupção, peculato e formação de quadrilha.
Isso significa que, provavelmente, não teria mais nada a perder e poderia abrir a boca que acertos de outrora com o PT mantiveram convenientemente fechada até agora.
Quem deve estar mais apreensivo é Luiz Inácio Lula da Silva.
Em setembro, a Veja publicou que Valério teria dito que seu silêncio poupara o ex-presidente do desgosto de ter que se sentar no banco dos réus da mais alta corte de Justiça do país.
Ele também teria revelado que o mensalão movimentou cifra bem maior do que a conhecida até agora: R$ 350 milhões ou quase três vezes mais do que já se provou até aqui.
Não é só Valério que diz que está faltando Lula na lista dos processados pela Procuradoria-Geral da República e condenados pelo STF.
Até a ex-mulher do mensaleiro-mor, José Dirceu, não tem a menor dúvida disso: "Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas?", afirma Clara Becker em entrevista publicada hoje por O Estado de S.Paulo.
Lula já classificou estas insinuações como "golpe", sem explicar, porém, como alguém que já não ocupa qualquer cargo público pode ser alvo de destituições de qualquer natureza.
O que se sabe é que o que ainda não foi revelado teria, isto sim, sido capaz de implodir o governo do petista.
Vindo à luz agora, poderia pelo menos ajudar a passar a limpo este nefasto capítulo da história do país.
Deve ser por isso que o PT tem se apressado em tentar varrer, o mais rápido possível, a sujeira do mensalão para debaixo do tapete.
O partido dos mensaleiros faz isso de maneiras mais ou menos ofensivas.
Algumas delas são seus panfletários e ocos manifestos, que, com suas teses conspiratórias, só servem para insuflar a militância e tornar ainda mais ridículo o petismo - promete-se a divulgação de mais um papelucho nesta quinta-feira...
Mas há ações objetivas e de maior gravidade, sempre no sentido de reforçar a conivência do PT com os malfeitos.
O partido dos mensaleiros informou ontem que não irá expulsar seus filiados condenados pelo STF, contrariando o que prevê seu estatuto. Mais que isso, também irá dar carta branca para que um deles, José Genoino, considerado culpado por corrupção e formação de quadrilha, tome posse como suplente na Câmara dos Deputados. É a velha leniência de sempre.
Mas, enquanto o PT se omite, os órgãos competentes seguem fazendo sua parte, ampliando as investigações e buscando as ramificações do mensalão.
A Folha de S.Paulo revela hoje que ex-dirigentes do Banco do Brasil e da Visanet tiveram a quebra de sigilo bancário determinada pela Justiça.
É dali que saiu a grossa dinheirama desviada dos cofres públicos pelo PT para irrigar o bolso de parlamentares comprados no Congresso.
Por conta destas tenebrosas transações, Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do BB, já foi condenado pelo Supremo.
É fácil perceber que ainda há muito do escândalo do mensalão a ser investigado e punido. O julgamento não pode parar na imputação das penas aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Todas as evidências sugerem que gente graúda acabou fora das investigações, mas a cada dia surgem novas revelações a recomendar novas apurações.
Ouçamos o que Marcos Valério tem a dizer.
Só quem deve teme.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela31/10/2012
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Fala, Valério!
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