Apertem os cintos, a presidenta sumiu
Por Guilherme Fiuza
ÉPOCA
ÉPOCA
A presidente eleita, Dilma Rousseff, é um sucesso no Twitter. Ficou em segundo lugar no ranking dos mais citados na febril rede de mensagens telegráficas em 2010. Perdeu apenas para o cantor adolescente Justin Bieber, que aliás se parece muito com Dilma.
Os dois são pastéis de vento da cultura de massas e suas cabeças foram feitas pelos melhores cabeleireiros da modernidade brega.
Não se sabe exatamente por que a primeira presidenta brasileira foi superada pelo ídolo canadense. Talvez ele tenha um plano de governo.
Aos 16 anos, Justin Bieber já tem até um filme sobre sua vida. É um exemplo e tanto para Dilma.
Está provado que não é preciso viver para entrar na história.
A presidenta está seguindo rigorosamente esta linha: não fez nada para se eleger, e depois de eleita prosseguiu, coerentemente, não fazendo nada.
Em time que está ganhando não se mexe.
Agora a vice-campeã do Twitter tem tudo para virar filme também. Não importa se ela já fez tanto na vida quanto o adolescente Bieber. Isso o roteirista resolve.
Qualquer problema, é só providenciar uns enxertos com pedaços da biografia de Norma Benguell, usando o mesmo expediente da campanha eleitoral.
A transfusão de identidade, que fez Dilma aparecer no lugar da atriz numa passeata em 1968, foi um sucesso.
Se ainda faltar material para o longa-metragem, ainda é possível encher linguiça com as peripécias de Erenice, alter ego da presidenta – tão prematuramente ceifada da vida pública só porque exercia seu instinto maternal na máquina administrativa.
Puro preconceito contra a mulher.
Justin Bieber pode ser o rei do Twitter, mas não tem tudo.
Não tem, por exemplo, um Edison Lobão no ministério.
O velho novo ministro de Minas e Energia, aquele que no apagão convocou uma coletiva para ler um bilhete dizendo que ia ficar tudo bem, é quase uma força da natureza.
Seria difícil supor de onde vem sua inexorável sobrevivência no poder sem um olhar profundo para o Estado do Maranhão, que o fez senador. Ali mora o mistério do Brasil moderno.
Ali mora José Sarney (fora um ou outro pernoite no Amapá, para um alô a seus eleitores).
Lobão é só um dos ministros de Sarney no governo revolucionário da primeira presidenta.
Justin Bieber precisaria nascer de novo em São Luís, no Maranhão, para entender o que é um reinado de verdade.
Influenciar pencas de adolescentes pelo mundo não é nada.
Difícil é influenciar pencas de contratações de parentes e amigos no Senado, ser apanhado com a boca na botija e continuar dando as cartas na República.
Sarney é um milagre da dupla Lula-Dilma, um dos filmes mais incríveis que Hollywood não fez. O resto é água com açúcar.
Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio, a inflação recorde de novembro e o ajuste fiscal
Nunca antes na história deste país se viu um presidente eleito sumir de cena de forma tão resoluta.
Dilma não tem nada a dizer ao povo.
Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio de Janeiro. Dilma não comenta a inflação recorde de novembro. Dilma não fala sobre o ajuste fiscal que o velho novo ministro Mantega anunciou e o padrinho Lula desmentiu. Dilma não dá um pio sobre a crise da partilha do pré-sal, nem do pós-sal.
Mas Dilma fala no Twitter:
“Amigos, muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/ estar aqui c/ vocês. Vamos conversar mais em 2011”.
Imaginemos como prosseguirá essa conversa em 2011, aproveitando as duas palavras mais importantes da mensagem: logo eu, que não saio da sombra do meu inventor; logo eu, que só penso na cota do PMDB, na cota do PT e na cota do Sarney; logo eu, que articulo para presidente da Câmara um lunático que quer derrotar o capitalismo; logo eu, que rezo todos os dias para que a política econômica de Fernando Henrique não me abandone, e eu possa continuar surfando no folclore do oprimido.
A musa do Twitter promete.
Te cuida, Justin Bieber.
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