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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Poder, sexo e corrupção - Parte 1




As revelações explosivas da advogada que a máfia infiltrou no governo


Por Rodrigo Rangel e Hugo Marques
Com reportagem de Gustavo Ribeiro
de Maceió

REVISTA VEJA

A moça esguia de cabelos pretos levemente desgrenhados, com uma maquiagem quase imperceptível e vestida discretamente não chega a chamar a atenção da vizinhança elegante dos Jardins, em São Paulo, onde ela trabalha

A advogada Christiane Araújo de Oliveira não é uma celebridade nem uma fugitiva, mas encarna simultaneamente as duas personagens desde que se descobriu que sua vida passada tem um lado obscuro.

Em Brasília, ela foi protagonista de um tipo de enredo clássico, secular.

A jovem discreta, religiosa e especialmente bela seduziu políticos e encantou o coração de altos figurões da República que retribuíram seus favores ajudando uma organização criminosa que desviou mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos.

Sabe-se, agora, que ela usava seus dotes, sua simpatia e a intimidade que construiu com os poderosos para servir a um grupo de corruptos que conseguiu se instalar no seio do poder petista
.


É esse passado recente que a jovem advogada quer esquecer.

Foi sobre isso que Christiane contou detalhes a órgãos de investigação, mostrando como lobbies políticos prosperam graças à força de um pouco de charme e seus corolários mais picantes.


VEJA teve acesso ao teor dos dois depoimentos que Christiane prestou, no fim de 2010, a investigadores do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

Ambos foram gravados em vídeo, outro em áudio.

Christiane dá detalhes de como usou de sua intimidade com homens fortes do governo federal para traficar interesses de um grupo de corruptos de Brasília e de seu antigo chefe Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal.

Ela também conta como, numa via de mão dupla, essas figuras da corte federal exploraram o canal aberto com Durval, homem-bomba que a qualquer tempo poderia, como fez, implodir o governo de José Roberto Arruda, até então do opositor DEM, e facilitar a conquista da administração local pelo PT e a desmoralização do partido adversário em nível nacional.

Dos relatos de Christiane, cronologicamente contextualizados, saltam dois personagens de proa do governo de Lula: José Antonio Dias Toffoli - ex-advogado do PT que se tornou advogado-geral da União e depois ministro do Supremo Tribunal Federal pelas mãos do ex-presidente - e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula e hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Expoentes da nata do primeiro escalão e petistas fervorosos, Toffoli e Carvalho têm também em comum a formação religiosa.

Toffoli mantém uma relação estável há anos, é católico e irmão de um padre.

Carvalho é casado e foi seminarista.


A jovem Christiane e suas artes não combinam com o perfil público de nenhum deles.

Nascida em uma família humilde de Alagoas, Christiane, que é evangélica, se mudou para Brasília há pouco mais de dez anos com o objetivo de se formar em direito.

O pai, Elói, é um pastor a quem os crédulos atribuem o dom de curar e ver o futuro.

Ele se intitula "profeta", e os políticos formam sua clientela predileta.

Foi através de um deles que Christiane conseguiu emprego no Congresso Nacional.


Sentiu-se à vontade no ambiente e, em pouco tempo, contava com uma enorme rede de amizades.
 

Em 2007, aceitou o convite para trabalhar no governo do Distrito Federal com um certo Durval Barbosa, o delegado aposentado e corrupto contumaz que ficaria famoso, pouco depois, ao dar publicidade às cenas degradantes que levaram à cadeia o governador Arruda e à lona seus asseclas.

Sob as ordens de Durval, Christiane se transformou numa ferramenta a serviço da máfia brasiliense.
Durval viu nela uma rara oportunidade de estender suas falcatruas para o nível federal.

Os relatos de Christiane são o testemunho desse salto.

Ela contou aos promotores e policiais que mantinha encontros secretos com Toffoli. Christiane afirma que, em um dos encontros, levou a Toffoli gravações do acervo de Durval Barbosa.

A amostra, que Durval queria fazer chegar ao governo do PT, era uma forma de demonstrar seu potencial de deflagrar um escândalo capaz de varrer a oposição nas eleições de 2010.

Há três semanas, VEJA publicou entrevista com Durval em que ele próprio disse ter enviado as gravações a Toffoli.

O ministro negou a VEJA ter recebido a encomenda.

Em seus depoimentos às autoridades, Christiane reafirma ter feito a entrega do material a Toffoli. Ela pode estar mentindo? Talvez.

Toffoli pode ter recebido o pacote e o jogado fora sem se interessar pelo seu conteúdo. Talvez. Mas o que se sabe com certeza é que o objetivo de Durval foi atingido.

É especialmente perturbadora a revelação feita por Christiane sobre o local onde, segundo ela, se deram os encontros - um apartamento em que Durval armazenava caixas de dinheiro usado para fazer pagamentos a deputados distritais e que serviu de estúdio para vídeos incriminatórios.

Os encontros de Christiane com os poderosos podem também ter sido gravados?

"Essa é uma possibilidade que deve ser considerada", disse a VEJA, sob a condição de anonimato, um dos responsáveis pela apuração.

É apavorante a hipótese de que um ministro do STF esteja refém de chantagens de mafiosos e corruptos.

Christiane tinha acesso livre à Advocacia-Geral da União quando Toffoli comandava o órgão. "Levei uma advogada lá e ganhei apenas uma bolsa Louis Vuitton - mas verdadeira", contou.

Ela disse também ter viajado a bordo de um jato oficial do governo, o que teria sido uma cortesia do atual ministro em sua passagem pela AGU.

As inconfidências de Christiane sobre Gilberto Carvalho não contêm ingredientes picantes, mas são reveladoras de como foi exitoso o plano de Durval de infiltrar sua insinuante parceira entre petistas de alto coturno.

A sucessão de histórias relatadas por ela deixa evidente um padrão, o velho estratagema de atrair, registrar e, depois, tendo em mãos elementos que possam comprometer a autoridade fisgada, apresentar as faturas.

Christiane foi portadora de diversas ofertas de Durval a Gilberto Carvalho - uma delas, relatou a advogada, oferecia facilidades para investir a preço de custo no aquecido mercado imobiliário de Brasília.

Durval era dono de mais de 250 imóveis na capital, boa parte deles comprada com dinheiro surrupiado dos cofres públicos.

O ex-secretário desviou mais de 1 bilhão de reais nas contas do Ministério Público. Ele fazia as ofertas em troca de favores.




VEJA mostrou em março passado que, a mando de Durval, Christiane enviou e-mails ao "Querido Dr. Gilberto" pedindo a ele apoio à recondução do promotor Leonardo Bandarra ao cargo de chefe da promotoria de Brasília, decisão exclusiva do presidente da República.

Gilberto Carvalho rechaça a insinuação de que tenha aceitado quaisquer favores de Christiane ou Durval.

Diz ele: "Eu não estava nesse circuito do submundo. Estou impressionado com a criatividade dessa moça".

O certo é que Lula fez exatamente o que a dupla de corruptos pleiteava.

Bandarra foi reconduzido ao posto.

Semanas depois de confirmada sua volta, Gilberto Carvalho enviou uma mensagem a Christiane.
"Fiquei contente em ver nomeada a pessoa, Dr. Leonardo, que você indicara", escreveu ele.

O retorno de Bandarra interessava a Durval Barbosa, que tinha com o promotor um acordo destinado a livrá-lo das investigações de envolvimento em desvios bilionários dos cofres de Brasília.

O doutor Leonardo Bandarra logo se revelou mais um venal integrante da máfia.

Foi afastado e hoje responde a cinco ações na Justiça.

Uma delas diz respeito a propinas recebidas de Durval.

Christiane relatou aos promotores que o tráfico de influência que praticava funcionava nos dois sentidos.


Ela diz que foi portadora de pedidos de Gilberto Carvalho, então todo-poderoso chefe de gabinete de Lula, para que Durval topasse entregar aos órgãos de investigação os vídeos gravados por ele que revelavam o esquema de corrupção no governo do Distrito Federal - entre os quais a famosa e inesquecível imagem em que o então governador Arruda aparece recebendo propina.

O escândalo derrubou Arruda e deu a vitória ao petista Agnelo Queiroz.
A linda doutora Christiane chegou a ocupar uma função estratégica no comitê central da campanha de Dilma Rousseff.

Foi encarregada da relação com as igrejas evangélicas.

Ela conversava pelo menos duas vezes por semana com Gilberto Carvalho e com outros coordenadores da campanha.

Com Dilma eleita, a advogada foi nomeada para integrar a equipe de transição de governo.

Foi exonerada depois da descoberta de que ela fora processada por participação na máfia dos sanguessugas, que desviava verba do Ministério da Saúde destinada à compra de ambulâncias.


Coube a um compungido Gilberto Carvalho demiti-la. "Sinto muito", disse Carvalho à amiga em lágrimas.

Antes disso, ela já chegara perto do poder.
          continua no post abaixo

Fevereiro 13, 2012


1 comentários:

Lucio disse...

Cada dia fica mais claro a podridão do esquema que tirou arruda do governo,o PT se uniu ao band ode Durval e dá nisso aí!!1 Pra mim Arruda é inocente e ninguém me convence do contrário.