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segunda-feira, 4 de maio de 2009

O São Jorge do Planalto

Coluna do
Antes da revolução dos costumes desencadeada nos anos 60, as moças se casavam virgens, motel só aparecia em filme americano, drive-in era coisa da capital. Mas havia a zona do meretrício. Todo município com mais de 10 mil habitantes tinha pelo menos um bordel, camuflado em casas com uma luz vermelha na varanda, construídas no difuso território onde a cidade já acabou sem que tenha começado a zona rural. E havia na parede da sala o retrato de São Jorge.


Bonito, aquilo. Os trajes de guerreiro, o corcel colérico, a lança em riste, o dragão subjugado, as imagens beligerantes eram completadas pela expressão beatífica. Todo santo de retrato é sereno, mas nenhum se mete com monstros que soltam fogo pelas ventas. Só um São Jorge de bordel poderia arrostar tamanho perigo com aquela placidez no rosto que sublinhava o espetáculo da coragem.

Concentrado no duelo tremendo, o exterminador de dragões não prestava a menor atenção no que acontecia fora do retrato. Na sala, prostitutas e clientes negociavam o acerto que os levaria a algum dos quartos escurecidos pela meia-luz que eternizava o crepúsculo.

Deles não paravam de chegar sons muito suspeitos, mas o santo guerreiro nada ouvia. Estava na parede para proteger a zona do meretrício, não para vigiá-la. Quem luta com dragões não perde tempo com batalhas de alcova.

São Jorge de bordel era chamado naquele tempo todo homem que mantinha a cara de paisagem enquanto desfilavam a um palmo do nariz iniqüidades, bandalheiras e delinqüências. O filho abandonara os estudos, a filha se apaixonara pelo cafajeste do bairro, a mulher vivia arrastando vizinhos para o quarto do casal, o sobrinho furtara as economias da avó — e a tudo seguia indiferente o chefe de família.

Como um São Jorge de bordel.

Como um São Jorge de bordel continua agindo o presidente Lula, informou neste começo de maio a discurseira sobre a farra das passagens aéreas. A tunga escandalosa do dinheiro público teria feito até o santo do retrato esquecer o dragão para botar ordem na zona.

Pois o padroeiro dos pecadores federais não viu nada de errado. “Isso é mais velho que a descoberta do Brasil”, desdenhou ao quebrar o silêncio obsequioso que vinha observando desde o primeiro estrondo no Congresso.

Para Lula, a imprensa dá “um tratamento desproporcional” a ocorrências irrelevantes. “Guardar passagens para viajar à França é delicadíssimo, mas o cara levar a mulher para Brasília, dar passagem para sindicalista ir a Brasília, não vejo onde está o tamanho do crime”, espancou o idioma e a ética o São Jorge do Planalto.

O que não pode é viajar para o Exterior. Em território nacional, vale tudo.

Que continuem viajando por conta da Câmara e do Senado parentes, vizinhos, jogadores de futebol, namoradas ou transeuntes com título de eleitor.

“Eu, quando era deputado, muitas vezes convoquei dirigentes da CUT, dirigentes de outras centrais para se reunirem com passagens do meu gabinete”,
confessou.

Para combater essa má vontade dos jornalistas com os pais da pátria companheiros, Lula anda prometendo criar o Dia da Hipocrisia.
A data do novo feriado deveria cair no dia e no mês de 1993 em que Lula, ao explicar por que não tentara reeleger-se deputado, deixou claro que não via maiores diferenças entre o Congresso e uma casa de tolerância.

Há uma maioria de 300 picaretas que defendem seus próprios interesses”,

discursou.

Pelo menos 301, corrige o falatório irresponsável.
Que outros santos nos protejam.

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