Ainda bem que há na CPI do Cachoeira alguém como o deputado Miro Teixeira, que tem o bom senso de achar que é preciso correr atrás do que foi desviado, e que pela primeira vez isso vai ser feito.
"Creio que perseguir o caminho do dinheiro e retomá-lo vai ser inédito", ele diz.
"Follow the Money" foi o famoso conselho que os repórteres americanos Bob Woodward e Carl Bernstein ouviram de sua fonte, o Garganta Profunda, e graças ao qual desvendaram o escândalo de Watergate, que levou o então presidente Richard Nixon à renúncia da Presidência dos EUA nos anos 70.
A estratégia pode servir aqui também. Descobrir o destino do dinheiro ajuda na investigação, e reavê-lo é fundamental como punição, porque o corrupto não tem medo nem do vexame nem da execração pública, nem mesmo da prisão, quando raramente isso acontece.
E ele não trocaria alguns anos de liberdade pelo enriquecimento pelo resto da vida?
Não passaria dois ou três anos na cadeia, se tanto, em troca de alguns milhões de reais?
Sem falar nos que saem da cena política por algum tempo para voltarem eleitos pelo voto popular.
Portanto, o que o corrupto mais teme é perder o que roubou.
Sabe-se — não apenas por impressão, mas até por pesquisa — que é muito baixa a probabilidade de um servidor público ser preso e de ter que devolver os bens e valores desviados.
Um levantamento feito por dois pesquisadores de Brasília mostrou que menos de 5% dos envolvidos são punidos. Das 441 demissões por corrupção ocorridas no governo federal num período de 12 anos, os professores Gico Junior e Carlos Higino Ribeiro de Alencar constataram que apenas 107 sofreram ação de improbidade na Justiça; desses, somente 14 foram penalizados, ou seja, 3,17% do total.
Miro Teixeira está confiante de que nenhum inocente será perseguido e de que "quem for culpado vai pagar".
A composição da CPI não chega a alimentar inteiramente esse otimismo. Há, porém, o fato de que essa CPI começa por onde outras terminaram, já com o inquérito criminal feito pelo Ministério Público.
Pode-se acrescentar que outra novidade é que desta vez não há apenas corruptos, mas um corruptor explícito.
Quem sabe o desfecho não será também inédito, como previsto pelo deputado, com a retomada do dinheiro repassado às empresas fantasmas de Cachoeira, através da Delta de Cavendish?
Como diz Ancelmo, vamos torcer, vamos cobrar.
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