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terça-feira, 27 de março de 2012

Demóstenes já foi condenado à morte política pelo eleitorado que traiu


Renuncie ao mandato, senador



A reação do timaço de comentaristas à descoberta do lado escuro do senador Demóstenes Torres escancarou o abismo que separa o Brasil que presta do país reduzido pela Era Lula a um imenso clube dos cafajestes.

Confrontados com as ligações promíscuas entre o parlamentar do DEM goiano e o delinquente Carlinhos Cachoeira, reveladas por VEJA, os brasileiros decentes não engoliram as desculpas indigentes gaguejadas pelo amigo de bicheiros.

Continuaram a ver as coisas como as coisas são.

E enxergaram no que parecia um oposicionista engajado no combate à corrupção mais um prontuário em ação na Casa do Espanto.

Conforta-me a leitura dos comentários que enriqueceram o primeiro post sobre Demóstenes Torres.

Os textos não escondem a decepção e a perplexidade dos brasileiros que respeitam a lei, os valores morais e as normas éticas.

Mas nenhum cede à tentação de justificar o injustificável.

Nenhum escorrega no farisaísmo, na hipocrisia e na pouca vergonha que orientam a contra-ofensiva que inevitavelmente mobiliza pais-da-pátria e soldados rasos quando um bandido de estimação é pilhado em flagrante.

Para o país que pensa, o que já foi revelado é suficiente para a incorporação de Demóstenes à bancada dos desmoralizados.

Nenhum comentarista berrou que todos são inocentes até o julgamento do último recurso.

Ninguém exigiu mais provas, nem rabiscou outro poema celebrando o “devido processo legal”.
Isso é conversa de devoto da seita que primeiro inocenta e depois canoniza todos os culpados do rebanho.

Demóstenas capitulou?

Paciência.

A rendição não virá, e o vazio deixado pelo desertor começa a ser preenchido pelo senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso.

Também originário do Ministério Público, Taques avisou nesta segunda-feira que não tratará com indulgência o colega com quem vivia dividindo projetos e ideias. “Vou tomar as minhas providências”, informou. “Não podemos proteger os amigos e prejudicar os inimigos”.

Numa das conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal, a advogada Flávia Coelho, mulher do senador, conta a Carlinhos Cachoeira que o marido estava sob o assédio de cardeais do PMDB interessados em anexá-lo ao que Ciro Gomes qualificou de “ajuntamento de assaltantes”.

Flávia e Cachoeira parecem muito animados com a ideia, que por algum motivo gorou.

Pior para Demóstenes.

Se tivesse atendido aos desejos da dupla, estaria neste momento sob a proteção de Lula, amparado por Dilma Rousseff e transformado pela turma da esgotosfera em mais uma vítima da mídia golpista.

Como se trata de um político da oposição, as milícias festejaram histericamente a chance de recitar, de novo, o bordão celebrizado por Chico Anysio quando encarnava Tavares, o canalha. “Sou, mas quem não é?”.

Nós não somos, retrucam os textos do timaço dos comentaristas.

Canalhas são os que tentaram impedir o despejo dos ministros ladrões e tentam agora garantir o emprego de um Fernando Pimentel.

Canalhas são os que fazem do assalto aos cofres públicos um instrumento eleitoreiro.

Esses têm tanta autoridade para atacar o senador goiano quanto teria um pedófilo para fazer palestras sobre educação infantil.

Demóstenes já foi condenado à morte política pelo eleitorado que traiu.

Restam-lhe duas opções.

A primeira é ignorar as provas e evidências, apostar no corporativismo da Casa do Espanto e vagar feito zumbi pelo Congresso até ser formalmente sepultado na próxima eleição.

A outra é pedir desculpas aos eleitores ultrajados, devolver o cargo e voltar para casa.

A segunda alternativa é menos indigna.

E ofereceria à multidão de decepcionados o consolo de saber que alguns políticos ainda conseguem envergonhar-se dos pecados cometidos.
Renuncie ao mandato, senador.


26/03/2012 

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