Mas o que o ex-presidente
(que já está em campanha)
pensa disso?
(que já está em campanha)
pensa disso?
Por Carlos Newton
As cartas já estão à mesa para a sucessão de 2014, não há dúvida. Depois de seis meses de constrangimento e submissão, a presidente Dilma Rousseff enfim começa a se descolar de Lula.
A velocidade com que ela está fazendo a limpeza no Ministério dos Transportes indica uma surpreendente mudança de rumo, em comparação ao escândalo de Antonio Palocci, que levou 23 dias para ser defenestrado, por pressão direta de Lula, e só saiu quando ameaça poluir a popularidade do Planalto e do PT.
Essa determinação de chamar a si a responsabilidade pelo gestão já era até esperada, em função da forte personalidade da presidente Dilma Rousseff. E até já estava demorando demais para acontecer isso.
Para quem acredita em coincidência, merece registro o fato de que essa dissimulada e silenciosa declaração de independência de Dilma Rousseff ocorre exatamente quando o ex-presidente inicia sua campanha rumo a 2014, com uma série de visitas a municípios da Bahia, acompanhando do governador Jaques Wagner, do PT.
Se dependesse de Lula, os escândalos no Ministério dos Transportes seriam abafados ao máximo, as demissões já teriam terminado, o próprio Luiz Antonio Pagot seria preservado na diretoria-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e o PR não estaria efetivamente sentado no banco dos réus.
No entanto, Dilma começa a mostrar um outro estilo, bem mais duro e incisivo, que certamente será muito bem recebido pela opinião pública, que está cansada de tanta corrupção e de tanta impunidade.
Até o momento, Dilma já demitiu 15 servidores, incluindo o inacreditável ministro Alfredo Nascimento, em 19 dias de crise, e não há sinais de que a degola vai parar por aí.
O novo comportamento do Planalto já começa a colher resultados positivos. “O setor privado apoia a presidente e ela tem demonstrado que não contemporiza com esse tipo de irregularidade”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, ressalvando que o governo ainda precisa dar sinais claros do que pretende com essas mudanças: “A indústria, por exemplo, aguarda há seis meses um projeto consistente para o setor empresarial”.
Se Dilma continuar se descolando de Lula, tocando o governo sozinha, sem tutor, o rompimento será inevitável.
Embora o jornalista Jorge Bastos Moreno, sobre o relacionamento entre os dois, tenha publicado que “o amor verdadeiro é o maior antídoto contra intriga, e onde existe amor, não há desconfiança”, tudo tem limites.
Especialmente quando há possibilidades de os dois quererem disputar o mesmo cargo em 2014.
Há duas semanas, pela primeira vez Dilma Rousseff falou em “segundo mandato” e, novamente por coincidência, Lula também reconheceu que ela tem direito de disputar novamente a presidência. Acontece que os dois pertencem ao mesmo partido e só existirá uma candidatura pelo PT.
Seria uma ilusão julgar que o PT poderia garantir a legenda à atual presidente, se Lula quiser se candidatar, o que é uma hipótese óbvia, pois ele acaba de iniciar a campanha e vai seguir viajando pelo país, conforme até anunciou na semana passada.
Nesse quadro, registre-se que Dilma Rousseff está no momento em total desvantagem, porque a legislação eleitoral até a proíbe de deixar o partido, sob risco de cassação de mandato. Como se sabe, o Supremo já firmou jurisprudência no sentido de que o mandato pertence ao partido e não ao candidato.
Mas tudo na vida tem jeito, especialmente quando pode sobrevir na política o famoso “jeitinho brasileiro”.
Está em curso a chamada reforma política, e já se sabe que uma das medidas em preparação será a criação de uma alternativa para permitir o troca-troca partidário, pelo menos episodicamente.
O vice-presidente Michel Temer, por exemplo, que tem muito prestígio no Congresso, defende uma autorização para a troca de partidos nos seis meses que antecedem cada eleição, como forma de permitir que detentores de mandato insatisfeitos possam se filiar a outra legenda.
A tese tem a simpatia do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O tucano, porém, alerta que esse não pode ser o mote principal da reforma política:
- Iniciar uma reforma política falando de janela para o troca-troca partidário seria um casuísmo desmoralizante.
Mas não sou inflexível – observou Aécio, que também seria beneficiado e poderia até sair candidato pelo próprio PMDB, como já chegou a ser aventado antes da disputa presidencial em 2010.
Se essa hipótese se concretizar, aí teríamos uma eleição verdadeiramente sensacional e eletrizante, disputada entre Lula, Dilma, Serra ou Alckmin, Aécio e outros menos votados, como Ciro Gomes e Anthony Garotinho, que já foram presidenciáveis e continuam sonhando com o Planalto.
Mas só o futuro dirá.
22 de julho de 2011
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