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sábado, 14 de novembro de 2009

Lula queria mesmo era ser FHC


LULA, UM POUCO DE PSICOLOGIA, UM POUCO DE POLÍTICA


Problemas de formação — ou má-formação — de personalidade não escolhem classe social, cor da pele, sexo, nada. Atingem a todos igualmente. Assim é com o complexo de inferioridade, por exemplo. Pode afetar o magnata e o operário — mesmo quando o operário se torna, à sua maneira, um magnata. É o caso de Lula. Toda aquela arrogância, toda aquela jactância, toda aquela bufonaria têm, certamente, uma raiz.

A minha hipótese: como ele se sente inferior — e isso nada tem a ver com a sua origem social, reitero —, não há o que o satisfaça, não há elogio que lhe baste, não há reconhecimento que chegue. E como tudo lhe é e será sempre insuficiente, Lula canta as próprias glórias e não vê mal nenhum em ser injusto ou brutal com a biografia daqueles que o antecederam.


Sim, leitores, esta é outra característica das pessoas com déficit de auto-estima e que conseguem vencer a timidez: não vêem nada além do próprio umbigo; não entendem a existência do outro senão na relação consigo mesmas; o mundo externo se define em razão de sua própria existência. No caso de Lula, como se nota, ninguém é poupado: a história do Brasil, o próprio país, FHC e até Barack Obama.

Tudo o que há no mundo serve ou para adulá-lo ou para insultá-lo ou para desafiá-lo. Compreendo que o presidente goste, como ele mesmo diz, de uma “branquinha”  — na verdade, ele prefere malte escocês. Não deve ser fácil viver assim.


Lula discursou ontem na abertura do 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica, na FMU, em São Paulo. Todos já sabemos que “nunca antes na história destepaiz” — expressão que agora tem a versão internacionalmente consagrada pela revista The Economist: “Never before in the history of this country” houve um presidente como ele.

Todos já sabemos que a história do Brasil começou no dia 1º de janeiro de 2003. Antes, o país era aquele misto de Vale de Lágrimas com a Caverna dos Ladrões de que falava o PT. Aí tivemos o advento, e o país nasceu. Do nada. Antes de Lula, eram as trevas (ooops!), o caos primitivo, a desordem… Aí ele surgiu e disse: “Fiat lux” (lux?), e o país passou a existir. E, vocês sabem, sem ladrões… Disso tudo, nós já sabíamos.


Nesta sexta, ele resolveu acrescentar ineditismos à sua biografia. Ao discursar, afirmou:

“Pela primeira vez na história do País, um presidente da República vai torcer para o outro dar certo. Lamentavelmente, a prática histórica desse País é quem perde torcer para outro cair em desgraça.

Eu, quando deixar a Presidência, vou ser o primeiro presidente a torcer e rezar todo santo dia para quem me suceder fazer muito mais coisas do que eu, o dobro, o triplo.”


Com a devida vênia, trata-se de um discurso politicamente vigarista. Sejamos elementares: Lula não está e jamais esteve na alma de ex-presidentes para saber o que pensavam.

Dou um exemplo: o país passava momentos difíceis no fim de 2002 em razão do chamado “risco PT”, pouco importando se ele existia ou não: os mercados haviam posto um preço alto na chegada de Lula ao poder.

E FHC usou o seu prestígio junto a organismos multilaterais para garantir a Lula uma transição tranqüila. O PSDB e o então PFL votaram a favor das reformas que o próprio PT havia recusado quando oposição
reformas que, de novo, os tais “mercados” julgavam essenciais para o governo ser considerado “de confiança”. Isso é torcer para o governo dar errado?
Lembro que a própria base de Lula o deixou na mão.


É impressionante! Lula se diz um presidente como “nunca antes houve na história destepaiz” e já se prepara para ser um “ex-presidente como nunca antes houve na história destepaiz”.

No caso em questão, além daquela prepotência típica dos que têm déficit de amor próprio, há a visão troglodita, mentirosa, da história. Uma revista como a Economist, note-se, faz um especial de capa sobre o Brasil reconhecendo méritos no governo Lula, claro; mas, é óbvio, coloca-o na continuidade de um processo de reformas iniciado em 1994, o que o petista faz questão de negar, contra todas as evidências.

Ele usa a soma de seu prestígio com o seu problema de formação de personalidade para distorcer os fatos de modo miserável.


Pessoas com tais características podem ser perigosas, mormente se lideram partidos mais ainda quando o partido é o PT, que jamais reconheceu qualquer mérito dos adversários.

A fala de Lula não se limita ao auto-elogio; ela traz um componente de ameaça velada que a muitos escapará, mas que faço questão de grifar.

Ao afirmar “Eu, quando deixar a Presidência, vou ser o primeiro presidente a torcer e rezar todo santo dia para quem me suceder fazer muito mais coisas do que eu, o dobro, o triplo”, está fazendo uma espécie de desafio, que, naturalmente, só terá validade se seu sucessor for um adversário político.


Dilma, já sabemos, será vendida apenas como a nova cara de Lula.  O que o PT promete é um governo de continuidade, um terceiro mandato e, assim, não há algo como “fazer mais ou fazer menos”. Trata-se de um conjunto.

E não seria Lula, obviamente,
caso faça a sua sucessora, a anunciar: “Essa Dilma aí não é de nada!” Essa história de fazer o dobro, de fazer o triplo, é desafio que ele lança ao adversário. Agora pensem: Lula, de tal sorte mitifica e mistifica seu governo que não é possível haver quem faça mais do que ele.

A razão é simples e óbvia: seria necessário alguém que dissesse mais inverdades do que ele, que mistificasse mais do que ele, que vendesse castelos de ar mais do que ele. E NÃO EXISTE ESSA PESSOA.


AFINAL, NÃO HÁ QUEM POSSA COMPETIR COM A IMAGINAÇÃO MEGALÔMANA E AUTOCENTRADA DE LULA.


Megalômana e autocentrada?

Todos sabem o que penso de Barack Obama. Acho que ele é sintoma, sim, do declínio dos EUA — e isso nada tem a ver com a cor de sua pele. Seu discurso, sempre entendi e escrevi aqui muitas vezes, simbolizava e simboliza uma espécie de mergulho dos EUA no utopismo cascateiro do Terceiro Mundo.

Só não creio, à diferença de muitos, que aquele país não possa se levantar. Acho que vai. Mas é evidente, o que também já escrevi, que a eleição de Obama é expressão importante de um valor da democracia: a igualdade. Dada a história dos EUA, a eleição de um negro é uma conquista não só de Obama, mas da sociedade americana.


E como Lula vê Obama?

Ora, do modo como vê qualquer outra coisa: cotejando-o com… Lula! Leiam outra pérola dita ontem:


“Os Estados Unidos acham que são o País das oportunidades. Somos mais que eles. Agora eles têm um presidente negro, mas nunca um torneiro mecânico chegou à Presidência lá.



Dizer o quê? Tolice, vulgaridade, frivolidade. Para começo de conversa, quando foi eleito, Lula não era mais torneiro-mecânico  havia quase 30 anos. Tornou-se dirigente sindical e depois político profissional — vivendo do que a política profissional lhe pagava. 

Além da ajuda do supercompadre Roberto Teixeira. Antes de Francisco de Oliveira, este escriba  pespegou na elite sindical a definição de “nova classe social” — no meu caso, até a batizei: “burguesia do capital alheio”. Lula não foi o primeiro ex-pobre que o Brasil elegeu. Nem mesmo chega a ser, infelizmente, o presidente mais ignorante da nossa história.


Quanto a um torneiro-mecânico nos EUA… Aposto que Lincoln, aos 21 anos, era tão modesto como Lula com a mesma idade. Veio de uma família também humilde. Aos 22 anos, era balconista. Só se tornou advogado aos 27. Aos 48, já era presidente dos EUA. Foi o homem que venceu a guerra civil e que libertou os escravos. Sei que Lula deve achar Lincoln um Zé-Mané. Mas o brasileiro não tem o direito, como presidente da República, de falar tanta bobagem. Ocorre que os EUA, felizmente para eles, jamais cultivaram o “pobrismo” como um valor — preferem a superação.


Há um componente curioso nessa história toda. Claramente, Lula faz de conta que não houve história antes dele — ou, se houve, foi só uma seqüência de desastres.

E, se notarem bem, parece-lhe inadmissível que possa haver história depois dele. Quando afirma que o sucessor tem de realizar o dobro ou o triplo de suas conquistas imaginárias, já está se preparando para fazer com os que o sucederem o que faz com os que o precederam: eliminá-los da história.


Lula deveria agradecer todos os dias a Deus por ter sido derrotado em 1989, em 1994 e em 1998. Em especial, como escreveu a Economist, deveria ser grato a FHC, que lhe entregou um país com reformas essenciais já feitas — algumas, inclusive, custaram impopularidade àquele governo —, sempre lembrando que o PT torcia para que tudo desse errado e antevia o caos, como fez quando o Plano Real foi lançado.


Lula pode ser popular o quanto for; pode até ser que faça a sua sucessora, vamos ver… E daí? Isso não muda o fato de que seu discurso distorce a história, deforma a política e deixa o país menos inteligente.

E não há como esse procedimento não comprometer nosso futuro. Ainda que eu fosse o único a dizê-lo, a realidade não seria diferente por isso. Mas eu não sou. E eles sabem disso.


PS - Lula resolveu arrostar, anteontem, até com a Terra, o planeta mesmo. Atribuiu alguns dos problemas decorrentes da poluição ao fato de ela ser redonda. “Se fosse quadrada…”, conjecturou…

Suas ambições já se voltam para o Sistema Solar. E tudo, no fundo, porque, contrariando as aparências, Lula não consegue gostar de si mesmo.

Não é preciso ser muito bidu para intuir que ele queria mesmo era ser FHC. E só por isso tenta eliminar o outro da história do Brasil.

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