Rodrigo Paiva/Folha
Os passaportes diplomáticos e o ponto de cozimento
Por Josias de Souza
A consciência é mais ou menos como a cozinha. Ambas exigem sensibilidade para o ponto.
Qual é o ponto em que a vaidade humana deixa de ser propulsora da evolução pessoal e vira soberba? Qual é o ponto da empáfia?
Quando é que a massa começa a desandar, a água ferve demais e o que era pra ser um espaguete al dente vira papa de macarrão?
No fogão, até os amadores podem consultar a orientação que vem no pacote. Na vida, tudo depende do instinto.
Em princípio, supõe-se que todas as pessoas, no fundo, são presunçosas só até certo ponto de cozimento.
Mas há ocasiões em que a (falta de) vergonha passa do ponto e o molho azeda. É o que sucede no caso dos passaportes especiais dados aos filhos de Lula.
Nesta sexta (7), Marcos Cláudio Lula da Silva, 39, foi inquirido no twitter: vai devolver o passaporte diplomático?
E ele: "Vou. Aliás, nem vi... Devolvo o antigo também, sem nenhuma escrita nele, branco como chegou".
A mesma pergunta foi dirigida a Luiz Cláudio Lula da Silva, 25, o outro filho de Lula brindado com o mimo do Itamaraty.
Porém, o caçula do ex-soberano não se dignou a responder. Até a noite passada, zombava no noticiário no microblog. Nesta sexta, silenciou.
Embora tenha acenado com a meia-volta, Marcos Lula ainda não se deu conta de que perdeu a noção do ponto.
Ele desqualifica a Folha, que noticiou o descalabro. Ou seja: se cumprir o prometido, devolverá por pressão algo que não deveria ter aceitado por convicção.
Paciência. Assim caminha a cidadania, aos solavancos. Não se deve confiar na vergonha inata das pessoas senão até certo ponto.
07/01/2011
0 comentários:
Postar um comentário