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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Terceiro mandato?


Terceiro mandato?

Maria Lucia Victor Barbosa

Algumas pessoas me perguntaram se estava satisfeita pelo fato de uma mulher ter chegado à Presidência da República. Respondi que isso me era indiferente. Primeiro, porque seja homem ou mulher num cargo político o que interessa é se essa pessoa é competente, ética e tenha visão de bem comum.

Segundo, em postos elevados mulheres não são automaticamente modelos de perfeição e lisura.

Só para citar exemplo mais recente relembro a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, que juntamente com a família se locupletou no cargo tendo saído ilesa por ser amiga da rainha.

Terceiro, quem ganhou de fato foi um homem, o presidente que age como se projetasse seu terceiro mandato, pois escolhe ministros e já tem diretrizes de governo para 2011.


A mulher, retocada fisicamente, fabricada em termos de imagem política, treinada pela propaganda teria qualidades que se imaginam intrinsecamente femininas. Entre outras, amor maternal, desvelo familiar, doçura, capacidade de perdão.

Qualidades é claro, que nem todas as mulheres possuem, muito menos a candidata escolhida pelo homem. Por ela ele foi cabo-eleitoral e animador de comícios de retórica violenta e rancorosa, boquirroto que debochava da lei eleitoral, autoritário que vociferava contra a imprensa e pregava o extermínio de partidos.

Antecipando a campanha em mais de um ano Lula da Silva colocou à disposição de Dilma Rousseff a máquina estatal e as polpudas contribuições das “zelites”.

Não apareceu oposição para condenar tais abusos.


Venceu, na verdade, o poderoso “coronel” Lula. Conquistou um pouco mais da metade dos votos dos pobres agradecidos pelas bolsas-esmolas, dos ricos satisfeitos com os lucros, das classes médias inebriadas com as alegrias de consumidores capazes de comprar a felicidade em suaves prestações a serem pagas no além.


Entretanto, o final de mandato do popular Lula da Silva parece conturbado.

É emblemática mais uma trapalhada do Enem, cuja responsabilidade em última instância é do ministro da Educação.

Num país civilizado este pediria demissão ou seria demitido pelo presidente da República, mas, ambos, de modo arrogante insistem em não reconhecer o erro. Um péssimo exemplo para os jovens estudantes.


Na política externa, que acumulou perdas em todos os cargos pleiteados pelo Brasil, em repetidos fiascos, em apoios a governantes que afrontam os direitos humanos, o último golpe deve ter deixado estonteados o presidente da República, seu chanceler de direito, Celso Amorim, seu chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia.

Isso porque, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu seu apoio expresso à inclusão da Índia como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, cargo perseguido de forma obsessiva pelo Itamaraty durante os dois mandatos de Lula da Silva. Também pudera, “o cara” em sua linguagem antiamericana fez coro com as afrontas de Hugo Chávez aos norte-americanos.

Além disso, o governo Rousseff pode significar a chegada do PT ao poder, como determinou José Dirceu. Considere-se ainda o fato da Índia ser estrategicamente bem mais interessante para os Estados Unidos do que o Brasil.


Para piorar, Lula da Silva quer de volta a famigerada CPM e vai tentar desarmar no Congresso a bomba fiscal de R$ 30 bi. Se conseguir a façanha no mês que lhe resta vai bater de frente com policiais civis, militares e bombeiros que perderão um piso salarial a ser criado por emenda constitucional.

Afrontará governadores que reivindicam R$ 19,5 bilhões, a título de repasse, referentes a perdas que tiveram com a Lei Kandir.

Desgostará parlamentares que querem elevar a cota reservada a cada um deles para fazer emendas no Orçamento. Sobrará para Rousseff a espinhosa questão do salário mínimo, que no Orçamento é contemplado com um piso de R$ 538,14, sendo que as centrais sindicais que ajudaram elegê-la reivindicam R$ 589,00.


Outro fator polêmico é a obsessiva ideia do ministro Franklin Martins de “monitorar” ou exercer “controle social sobre a mídia”, o que traduzido significa cercear a liberdade de pensamento.

Ele usa arabescos de linguagem para o que é simplesmente censura, aliás, prevista, entre outras coisas, no Plano de governo Rousseff sob o título PNDH3.


Enquanto tudo isso acontece, onde anda o PSDB?

Afinal, sem oposição não existe democracia.

Ao PSDB falta militância, união, mística, coragem para vocalizar a parcela da sociedade que se sentir prejudicada pelos desmandos da situação.

Sobra aos tucanos fascinação por Lula da Silva e vergonha de sua trajetória.


É necessário, então, que o PSDB deixe a torre de marfim e venha às ruas contra a CPMF, contra a censura, contra a inflação que Fernando Henrique derrubou, contra o ardiloso terceiro mandato de Lula da Silva.

Se fizer isso será seguido.

Caso contrário, morrerá de inanição política.

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