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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

As pesquisas que erram até na véspera do dia da votação só param de eleger o candidato do PT (no primeiro turno) quando começa a apuração. São tão relevantes quanto uma previsão de Guido Mantega




 
Por Augusto Nunes
Se não estivesse ainda ressabiado com as manifestações de rua que escancararam a indignação do Brasil que começou a despertar, os donos do poder teriam incluído no balaio de espertezas disfarçado de “reforma política” o aperfeiçoamento do sistema de escolha do presidente da República: as urnas eletrônicas seriam substituídas pelos institutos de pesquisa e o voto pela intenção de voto. Tal mudança garantiria a vitória do candidato do PT, sempre no primeiro turno, em todas as disputas presidenciais.

Caso fosse adotada desde o começo deste século, a nova fórmula teria poupado Lula das canseiras do segundo turno em 2002, em 2006 e em 2010, quando conseguiu um terceiro mandato com o nome de Dilma Rousseff. E a afilhada do chefe supremo seria dispensada neste sábado de concorrer ao troféu Miss Simpatia do Planalto com a “fase dos grandes beijos”.

Está liberada para retomar a rotina dos pitos e chiliques, avisam os resultados da pesquisa Datafolha que, neste outubro de 2013, autorizou a seita lulopetista a comemorar o triunfo de Dilma em outubro de 2014.

No primeiro turno, como sempre.

Só crédulos profissionais podem enxergar revelações que antecipam o futuro no cortejo de porcentagens promovido com um ano de antecedência por gente que erra feio até em véspera da eleição.

Em 3 de outubro de 2006, por exemplo, quando a votação de verdade começou, Geraldo Alckmin já fora goleado por Lula por 49% a 30% no Ibope e por 49% a 35% no Datafolha.

Encerrada a apuração oficial, pitonisas sem rumo saíram à caça de álibis para explicar os 41% alcançados pelo candidato do PSDB — muitos pontos percentuais e alguns milhões de votos acima do que haviam previsto.

Não encontraram álibi nenhum. Nem pediram desculpas. Tampouco providenciaram justificativas palatáveis quatro anos depois, quando o Vox Populi e o Sensus se juntaram ao Datafolha e ao Ibope para a consumação do duplo assassinato estatístico.

O tucano José Serra chegou ao dia da eleição resfolegando na ladeira que ia dos 25,6% no Sensus aos 28% no Datafolha. Marina Silva, do Partido Verde, patinava entre os 12% do Vox Populi e os 14% do Datafolha. Flutuando nas cercanias dos 50%, Dilma acordou em 3 de outubro de 2010 sonhando com o terninho da posse. Soube à noite que os 46,9% do total de votos válidos eram insuficientes para superar a soma dos 32,6% de Serra (sete pontos acima da última profecia do Vox Populi) e dos 19,3% de Marina.

Contra Aécio e Campos, Dilma venceria no primeiro turno, reincidiu neste sábado a manchete da edição da Folha que publicou a mais recente pesquisa sobre a sucessáo de 2014. O espaço principal poderia ter registrado o declínio da colecionadora de recordes de popularidade que, ainda há pouco, surfava em altitudes superiores a 70%. Também poderia ter destacado o crescimento dos concorrentes. Preferiu anunciar a reeleição no primeiro turno.

Feitas em sequência, pesquisas honestas ajudam a esboçar retratos de determinados momentos e desenham curvas que permitem identificar tendências. Só isso.

O último levantamento do Datafolha, além de sujeito aos desvios e distorções de praxe, é o primeiro produzido depois da recentíssima aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva. A campanha ainda está nos trabalhos de parto. Oficialmente, não existem sequer candidatos. A presidente está pendurada em palanques desde 2007, mas os candidatos da oposição nem completaram a fase de aquecimento.

Lula e Dilma nunca enfrentaram adversários que falassem e agissem como oposicionistas de verdade. Jamais duelaram com gente decidida a exonerar-se da cautela que é o outro nome do medo, pronta para combater com bravura e trocar os cuidados defensivos pelo ataque audacioso.

Desta vez terá de ser diferente. Milhões de brasileiros estão fartos de escolher por exclusão e votar no menos pior. Querem eleger alguém que exponha sem rodeios nem firulas os estragos causados por 11 anos de hegemonia lulopetista.

Na campanha de 2010, o padrinho e a afilhada mentiram impunemente. Festejaram sem revides o Brasil Maravilha que as manifestações de junho sepultaram em cova rasa. Gabaram-se de feitos alheios, celebraram colossos administrativos que nunca desceram dos palanques, promoveram-se a domadores da inflação que vai ganhando musculatura, viajaram no trem-bala, banharam-se nos barris do pré-sal, rebaixaram a invencionice da elite golpista o mensalão que vai dar cadeia. Fizeram o diabo, como Dilma confessou.

Passados três anos, está claro que o país que votou na ministra que tudo sabia e de tudo entendia elegeu uma mulher que não consegue dizer coisa com coisa (e, se conseguisse, nada diria de aproveitável). Quem votou na durona que não tolerava corruptos contratou a única faxineira do mundo que adora lixo. Quem acreditou na superexecutiva de impressionar executivo alemã acabou entregando o país a uma assombrosa mediocridade. Sabem disso as multidões que saíram as ruas no fim do primeiro semestre.

Por enquanto, nenhum dos oposicionistas apontou publicamente a nudez do reizinho gabola e da rainha tatibitate.

Só quem for suficientemente corajoso para desmascarar os embusteiros conseguirá derrotar todos os concorrentes (e todos os institutos de pesquisa).

Só alguém assim merecerá a Presidência da República.

14/10/2013

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