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domingo, 13 de junho de 2010

Lula desconfia de Obama em Natal e confia no presidente americano em Maceió


Por Augusto Nunes

Num único dia, duas versões do presidente Lula foram apresentadas a diferentes Estados nordestinos. Com o olhar de quem acabou de ver a noiva com outro, exibiu-se no Rio Grande do Norte o missionário pacifista que só não provou que os aiatolás atômicos são gente boa por ter sido atraiçoado por Barack Obama. Com o olhar de quem chegou do almoço, exibiu-se em Alagoas o estadista que nem precisou estudar para virar doutor em tudo e, depois de ouvir do intérprete que Barack Obama dissera que era ele o Cara, nomeou-se consultor-geral do mundo.


“Fiz tudo o que ele pediu, mas o Obama não cumpriu a palavra”, repetiu em Natal a voz de quem consola a viúva no velório. “Não é porque o Obama disse que eu sou o cara que vou achar que já fizemos tudo o que precisa ser feito neste país”, repetiu em Maceió a voz de quem, ao acordar, cumprimenta-se por ter nascido. Somadas, as performances da quarta-feira informam que Lula agora tem um Obama para cada plateia.

Talvez esteja convencido de que uma metamorfose ambulante pode tudo. Pode muita coisa. Pode até promover a amigo de infância o inimigo que vivia acusando de corrupto, como reafirmou a segunda aparição em Alagoas ao lado de Fernando Collor. Mas não pode avisar de manhã que perdeu a confiança em Obama e afirmar à tarde que confia em Obama. Discursos excludentes frequentemente convivem na mesma cabeça. Mas não saem juntos.

A carta assinada por Obama, segundo o destinatário, prova que não se deve acreditar em coisas que o remetente escreve. Se é assim, não faz sentido acreditar em coisas que um intérprete diz que o presidente americano quis dizer, como ocorreu na reunião do clube dos cucarachas em Trinidad-Tobago. Obama não fala português. Quem transformou em Cara o que chegou aos ouvidos de Lula como maimém e maigai foi o intérprete Sérgio Ferreira.

Em vez de ajudar a remover as pendências que afligem o continente americano, o deslumbrado incapaz de enxergar-se com alguma ironia passou a envolver o Brasil em crises distantes ─ sempre do lado errado. Para vergonha dos brasileiros sensatos, a mistura de soberba e ignorância já se fantasiou de Pacificador do Oriente Médio e de Domador de Aiatolás. A reação do esperto que virou otário informa que o fracasso da missão no Irã não encerrou o carnaval temporão. Vem mais por aí.

Na sessão do Conselho de Segurança da ONU, 12 países aprovaram a quarta rodade de sanções e o Líbano se absteve. Só o embaixador da Turquia, parceira do fiasco, juntou-se ao Brasil. Lula afirma de meia em meia hora que os 5% que desaprovam seu governo em pesquisas amigas não querem dizer nada. Só importam os 80% que, conforme os sensus da vida, acham que, se melhorar, estraga. Nesta semana, decidiu que na ONU são outros 500 (ou outros 51). Os 80% de aprovação obtidos pela ideia de enquadrar o Irã não querem dizer nada. Importante foi o voto da Turquia: significa que 6% do total acharam a proposta ruim ou péssima. Para autoritários vocacionais, minoria a favor é maioria.

Porque só ouve o que dizem os áulicos, os oportunistas e os esquerdistas psicóticos, Lula imagina que tem chances de virar secretário-geral da ONU e ganhar o prêmio Nobel da Paz. Por falta de coragem, os mercadantes não se atrevem a lembrar-lhe que a entidade jamais será comandada por alguém incapaz de falar corretamente qualquer idioma. Por falta de juízo, os dirceus não lhe contam que um comparsa dos pastores da violência jamais será promovido a campeão da paz.

Lula trata a pontapés a democracia hondurenha, afaga a ditadura cubana, aproxima-se de Hugo Chávez, hostiliza Alvaro Uribe, irrita-se com o acordo militar entre Colômbia e os EUA, hospeda em Brasília um embaixador das FARC, isola-se da comunidade mundial para servir ao Irã, ignora o contencioso do continente americano para colecionar trapalhadas em lugares que conhece de vista. A insatisfação crescente de antigos admiradores estrangeiros confirma que ninguém erra tanto impunemente.

O palanqueiro sem freios nem pudores gabou-se com tamanha insistência da construção do Brasil Grande que acabou acreditando na proeza imaginária. Hoje, acredita que o mundo é um grande Brasil. Logo saberá que não é.
10 de junho de 2010

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