"Era voz corrente na cidade que Gilberto Carvalho era o homem do carro preto, o cara da mala, que levava dinheiro da corrupção para o José Dirceu", disse ontem Mara Gabrilli, psicóloga, vereadora paulistana e deputada federal eleita pelo PSDB com 160.138 votos.
Quase nove anos depois do assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), de Santo André, um sentimento de frustração a persegue.
Filha do empresário Luiz Alberto Gabrilli, do setor de transportes, e autora da denúncia ao Ministério Público Estadual sobre arrecadação de propinas que teriam financiado caixa 2 petista, Mara cobra punição a empresários e políticos.
Ontem, ela recebeu "com alento e esperança" a notícia sobre ação judicial aberta contra Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula.
"Meu pai ligava para o gabinete de Gilberto Carvalho para avisar que havia coisas erradas na administração Celso Daniel. Mas o Gilberto debochava do meu pai."
Celso Daniel foi executado à bala em janeiro de 2002.
A ação que cita Carvalho foi instaurada pela juíza Ana Lúcia Xavier Goldman, de Santo André.
O assessor de Lula é acusado de improbidade administrativa.
Na ocasião, Carvalho exercia o cargo de secretário de Governo de Celso Daniel.
A testemunha principal da promotoria é o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão de Celso.
Ele narra ter ouvido do próprio Carvalho a informação de que parte de dinheiro de propina era entregue a Dirceu, então presidente do PT.
Uma das vítimas da ação da quadrilha que teria se estabelecido na prefeitura é a família Gabrilli. Por mais de quatro décadas, Luiz Alberto, pai de Mara, conduziu a Viação Expresso Guarará. Dois irmãos de Mara, Luiz Alberto e Rosângela, atuavam como diretores.
Tantas foram as pressões, e também as retaliações, que os Gabrilli deixaram a empresa.
"Todo mês o Sérgio Sombra (segurança de Celso Daniel) vinha ao escritório da empresa, jogava o revólver na mesa e exigia a caixinha.
Minha mãe dizia para papai:
"Luiz, leva um gravador, registra essas conversas e vá à polícia." Mas o meu pai tinha medo. Era uma gente muito violenta.
O objetivo era acabar com a empresa porque uma vez nos recusamos a pagar a caixinha.
Acabaram com a saúde do meu pai."
"O Celso Daniel era muito amigo de papai, mas depois não nos atendeu mais", relata Mara.
"Papai procurou o João Francisco e perguntou se ele sabia o que estava acontecendo na prefeitura. O problema é que o Celso achava normal se o dinheiro de propina ia para financiamento das campanhas do PT. Os fins justificavam os meios.
O próprio João confirmou a história sobre o Gilberto Carvalho, o dinheiro para o PT. Era voz corrente.
O Gilberto ficava zombando do meu pai."
Voz isolada
O advogado Luiz José Bueno de Aguiar reagiu com veemência às acusações a Gilberto Carvalho. "Não existe a menor possibilidade de condenação do Gilberto." Ele destaca que "a única menção" a Carvalho nos autos do processo judicial é feita pelo médico João Francisco.
"É uma voz isolada, exclusiva dele (João Francisco), sem apresentação de qualquer prova porque o fato não existiu", assevera Luiz Aguiar.
O advogado é categórico. "Gilberto Carvalho jamais se prestaria a procedimentos dessa natureza, nunca se envolveu em desvios.
O que temos aí é a palavra de João Francisco, nada mais. Ele se retratou na Justiça quando acionado por José Dirceu."
"Estamos absolutamente tranquilos porque não há motivos para Gilberto ser condenado", acentua o advogado.
"Ele (Carvalho) só foi incluído na demanda porque é a regra da ação civil.
Como teve seu nome citado vai se manifestar à Justiça e é o que faremos sem preocupações."
24 de outubro de 2010
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