Comentário
Pobre Dilma.
Vista de longe parece que manda com mão de ferro nos seus ministros, no partido que poderia chamar de seu e nos outros que a apoiam.
Vista de perto não é assim.
Por Ricardo Noblat
Tem uma pessoa que, bem ou mal de saúde, manda mais do que ela.
Pior: que lhe dá ordens quando quer.
E a quem Dilma obedece por lhe dever favores.
Você sabe quem é...
Aprovada por 77% dos brasileiros, tudo estava ótimo para Dilma até aqui. Desde que a economia não desandasse...
Os partidos reclamavam dos seus maus modos, mas não tinham o que fazer. Ministros tremiam à sua passagem, mas tocavam a vida.
O Congresso estava relativamente em paz – salvo uma marolinha ou outra, o que é natural.
Até que...
Até que Lula se recuperou do câncer na laringe e resolveu mostrar uma vez mais quem é que manda de fato.
Reunido há duas semanas em São Paulo com José Dirceu, Lula estava mais furioso com o noticiário político do que o seu ex-ministro da Casa Civil e coordenador da campanha que o levou em 2002 a se eleger presidente da República pela primeira vez.
Foi durante a reunião que nasceu a ideia de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as bandidagens cometidas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e quem mais tenha se relacionado com eles.
Lula resgatava ali compromisso assumido com Dirceu em novembro de 2010: ao deixar o governo, batalharia para desmontar “a farsa do mensalão”.
Rui Falcão, presidente do PT, foi orientado a reunir os ministros do partido para ouvi-los a respeito da CPI. Dilma estava viajando. Os ministros aprovaram a idéia da CPI.
A Polícia Federal colecionava material contra a gang de Cachoeira desde 2009.
A parte do material que envolvia Demóstenes foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro Ricardo Lewandowski, indicado para relator do caso, negou-se a repassá-la ao Conselho de Ética do Senado, onde Demóstenes será julgado por quebra de decoro.
Uma CPI tem poderes para requisitar o material.
Lula e Dirceu viram na CPI do Cachoeira a oportunidade de extrair uma série de vantagens políticas.
A principal: o barulho político provocado por ela deverá impedir o julgamento do Caso do Mensalão pelo STF ainda neste semestre.
Se de fato o julgamento dos 38 acusados ficar para o segundo semestre, dê como certo que ele só ocorrerá no final de 2013.
Em dezembro último, o ministro Joaquim Barbosa entregou 122 páginas com um resumo do processo do mensalão ao colega Lewandowski, encarregado de revisá-lo. Sem que Lewandowski dê a revisão por terminada, não haverá julgamento.
Há 20 dias, em conversa com um amigo, o ministro antecipou que dificilmente concluirá seu trabalho antes do recesso da Justiça, em julho.
No segundo semestre, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá sessões diárias por conta das eleições de outubro próximo. Seis dos 11 ministros do STF fazem parte do TSE – três como titulares e três como suplentes. Estarão sobrecarregados.
Cezar Peluzo se aposentará compulsoriamente em três de setembro ao completar 70 anos de idade. Em novembro será a vez de Carlos Ayres Brito, presidente do STF a partir desta semana.
Digamos que Dilma leve de quatro a cinco meses para preencher as vagas de Peluzo e de Ayres Brito.
Nada mais razoável que os novos ministros precisarem também de quatro a cinco meses para estudar os 233 volumes do processo e mais os 495 anexos, num total de 50.118 páginas.
Calcularam? Estamos no segundo semestre do próximo ano. Alguns crimes, a depender das penas, estarão prescritos.
Lula quer a cabeça de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, suspeito de tenebrosas transações com Cachoeira. Em 2005, Marconi revelou que alertara Lula para o esquema do mensalão.
Lula não perdoa Marconi por isso. Em troca, e sem verter uma lágrima, entregará a cabeça de Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, enrolado com Cachoeira e problemas domésticos.
Está pouco se lixando para a Delta, empreiteira das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, que anda devagar. E de obras em nove de dez Estados.
Se a Delta for para o vinagre, que vá pelo que fez ou deixou de fazer nos Estados - principalmente no Rio de Janeiro.
Oposição ama CPIs – governos, não.
Dilma está empenhada em abortar a CPI de Lula.
Com delicadeza.
O deputado baiano ACM Neto, do DEM, foi visto na semana passada desfilando sorridente no Congresso. Media quase dois metros.
16 de abril de 2012
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