É claro que eu gostei de ver a estratégia de Luiz Inácio Lula da Silva dar com os burros n’água.Por Reinaldo Azevedo
Não acho que o TSE disse “não” ao partido de Marina Silva em razão de alguma conspiração petista — disse “não” porque o pleito da Rede era, a meu ver, sem trocadilho, insustentável. Mas é certo que o ex-presidente jogou tudo para ter um segundo turno no primeiro.
Não terá.
Alegro-me.
Mas vamos com calma aí!
Leio aqui, ali e acolá que a aliança da “redista” Marina Silva com o peessebista (nego-me a chamar de “socialista” por respeito ao conteúdo das palavras) Eduardo Campos seria dotada de virtudes superiores e alcance, sei lá, verdadeiramente poético, que faltaria a todas as outras uniões que se possam fazer e se fazem na República.
Aí não dá!
Aí meu senso de realidade me obriga a reagir. Se eu fosse outro, não escreveria este texto. Se pensasse com o fígado, como querem os que me detestam — e, por me detestarem, não me entendem, hehe… —, deixaria a coisa pra lá; bastar-me-ia, então, ver a estratégia petista naufragar e aplaudir.
Mas sou quem sou. Meu único compromisso nesta página é escrever o que penso. E penso que a aliança de Marina com Campos é tão natural e tão artificial quanto qualquer outra da República.
Por natural, dado o quadro de fragmentação partidária no Brasil, deve-se considerar que partidos precisam mesmo se constituir em frentes. Nem o PT, com toda a sua força e com o escandaloso aparelhamento do estado e dos movimentos sociais, consegue governar sozinho.
Por artificial, é claro que que se trata de um arranjo ditado pela oportunidade e pelas circunstâncias.
Quando se votou o Código Florestal, por exemplo, o PSB tinha 27 deputados. Só três se opuseram. Os outros 24 votaram a favor — no que fizeram, diga-se, muito bem. Na Rede, ter endossado o texto era considerado fator de exclusão.
Vale dizer: quem apoiou o código aprovado estava proibido de pertencer à Igreja dos Santos de Marina de Últimos Dias. Cheguei a perguntar à época se um mea-culpa, um arrependimento, uma penitência, poderia livrar o vivente.
Disseram-me que não, o que me levou a concluir que Deus pode perdoar, mas Marina não! Eu estou enganado, ou o “socialista” Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, vice-presidente do PSB, já classificou o partido Rede de “preconceituoso, fundamentalista e religioso”?
No ministério, ele defendeu que o Brasil dominasse todo o ciclo tecnológico de produção da bomba atômica. Até acho discutível se isso é ou não aceitável. Para a turma da Rede, com certeza, não é.
Então fiquemos assim.
Como não fez direito a lição de casa, a Rede não conseguiu se viabilizar. Marina até tentou ficar fora da disputa, mas seus aliados, em especial os do mundo empresarial, que apostaram suas fichas na Rede, reagiram muito mal. Também os representantes egressos do que ela chama de “velha política” não gostaram. Aí ela teve de entrar no jogo.
Escolheu o PSB, decisão que é, sim, de seu interesse, mas também do interesse de Eduardo Campos. Ele tenta ganhar densidade com a nova aliada, embora continue encalacrado com a questão do tempo de TV. Ela ganha uma estrutura para influir na disputa de 2014. E ambos ficam com mais espaço de manobra. Por quê? Se Campos perceber que não se viabiliza de jeito nenhum, sempre pode, num gesto que será aplaudido, abrir mão em favor de Marina. A história de que já está definido que ele será o candidato, e ela, vice é conversa para boi dormir. Os institutos de pesquisa farão o óbvio e o certo: testar o nome dele e o dela nas simulações. Com Marina, Campos pode, se quiser, desistir sem desonra. Com Campos, Marina pode se tornar candidata com uma estrutura e uma grana de campanha que não teria pela Rede. Os dois, pois, têm agora opções que antes não tinham.
Ainda que muitos sejam tentados a ver em Marina não mais do que um ser etéreo, que se alimenta de luz e aspargos, a verdade é que ela é uma política. Sua aliança com Campos não confere nem mais nem menos grandeza à atividade. É, a exemplo de qualquer outra, ditada por oportunidades e interesses. E não custa notar: a Rede já é um saco de gatos no que concerne à ideologia. Há de tudo lá: de neoliberais a socialistas. O que os une é o papo-clorofila, este, sim, considerado inegociável. E é justamente nesse ponto que a coisa pode desandar na conversa com o PSB. Nos estados, digam aí, quem é que vai querer celebrar uma união com o PSB, dando eventualmente um palanque a Campos, mas tendo a turma de Marina a lhe picar o calcanhar? Vale a pena? Vamos ver. O acordo com o governador de Pernambuco foi um lance do lado pragmático de Marina Silva e sua turma. O problema é o lado sonhático.
As dificuldades começam agora. E só estão aí porque a aliança de Marina e Campos segue o padrão das outras. A rigor, caso se leve a sério sua conversa sobre a “velha política”, é menos programática do que qualquer outra.08/10/2013
terça-feira, 8 de outubro de 2013
A aliança de Marina e Campos é tão virtuosa ou tão viciosa quanto qualquer outra! Não me venham com histórias!
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