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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Youssef pagou dívida em nome de estatal, diz empresário


Polícia Federal com capuz
Divulgação/Polícia Federal

PF: a Polícia Federal coloca a Muranno no rol das empresas que receberam dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima

Fábio Fabrini, do Estadão Conteúdo
Andreza Matais e Ricardo Brandt, do Estadão

São Paulo e Brasília - O dono da agência de marketing Muranno Brasil, Ricardo Vilani, confirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o doleiro Alberto Youssef, um dos personagens centrais da Operação Lava Jato, fez pagamentos a sua empresa em nome da Petrobras.

Vilani nega, porém, que tenha recebido os valores - R$ 3,5 milhões no total, ele diz - para evitar que revelasse, em 2010, o esquema de desvios na estatal petrolífera. Vilani afirma que prestou serviços à Petrobras no exterior, num acordo sem assinatura de contrato, e queria apenas receber o que lhe era de direito.

A Polícia Federal coloca a Muranno no rol das empresas que receberam dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O nome da agência fazia parte da contabilidade secreta de Youssef.

A PF diz que parte do dinheiro que passava pela conta da agência era destinada ao pagamento de propinas para políticos e agentes públicos.

A Muranno aparece ainda no depoimento de Youssef da delação premiada. O doleiro afirmou que integrantes da agência de marketing estavam ameaçando revelar o esquema de desvios na estatal caso não recebessem um dinheiro devido. Nesse trecho do depoimento, Youssef teria citado o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No relato do doleiro, Lula ficou sabendo das ameaças e ordenou o então presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, a "resolver essa merda".

Ainda segundo Youssef, Gabrielli acionou o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, outro personagem central no escândalo, e este resolveu o problema. Youssef não apresentou provas do relato. Gabrielli nega com veemência a versão do doleiro. Lula não comenta o assunto.

Serviço

O dono da agência nega ter conhecimento do esquema de desvios da Petrobras via Youssef. Nega também a ameaça de revelar esse esquema.

"A Muranno fez alguns trabalhos para a Petrobras. Ele (o doleiro) se apresentou como assistente do Paulo Roberto e que estava lá para tentar me ajudar a receber (a dívida)", declarou Vilani à reportagem.

Os serviços de marketing para a Petrobras foram feitos, segundo o empresário, entre 2006 e 2009. A Muranno, contou Vilani, fez eventos para divulgar o etanol brasileiro em etapas da Fórmula Indy, nos Estados Unidos.

O trabalho consistiria, disse, em chamar empresários para os eventos, nos quais a estatal apresentava seus produtos visando à exportação. O convite para prestar os serviços, afirmou, foi feito pelo então gerente de Álcool e Oxigenados da Petrobras, Sillas Oliva.

Porém, parte dos valores acertados sem contrato não foi paga, segundo afirmou o empresário. "Nunca fiz contrato com ninguém", afirmou, explicando que apenas apresentava notas à "Petróleo Brasileiro S/A".

Segundo o empresário, a dívida da estatal com a Muranno seria de R$ 5 milhões. Em 2009, época da CPI da Petrobras, um funcionário da companhia destacado para levantar documentos e descobrir eventuais problemas no setor de comunicação, como o fornecimento de notas frias, o procurou.

Foi quando Vilani pediu "ajuda" para receber a dívida. Depois disso, conseguiu uma audiência com Costa na Diretoria de Abastecimento.

Na sequência desse diálogo, o empresário contou que foi procurado por Youssef, conhecido como "Primo", que o chamou para "um café" em São Paulo e acertou os pagamentos. "Um dia, toca meu celular, um número que eu não conhecia: 'Olha, estou aqui, quero resolver o negócio da Petrobras'. É o Primo", relatou.

Sem resposta
A Petrobras não se pronunciou até a conclusão desta edição. Questionado se convidou a Muranno para prestar serviços à estatal, Sillas Oliva reagiu, por telefone: "Desconheço". Ele pediu que questionamentos fossem enviados por e-mail, mas não os respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

29/10/2014

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