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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Governo do Sr. da Silva - Peter Rosenfeld





Por Peter Rosenfeld

Estamos a apenas seis meses do término do governo do Sr. da Silva. Penso que já se possa fazer uma apreciação inicial das realizações, das não-realizações e de uma apreciação geral do que o governo fez, desfez ou não fez nesses quase oito anos decorridos desde a posse.

Claro que não é possível dizer-se que o governo nada fez nesse período. Fez, e muito, só que uma grande parte do que foi feito foi ou será altamente prejudicial ao País em um futuro bem próximo.

Essa sim, uma verdadeira herança maldita.

Certamente o maior mal feito ao País foi a banalização da corrupção.

Verdade que o Brasil nunca se notabilizou pela honestidade e seriedade de seus políticos. Desde tempos imemoriais, em nossos governos sempre houve corrupção.

Mas era razoavelmente moderada e, o que é mais importante, localizada.

Não mais.



Agora é generalizada, nos três níveis de governo e nos três poderes.

A corrupção é uma praga que, como erva daninha, se alastra, se infiltra, de forma quase imperceptível mas permanente em nossos governos.

A honestidade, que deve ser algo normal e natural, passou a ser virtude, a ponto de ser mencionada quando se analisa o perfil das pessoas.

Penso ser totalmente desnecessário citar casos, evidências e exemplos. São completa e amplamente notórios, com seu marco de início no “mensalão”.

O mais triste, porém, talvez a mola mestra para a disseminação dessa praga, foi a posição do Presidente da República, sempre negando ter qualquer conhecimento do que estava ocorrendo. E isso que havia evidências claras de que tinha sido publicamente alertado para o fato por um parlamentar que integrava a base de apoio a seu governo.

Aliás, o fato de o Sr. da Silva sempre alegar desconhecimento de fatos negativos que vinham ocorrendo tornou-se motivo de chacota no País.



Essa atitude presidencial, somada à total e absoluta falta de penalização dos corruptos e dos agentes da corrupção foram os responsáveis pela ampla disseminação do mal (dos quarenta membros do Congresso indiciados pelo Ministério Publico apenas dois sofreram a pena de cassação de seus mandatos; a nenhum dos outros trinta e oito foi aplicada qualquer sanção !).

Bem, mas chega de corrupção. Vamos a outros tópicos desta rápida análise.

A segunda malfeitoria do governo do Sr. da Silva foi o absurdo aparelhamento da máquina governamental.

Com uma única exceção, o Banco Central, em todos os cargos do governo, desde Ministros e abarcando todas as esferas inferiores, foram nomeados integrantes do PT ou pessoas estreitamente ligadas ao partido, sem qualquer avaliação de mérito.

Nenhum dos fatores que deveriam ser levados em consideração antes da admissão de um funcionário foram aplicados. O QI requerido foi o famoso “quem indicou”.

E não foi pouca a gente admitida. O número que vem sendo citado é da ordem de 200 mil, e com certeza não se estará nada distante do número real.

A seriedade desse problema só será sentida e avaliada em sua plenitude no futuro.



O terceiro e sério problema é o da não-realização de quantidade enorme de obras, por várias razões. Em geral, por falta de planejamento correto.

Os dois Planos de Aceleração do Crescimento serviram exclusivamente para que o governo trombeteasse o que pretendia fazer, em sua imaginação ou, por vezes, realmente pretendia. Mas muito pouco foi feito e, igualmente, muito pouco está realmente em execução.

A maioria das obras elencadas ainda está em processo de análise; algumas estão em processo de licitação.

O resto todo está no papel, quando realmente está.



O quarto grande problema está na dívida pública.

O governo cita como uma de suas grandes realizações a de ter pago toda a dívida externa e de ter acumulado uma vultosa reserva em moeda estrangeira, mas não se refere, em momento algum, à fantástica dívida interna (com brutal aumento no governo atual).

O alinhamento do Brasil com países governados por regimes não-democráticos se constitui em outro fato triste. Além disso, o Brasil não conseguiu emplacar um único brasileiro em organizações internacionais de porte, sendo derrotado por candidatos de outros países.



Ademais, a doentia obsessão de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU fez com que fossem criadas embaixadas em grande número de países sem qualquer interesse maior para o País.

Pode ser afirmado que esses anos foram um período negro para o Itamarati, antes conhecido pela excelência de seus diplomatas. Ademais, política exterior é um assunto sério para ser conduzido como o foi, por um trio (Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia); e que trio !



Encerro esse texto, sem ter esgotado a matéria. Claro que se perguntará “Se o governo foi tão ruim assim, como se explica o grande prestígio do Sr. da Silva ?

Respondo: por sua demagogia e por suas incoerências, além de por seu apelo pessoal. Sem dúvida, o Sr. da Silva é figura muito popular, um operário que conseguiu ascender à Presidência da República !

Mas não estava (e continua sem estar) preparado para o cargo.


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