Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O cúmplice de Rose




POR RICARDO NOBLAT

O GLOBO


"Como posso nomear ministro do STF um nome apoiado por Delfim Netto e Stédile (coordenador do MST)?
"
Lula, sobre Luiz Fux


Lula deixou a Presidência da República com uma ideia fixa - ou melhor: duas ideias. A primeira: continuar mandando à distância por meio de Dilma. No que lhe interessa de verdade não pode se queixar . Manda. Outro dia até inventou uma CPI e Dilma só ficou sabendo ao retornar de uma viagem ao exterior . A segunda ideia : por mais que negue, suceder Dilma a partir de 2014. Dona Marisa estava de acordo.

O CÂNCER NA LARINGE subtraiu-lhe parte da energia. Nem por isso abdicou do sonho do terceiro mandato. Recupera-se satisfatoriamente. E, salvo um imprevisto médico, estaria pronto para ir à luta. Ocorre que duas gigantescas jamantas o atropelaram de agosto para cá: o julgamento do mensalão e o Rosegate. Está lá, pois, o corpo de Lula estendido no chão. E é improvável que se levante antes de 2014. Depois será muito tarde.

DIZ O PT , amparado por marqueteiros e analistas de pesquisas eleitorais: o julgamento do mensalão em pouco influenciou as eleições municipais de outubro último. O efeito dele foi quase nulo até mesmo em São Paulo, onde PT e PSDB travaram dura batalha. De fato, eleição municipal é um fenômeno localizado . O eleitor está à procura de quem possa melhor administrar a sua cidade. Nada mais importa.

ELEIÇÃO PARA DEPUTADO, senador , governador e presidente da República, não. Com frequência os interesses nacionais contaminam os locais. Exemplo? Manaus. Ali, em 2006, Lula colheu mais de 80% dos votos. Quatro anos depois, Manaus garantiu a Dilma votação estupenda. Lula foi lá este ano e pediu para que derrotassem Arthur Virgílio (PSDB), candidato a prefeito e seu desafeto. Arthur se elegeu com folga.

SE A JUSTIÇA pusesse amanhã um ponto final no caso do mensalão e se o Rosegate acabasse apagado, por milagre, dos anais da política brasileira e da memória coletiva, nem por isso aumentariam as chances de Lula engatar a marcha da volta triunfal à presidência daqui a dois anos. Imagine Lula candidato tendo que explicar a cada momento por que alguns dos seus ex-auxiliares de maior confiança estão presos.

SIM, PORQUE os réus do PT no processo do mensalão só deverão ir para a cadeia no segundo semestre do próximo ano. E na cadeia ainda estarão quando a campanha presidencial do ano seguinte começar a pegar fogo. Quer um cenário ainda pior para Lula, aspirante à vaga de Dilma? E se em breve ele e outros suspeitos forem indiciados em um novo inquérito do mensalão? Isso não é só possível. É provável. A conferir .

O MENSALÃO é um assunto árido para parcela expressiva dos brasileiros. E como envolve políticos, grana e desonestidade, não chama tanto a atenção. Estamos acostumados. O Rosegate tem um ingrediente que o torna popular: lençóis e traições. É fácil de ser explicado: Lula cedeu à tentação e empregou no governo pessoas indicadas pela moça que se dizia sua namorada.

ALOJADOS EM cargos estratégicos de agências reguladoras, tais pessoas formaram uma quadrilha para traficar influência. A Polícia Federal descobriu e indiciou-as por corrupção. A moça, também. Sob a ótica religiosa, Lula é o novo São Sebastião. Sob a ótica profana, o Tufão de um país chamado Avenida Brasil. Esse foi o lance inaugural da eleição de 2014. O difícil é acreditar que ele tenha surpreendido Dilma.

NA MELHOR das hipóteses, Rose fez Lula de bobo. Na pior , de cúmplice. Levando-se em conta seu prontuário, Lula ficou com mais pinta de cúmplice do que de o bobo de Rosemary.
03 DE DEZEMBRO DE 2012

Inteligência militar revela que Rose era a “mulher invisível” que negociava diamantes africanos na Europa


 

Alerta Total   
Por Jorge Serrão

Exclusivo
– O Rosegate revela mais duas bombas. Não existem registros nos anais da FAB de viagens internacionais feitas por Rosemary Novoa Noronha nos aviões da Presidência da República, embora a ex-chefe do gabinete paulista de Dilma tenha viajado 24 vezes ao exterior com o amigo e chefe Lula.

Por tal informação, passada reservadamente pela inteligência das Forças Armadas ao Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, a “Doutora Rose” seria a “mulher invisível” que trabalhava para Lula.

Outro bomba.
Rosemary utilizava um passaporte exclusivo de membros do primeiro escalão governamental para viagens de negócio ao exterior que fazia sem a presença do amigo Lula.

Serviços de inteligência das Forças Armadas receberam informes de que Rose participaria de negócios com diamantes em pelo menos cinco países: Bélgica, Holanda, França, Inglaterra e Alemanha.

As pedras preciosas seriam originárias de negócios ocultos feitos pela cúpula petralha na África, principalmente Angola. Tal informação também foi passada à PGR pelos militares.

Foram detectadas dezenas de viagens não-oficiais de Rosemary ao exterior, para "passeios de negócios".

O passaporte especial a denunciou.

Foram 23 para a França.

Para Suíça, ocorreram 18, por via terrestre, partindo de Paris, e mais quatro por via aérea.

Rose também fez 12 deslocamentos de avião para a Inglaterra.

Outras sete viagens para o Caribe e os Estados Unidos, aconteceram de navio – de acordo com a inteligência militar brasileira.


Tais informações sigilosas sobre o Rosegate não aparecem nas 600 páginas do inquérito da Operação Porto Seguro.

Militares também estão checando o informe, que circula pela internet, de que, numa viagem de Lula a Portugal, Doutora Rose teria levado, na mala diplomática, 25 milhões de Euros.

O valor, que teria sido declarado à receita portuguesa, seguiu em carro forte para depósito na agência central do Banco Espírito Santo, na cidade do Porto.


Como os documentos sobre tal operação estariam arquivados na Aduana do aeroporto internacional Francisco de Sá Carneiro, a petralhada morre de medo que se confirme o informe do e-mail denúncia – segundo o qual Rose mandou fazer o depósito tendo Luiz Inácio Lula da Silva como o possível beneficiário de um seguro que fora feito para evitar “algum sinistro” com tanto dinheiro.


Diante de novas denúncias que surgem com o Rosegate, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, se prepara para pedir, a qualquer momento, a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Luiz Inácio Lula da Silva & Família. A solicitação é um desdobramento do julgamento do Mensalão e servirá para alimentar de informações o Processo Investigatório 2.474.

Correndo em segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal, desde 2007, com 77 volumes de fatos concretos, o trabalho investiga as relações de negócios entre o PT, o Banco BMG, e o mito Lula.

Gurgel quer saber como e onde Lula aplica os recursos que recebe nas palestras que vem dando no Brasil e no exterior.

O Instituto Lula também pode ser alvo do Procurador, para saber quem são as pessoas físicas e jurídicas que andam financiando as atividades políticas de Lula.


A maior preocupação do ex-presidente é com a Polícia e a Receita Federal.

Lula foi informado de que servidores fora do controle do Governo – mas agindo dentro da lei e do dever de ofício – teriam informações comprometedoras sobre ele e seus filhos.
Se tudo vier à tona, o processo do Mensalão vai parecer roubo de galinha no quintal do vizinho mais próximo...

Bond Girl Dilma?

A Inteligência Militar confidencia um momento curioso vivido, no comecinho de outubro, pela Presidenta Dilma Rousseff.

Um funcionário do governo Britânico teve com ela uma conversa reservadíssima – cujo teor só a comandante-em-chefe das Forças Armadas poderia contar.

Os militares brasileiros só asseguram que a pessoa que falou com Dilma trabalharia para o MI-6 – o famoso serviço secreto militar inglês imortalizado nos filmes de James Bond, o famoso agente 007.

Hermanos contam tudo...

Argentinos se divertiram neste domingo com a leitura da reportagem “Rumores de alcoba en la relación de Lula con una funcionaria procesada”, do jornal El Clarín

Os hermanos escreveram que o vínculo íntimo entre Lula e Rose converteu um processo judicial em um escândalo de alcova:

“Rosemary Noronha, proveniente del sindicato de los bancarios, conoció a Lula en 1993. Un año después se incorporó a la campaña presidencial y la relación se hizo más estrecha, según Folha. En 2003, el sindicalista se convirtió en Presidente y Rose ascendió a “asesora especial” de la oficina regional en San Pablo. Tres años más tarde, por decisión del propio mandatario, subió otro escalón: pasó a ser jefa de Personal. Desde un principio, Marisa Leticia, la esposa de Lula, mostró su desagrado con la mujer. Durante 19 años la relación de Lula y Rose se mantuvo oculta al público, pero en Brasilia la relación complicó la agenda presidencial, cuenta el diario brasileño. Y agrega: Cuando la entonces primera dama Marisa Leticia no acompañaba a su marido en los viajes internacionales, Rose era parte de la delegación oficial”.

Fofocagem

Os hermanos argentinos fofocaram na reportagem que, enquanto trabalhou com Lula, “Rosemary deixou dois maridos pelo caminho e construiu uma reputação de mulher difícil e de temperamento agressivo”.
Segundo os argentinos, “em cerimônias e festas controlava o setor VIP, decidindo quem poderia se aproximar do mandatário (Lula). Quando Lula estava sob tratamento contra o câncer no Hospital Sírio-Libanês, Rose o acompanhava, mas apenas quando Marisa Letícia não estava perto”.

Os imperdoáveis hermanos do Clarín até contaram uma lendinha em que Rose mandou um faxineiro limpar seu gabinete, por 20 vezes seguidas, até se dar como satisfeita...

Bem que agora Rose podia chamar o mesmo faxineiro para tentar limpar tanta sujeira que aparece sobre o trabalho dela e da quadrilha em que atuava...

Namorada?
Familiares e puxa-sacos muito próximos de Lula estão PTs da vida com a Revista Época que começou a circular no fim de semana.

A publicação da Família Marinho afirma que “Rose frequentemente se apresentava como namorada do ex-Presidente Lula para conseguir negociar assuntos de interesse privado”.

Até então, além da coluna de Reinaldo Azevedo, na Veja, nenhum veículo da mídia tupiniquim tinha sido tão explícito ao retratar a real relação de intimidade entre Lula e sua ex-chefe do gabinete presidencial paulista.

Verde e Rose... Na Mangueira...

O Globo de hoje relembra uma cena de agosto de 1997 que revelava o extremo carinho e cuidado de Lula com sua amiga Rosemary.

Aconteceu em um ensaio da Estação Primeira de Mangueira, no qual a cúpula petista caiu no samba da verde e rosa carioca:

“Servido pelo garçom, Lula se levantou da mesa onde estava para levar uma bandeja de salgados até Rose”.

Complicado negar...

Em nota divulgada quinta-feira passada pelo advogado que atende a ela e José Dirceu, Rose afirmou que é inocente e que nunca fez nada ilegal ou irregular que favorecesse Lula ou Dirceu.

Mas nos e-mails interceptados pela PF na operação Porto Seguro, Rose faz questão de mostrar influência a Paulo Vieira, que, segundo ela, é seu amigo há dez anos.

E também cita PR (presidente da República) e JD (José Dirceu).

Máquina de gastar

Curiosamente, mesmo que Lula não seja Presidente há muito tempo, nos e-mails interceptados pela PF, Rose ainda se refere ao amigo pelo código “PR”.

Mais curioso ainda é que nos e-mails trocados pelos irmãos Vieira, indiciados pela PF, exitem várias reclamações contra Rose.

Na principal delas, Rose é descrita como “uma máquina de gastar”.
País de Tolos Contribuintes

No ano, os contribuintes pagaram R$ 842,3 bilhões em tributos.

Foi 0,7% a mais em termos reais do que no mesmo período do ano anterior.

Duro é que o absurdo pago em impostos é mal gerido, mal empregado e ainda colabora com as caixas nada ocultas, porém impunes, de corrupção com dinheiro público.

Propostas Menos Indecentes

Já que Rose agora é conhecida como “a mulher invisível”, existem duas propostas cinematográficas para ela, caso não acabe presa na Operação Porto Seguro.

Pode ocupar o lugar da Luana Piovani nas reedições do filme ou minissérie “Mulher Invisível”.
Ou, então, se candidatar a uma vaguinha de Bond Girl na ainda não anunciada reedição do filme de James Bond: “007, os Diamantes são eternos.



 3 de Dezembro de 2012

Brasil não tem estrutura nem ambição para ser rico, diz economista indiano



  O diretor de mercados emergentes do Morgan Stanley, o economista Ruchir Sharma

J.R. Penteado
Do UOL, em São Paulo

Indiano da cidade de Wellington, no extremo oeste da Índia, o atual diretor de mercados emergentes do banco Morgan Stanley, o economista Ruchir Sharma, adota um discurso cético quando se põe a falar sobre o Brasil.

A despeito dos últimos dez anos de crescimento econômico praticamente ininterrupto, Sharma descrê do discurso que vê o país rumo ao status de uma nação desenvolvida.

“Eu não creio que o Brasil esteja no caminho certo, ao menos por enquanto”, afirmou em entrevista concedida ao UOL por email. Os motivos já fazem parte de uma análise clássica: excesso de impostos, altos gastos do governo, falta de investimento em infraestrutura e presença muito forte do Estado na economia.

Sharma também diz que falta uma certa “dose de ambição” para o Brasil ser rico.

Segundo o economista, o país também depende demais dos países importadores de commodities (como minério de ferro), sobretudo da China.

Ele ainda ressalta que o crescimento da Bolsa de Valores do Brasil para os próximos anos deve estar abaixo dos demais países emergentes, que devem registrar uma alta na casa dos 10%.

Sharma ainda critica o acrônimo Bric –termo cunhado por um analista do banco concorrente Goldman Sachs e que coloca Brasil, Rússia, Índia e China dentro de um mesmo grupo. “Esses países são as maiores economias de suas respectivas regiões, mas, para além disso, não possuem mais nada em comum”, diz.

Ele afirma que dificilmente os países em desenvolvimento vão se tornar ricos. “Seria muito bom se todos os pobres pudessem alcançar os padrões de vida dos ricos, e nós pudéssemos acabar em um mundo onde todos estariam no topo. [Mas] temo que não veja isso acontecer, certamente não no futuro previsível.”

Ruchir Sharma acabou de lançar o livro “Os Rumos da Prosperidade”, pela Editora Campus, em que faz uma análise da economia dos países emergentes e sua relação com o resto do globo.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

UOL - O sr. diz que não faz sentido agrupar Brasil, China, Rússia e Índia em um único bloco. Por quê?
Ruchir Sharma - Esses países são as maiores economias de suas respectivas regiões, mas, para além disso, não possuem mais nada em comum. Todos os quatro estão em diferentes estágios de desenvolvimento –a Índia tem uma renda per capita próxima de US$ 1.500, a China, perto US$ de 6.000. Brasil e Rússia possuem rendas per capia próximas de US$ 12.000. Então eles encaram desafios bem diferentes.

Entre eles há importadores e exportadores de commodities [matéria-prima, como minério de ferro, usado para fabricar aço], produtores fortes e fracos de manufaturas, e por aí vai. Economias precisam ser compreendidas como casos individuais, e talvez o pior impacto de conceitos “marqueteiros” como o de “Bric” tenha sido o encorajamento do péssimo hábito de se pensar as nações emergentes como uma categoria sem rosto ou como subcategorias com acrônimos sem sentido.

O sr. acha que está totalmente furada a previsão de que os Brics superarão, até 2050, o PIB e a renda per capta do G-6 (EUA, Japão, Reino Unido, Alemanha, França e Itália)?
Eu nem chego a discutir essa previsão, como, aliás, me rebelo contra toda essa moda de fazer previsões a longo prazo. Eu sei que praticar futurologia é até divertido, que pretender enxergar o próximo século é irresistivelmente gratificante para alguns, mas também não deixa de ser intelectualmente desonesto. Será que essas pessoas que ficam fazendo tais previsões serão responsabilizadas pelo que falam?

Existe uma boa razão para que pessoas sérias, aquelas incumbidas de fazer as coisas acontecer no mundo real –CEOs, grandes investidores- foquem apenas nos próximos três a cinco anos, no máximo dez anos, enquanto toda essa moda de previsões a longo prazo são proferidas principalmente por “experts”, professores e marqueteiros.

Para além do período de cinco a dez anos, muitas das mudanças que podem ser previstas irão ocorrer juntamente com resultados impossíveis de previsão –eleições de novos governos, o aparecimento de novos competidores (como a China depois de 1980), ou de uma nova tecnologia (a internet depois de 1990).

A certeza desses importantes mas completamente imprevisíveis acontecimentos torna previsões de longo prazo totalmente sem sentido.

O sr. acha que só a China tem o potencial para exercer um crescimento estável e forte até 2050 ou nem mesmo esse país?
Eu analiso a China apenas para o próximo período de cinco a dez anos, e por muito tempo tenho pensado que o país estava prestes a desacelerar seu ritmo de dois dígitos de crescimento visto na última década. Toda nação que alcançou um crescimento rápido e sustentável por ao menos três décadas, incluindo Japão, Coreia do Sul e Taiwan, continuou a crescer, mas desacelerou significativamente em três ou quatro pontos percentuais quando atingiu um estágio similar de desenvolvimento no qual a China está hoje.

Nesse ponto, a economia é simplesmente muito grande para crescer tão rápido, e é assim que a China está agora.

Quais seriam os efeitos no Brasil se gigantes como a China reduzissem suas importações?

Nós estamos vendo isso agora. O Brasil tem confiado fortemente na exportação das commodities para países consumidores liderados pela China, e a desaceleração desse país é um grande motivo que nos faz ver o crescimento no Brasil escorregar para 2%, e o crescimento na Rússia escorregar para 3% a 4%. Ambos os países têm feito muito pouco para melhorar o ambiente de investimento doméstico, e o investimento deles em relação ao PIB continua muito devagar para estimular qualquer crescimento econômico mais rápido.

Na sua visão, poucos países alcançarão o estágio de nações desenvolvidas. O Brasil será um deles?
Eu não creio que o Brasil esteja no caminho certo, ao menos por enquanto. Um de seus grandes problemas é seu grande histórico de tributação e gastos em níveis muito altos, não acompanhados de suficiente investimento produtivo –fatores que deixaram o país com uma infraestrutura muito fraca, e, portanto, com uma tendência de crescimento em um ritmo muito devagar.
Outro problema é que o Brasil, instigado por seu histórico de instabilidade econômica, tem estado nos últimos anos mais preocupado com a estabilidade do que produzir crescimento –o que o deixa fundamentalmente menos ambicioso que muitos mercados emergentes.
E, por último, o Brasil ainda possui a mania de resolver seus problemas com a mão do Estado: a parte do Estado na economia do Brasil é muito alta para um país com seu nível de renda, comparado aos Estados de Bem-Estar Social avançados na Europa. Basicamente, o Brasil precisa de uma reforma estrutural profunda, que reduza seus impostos e gastos com encargos, e uma dose de ambição para se colocar em um movimento de arranque.

Se economias de países importadores como a China desacelerarem, como o Brasil poderia escapar de seus efeitos negativos em tal situação?
Eu acho que o Brasil poderia começar com o básico que eu falei acima. A atual situação é apenas um sintoma de problemas mais profundos com o papel do Estado, com o impacto de seu histórico, com as décadas de tendências de investimento ultrapassadas, a má infraestrutura etc.

Quais são as perspectivas para a Bolsa de Valores brasileira nos próximos anos?
Nossas previsões dizem que as Bolsas do mundo em desenvolvimento devem crescer por volta de 10% em média em dólar, por ano, nos próximos cinco anos. Não tenho uma previsão específica para o Brasil, mas acho que o país deve ficar abaixo de outros mercados emergentes, especialmente em dólar, já que a moeda ainda está muito cara.

O sr. defende que as diferenças entre a renda per capita dos países ricos e a dos países pobres voltaram para os níveis na década de 50.
Foi Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil (1999-2002), que me mostrou que a renda per capita do país havia crescido de 12% para 25% da renda per capita americana durante o primeiro boom de crescimento dos anos 50 e 60, caiu para 16% durante as décadas perdidas, e voltou a 20% na última década. A experiência brasileira, tal qual uma estrela que morreu e caiu do céu, é uma característica típica dos mercados emergentes.
Um recente artigo do economista político de Harvard Dani Rodrik mostra que antes dos anos 2000 o desempenho dos mercados emergentes como um todo não “convergia” ou alcançava o mundo desenvolvido. Na verdade, a diferença entre a renda per capita entre os países avançados e as economias em desenvolvimento aumentou de maneira estável dos anos 50 aos anos 2000. Foi somente depois dos anos 2000 que o desempenho dos mercados emergentes começou a alcançar o dos países desenvolvidos, mas em 2011 a diferença na renda per capita entre os países ricos e os países em desenvolvimento está de volta ao que era nos anos 50.

O sr. fala que há uma desilusão com os antigos paradigmas econômicos, como os do Japão, União Europeia e o Consenso de Washington, e que novos modelos deverão surgir. Quais seriam esses modelos? E o que havia de errado com cada um dos outros?Modelos surgem com o sucesso das grandes potências. Hoje nenhuma nação desenvolvida é vista como bem-sucedida. A crise da dívida de 2008 minou a credibilidade de todos esses modelos; economias que um dia estavam reivindicando entrada na zona do euro, como Polônia, República Tcheca e Turquia, se perguntam agora se realmente querem entrar em um clube em que muitos de seus membros estão lutando para não se afundarem.

A Turquia, por exemplo, se tornou um exemplo brilhante para os países islâmicos que estão lutando e adorariam seguir o modelo de rápido crescimento turco. Mas o que pôs a Turquia no caminho certo foi a ortodoxia –a redução da dívida, o estrangulamento da superinflação– então o que acabamos vendo agora é um respaldo político islâmico para o consenso de Washington [corte de despesas públicas].

O sr. diz que a noção de convergência a longo prazo entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido é um mito. Por que esse mito ainda é reproduzido?
As ideias relacionadas a um grande boom econômico sempre demoram mais para morrer, mas essa tem demorado mais do que a maioria. Apenas poucas pessoas ainda falam com aquele ideal sobre como a tecnologia poderia fazer do mundo um lugar melhor, coisa que todos ouvíamos até a bolha da internet estourar.

O crescimento em mercados emergentes tem desacelerado profundamente desde 2008, mas você ainda ouve muito sobre convergência, talvez porque seja uma visão transformadora profunda. Seria muito bom se todos os pobres pudessem alcançar os padrões de vida dos ricos, e nós pudéssemos acabar em um mundo onde todos estariam no topo. Imagine: competição global sem perdedores. Temo que não vejo isso acontecer, certamente não em um futuro previsível.

A história sugere que o desenvolvimento econômico é como um jogo de cobras e escadas. Não há um caminho direto para o topo, e há menos escadas que cobras, o que significa que é mais fácil cair do que subir.

Uma nação pode subir as escadas por uma década, duas, três, até topar com outra cobra e cair novamente para o chão, onde deve começar tudo de novo, e talvez de novo e de novo, enquanto os rivais passam por ela.

A percepção de que o jogo de crescimento subitamente se tornou simples –no qual todos podem ser um vencedor– é construída em cima de resultados únicos da última década, quando virtualmente todos os mercados emergentes cresceram juntos. Mas essa foi a primeira e, provavelmente, a última vez que nós veremos essa era de ouro: na próxima década, quase que com certeza, não veremos mais isso.

STF tem plano B para afastar deputados condenados pelo mensalão



Suspensão de direitos políticos de parlamentares seria alternativa a determinar cassação, para evitar conflito com a Câmara


Felipe Recondo
O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Os ministros do Supremo Tribunal Federal devem chegar a uma conclusão prática semelhante, apesar de seguirem caminhos distintos na discussão sobre a perda de mandato dos três deputados condenados por envolvimento no mensalão: João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).

Parte do colegiado votará pela cassação dos mandatos. Outros ministros, mesmo entendendo que essa decisão cabe à Câmara, devem determinar a suspensão dos direitos políticos e consequente afastamento do mandato.


Por um caminho ou por outro, Cunha, Neto e Henry seriam afastados de seus mandatos após a conclusão do julgamento do processo e assim que os acórdãos e julgamento de todos os recursos pendentes contra a condenação forem publicados.

Se seguir o caminho da cassação do mandato - pelas estimativas dos ministros, será a tese majoritária -, o Supremo travará um conflito com a Câmara. Caso se limite a suspender os direitos políticos dos parlamentares, a autonomia do Legislativo para cassar mandatos permanecerá intocável.

Por essa segunda via, os ministros diriam que os parlamentares condenados teriam os direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Como as penas impostas pelos ministros no julgamento do mensalão são elevadas, os deputados ficariam afastados da Câmara até o fim de seus mandatos.

Por essa tese, porém, se um senador fosse condenado a pena de três anos, ele ficaria afastado por esse período, mas poderia retomar o posto, já que os mandatos são de oito anos.

Esse entendimento era encampado pelo ex-ministro Carlos Ayres Britto, que se aposentou antes de ser julgado esse ponto do processo. E conta agora com o apoio de alguns ministros.

A suspensão dos direitos políticos e o consequente afastamento do mandato superaria também a situação considerada esdrúxula por alguns ministros: parlamentares que estariam cumprindo penas na cadeia poderiam votar projetos em votação no Congresso?

A impossibilidade física de parlamentares cumprirem seus mandatos é argumento aventado pelos defensores da cassação imediata dos mandatos, sem necessidade de votação prévia da Câmara.

E terá de ser enfrentada pelos parlamentares que têm dúvidas sobre os efeitos da condenação sobre os mandatos.

Outros crimes. No entanto, essa segunda tese tem um problema, como apontou um dos integrantes da Corte. Os constituintes de 1988 definiram que mandatos de deputados e senadores só seriam cassados por maioria absoluta dos votos da respectiva Casa - Câmara ou Senado.

O propósito é evitar que condenações por crimes de menor potencial ou resultantes de acidentes, por exemplo, fossem o motivo determinante para a perda do mandato.

Se parte dos ministros entende que a condenação, qualquer que seja o crime, gera suspensão dos direitos políticos, esse cuidado expresso pelos constituintes será ignorado.

A condenação por qualquer crime terá como efeito imediato a suspensão total dos direitos políticos.
03 de dezembro de 2012

Adams quis manter o braço direito. Acabou decepado da lista de candidatos ao STF


 


Por Augusto Nunes

Luiz Inácio Adams, chefe da Advocacia Geral da União, insistiu em ter como número 2 o amigo José Weber Holanda.

Como o braço direito caiu nas malhas da Polícia Federal, Adams acabou decepado da lista de candidatos a uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Confira abaixo a  reportagem publicada por VEJA.

02/12/2012

Tentáculos no poder

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA
RODRIGO RANGEL

O ministro Luís Inácio Adams, chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), era, até a semana passada, uma estrela petista em  ascensão. Considerado pelos colegas um técnico competente e discreto, que se mantém distante das picuinhas políticas do dia  a dia do governo e é capaz de enfrentar missões espinhosas, aos poucos ele conquistou o posto de um dos mais prestigiados  conselheiros do restrito gabinete presidencial. Dentro e fora do Palácio, era apontado como nome certo para ocupar a  poderosa Casa Civil, numa reforma ministerial que deve ocorrer no início de 2013. Havia ainda um intenso lobby no Palácio  do Planalto pela sua indicação à próxima vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. As possibilidades, enfim, eram  inúmeras e todas elas auspiciosas. Eram. Engolfado pelas investigações da Polícia Federal que revelaram a existência de uma quadrilha cujos tentáculos se estendiam  à sua antessala, Luís Adams acabou envolvido no mais recente escândalo produzido  por petistas, que mistura mais uma vez poder e corrupção.
Ainda que não figure no rol de investigados, o ministro ficou em situação delicada com a descoberta de que o balcão de venda  de facilidades do qual participava Rosemary Noronha, a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, se  estendia à AGU, um órgão de estado por onde passam interesses financeiros monumentais e cuja atribuição principal é  defender juridicamente a União. Isso, por si, já seria grave. Mas é ainda pior: o braço-direito de Adams, José Weber Holanda,  é apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como integrante da quadrilha. Amigo pessoal do ministro, ele foi  escolhido por Adams para ocupar o posto de advogado-geral da União adjunto, apesar de responder a processos por  irregularidades cometidas quando exerceu cargos importantes em outros órgãos federais. Weber foi indiciado, segundo a  polícia, por produzir pareceres jurídicos sob medida para atender aos interesses da quadrilha. Em troca, receberia presentes e  favores.
José Weber, também servidor de carreira da AGU, foi chefe direto de Luís Adams doze anos atrás. Até a semana passada, ele  era o braço-direito do ministro. Ocupava uma sala contígua ao seu gabinete, ao qual tinha acesso livre. Com frequência, o  assessor representava Adams em audiências com políticos e empresários. Internamente, funcionários da AGU que  precisavam tratar de assuntos de trabalho com o ministro tinham de passar antes pelo crivo de Weber. O adjunto também  costumava distribuir ordens em nome do chefe. E foi nessa condição privilegiada que ele se envolveu com o grupo de petistas  que conseguia facilidades usando atalhos construídos com base em amizades estratégicas dentro do governo. O caso mais  revelador envolve o ex-senador da República Gilberto Miranda, o agora notório petista Paulo Vieira e duas valiosas ilhas no  litoral de São Paulo.
Há anos o ex-senador trava uma disputa judicial pela posse da Ilha de Cabras, onde construiu uma mansão. Após perder a  causa na Justiça paulista, que o condenou a pagar uma indenização por danos ambientais, ele tentou uma manobra para  anular a sentença. Precisava, porém, do apoio da AGU — e o conseguiu, segundo a polícia, usando os serviços da quadrilha.  Hoje, o processo está no Supremo Tribunal Federal (STF), exatamente como pretendia o ex-senador. Existe um segundo caso  estranhíssimo, de interesse do mesmo Gilberto Miranda e também envolvendo uma ilha, desta vez nas proximidades do Porto  de Santos. O ex-senador precisava de um parecer para obter as licenças para a construção de um complexo portuário de 2  bilhões de reais. Novamente com a ajuda da quadrilha, conseguiu. A polícia diz que, pelo trabalho, Weber recebeu uma viagem. Ele nega (veja o quadro abaixo). “Do ponto de vista pessoal, eu me sinto magoado, chocado, triste. Ainda acredito  que ele tenha condições de esclarecer”, disse Luís Adams.
Quem fazia as encomendas a José Weber era Paulo Vieira, acusado de chefiar o esquema — o mesmo que tinha como parceira  de negócios Rosemary Noronha, a amiga do ex-presidente Lula. Weber figura nas investigações como personagem principal  do esquema entranhado na AGU, mas há evidências de que os malfeitos agora descobertos podem estar enraizados há mais  tempo no órgão. Antes mesmo de Luís Adams assumir o comando. Pelo menos três servidores de carreira que ocuparam  postos-chave na hierarquia da AGU durante a gestão de José Dias Toffoli, hoje ministro do STF, como advogado-geral,  aparecem no inquérito mantendo contatos suspeitos com Paulo Vieira — os procuradores Mauro Hauschild, Evandro Gama e  Jefferson Carús. Esse último chegou a ser detido na semana passada, acusado de favorecer interesses da quadrilha nos Correios. Outro detalhe: a primeira manifestação favorável no processo que envolve uma das ilhas do ex-senador Gilberto  Miranda ocorreu no período em que todos esses personagens comandavam a AGU.

Fui envolvido nisso

José Weber Holanda era o braço-direito do ministro Luís Inácio Adams. Exonerado do cargo na semana  passada, como suspeito de integrar uma quadrilha que negociava pareceres técnicos de órgãos do governo,  Weber diz que não tinha consciência de que estava sendo envolvido pelo esquema.

O senhor foi acusado de ter recebido vantagens em troca de pareceres de interesse da quadrilha.
Nunca recebi nenhuma benesse de ninguém para dar parecer. Estão me acusando de receber passagens de  cruzeiro. Eu comprei minhas passagens de cruzeiro, pagas com o cartão da minha esposa em dez vezes sem  juros. Tenho como provar.
Mas a AGU, segundo a polícia, atuou em favor dos interesses do ex-senador Gilberto Miranda.
O ex-senador me pediu para ver se era possível agilizar uma petição que a AGU tinha feito junto ao ministro Joaquim Barbosa. Queria que a União fosse recebida no processo como interessada. Eu disse a ele que o  ministro Joaquim Barbosa não atende partes, mas que veria com meu pessoal como andava a situação do  processo. Foi só isso.
O fato, porém, é que a AGU acabou atuando alinhada com os interesses do ex-senador.
A ilha estava sendo declarada propriedade estadual. A Secretaria do Patrimônio da União estava dizendo que a  ilha era federal. O processo que chegou à Advocacia-Geral da União era “em tese”. Eram interesses que estavam  em conflito de competência jurídica. Isso é o que foi submetido. Agora, o que estava por trás disso eu não sabia.  A primeira manifestação, aliás, foi dada pela administração passada, quando o ministro era o Toffoli (Dias  Toffoli, ex-chefe da AGU e atual ministro do Supremo).
Mas o senhor tinha relações com Paulo Vieira, que foi preso acusado de chefiar a quadrilha.
Eu agi de boa-fé. Achei que estivesse tratando com pessoas sérias, com pessoas de boa índole. Esse Paulo Vieira  é uma pessoa indicada pelo presidente da República, sabatinada pelo Senado, foi da Antaq (Agência Nacional de  Transportes Aquaviários), diretor da ANA (Agência  Nacional de Águas), era representante do governo na Codesp (Companhia Docas de São Paulo). Como é que se pode dizer que um cara desses não é ficha-limpa? Para ser indicada, uma pessoa dessas tem de ter reputação ilibada. Está no regulamento das agências.
No entanto, agora está evidente que havia gente ganhando dinheiro e fazendo tráfico de influência.
Se tudo o que está nos autos for comprovado, realmente havia uma quadrilha tentando lesar o patrimônio da  União. Volto a dizer: acredito no trabalho da polícia, que é um trabalho benfeito. Mas eu fui envolvido nisso.


Ela acha que manda. Ela é arrogante. É insuportável...


O Globo

O ano é 1997. Luiz Inácio Lula da Silva ainda sonha ser presidente. Os petistas se reúnem, em seu XI Encontro Nacional, no antigo Hotel Glória, no Rio. De calças justas e um cinto largo, com detalhes em metal, Rosemary Noronha cruza o saguão aos gritos. Vai ralhar com um repórter que, inadvertidamente, recolhera de uma mesa cópias das teses que seriam debatidas pelo partido.


Rose, como é conhecida, tinha a função de secretária da presidência do PT, na época exercida por José Dirceu, recém-condenado a dez anos e dez meses de prisão no escândalo do mensalão. Foi para Dirceu que ela ligou, na manhã do último dia 23, para pedir ajuda, quando a Polícia Federal amanheceu em sua casa para fazer uma busca ao deflagrar a Operação Porto Seguro.


Dirceu ficou furioso, contaram seus interlocutores. Rose ligou, também, para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para reclamar que os agentes da PF haviam entrado na residência e estavam recolhendo papéis, computadores e o que mais parecesse suspeito. Cardozo não atendeu. — O que ela esperava? Que nós fôssemos parar porque ela estava falando com o nosso chefe? — ironiza uma delegada da Polícia Federal.


Rose podia mesmo esperar que o ministro a ajudasse. Desde os tempos de secretária do PT, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo coleciona desafetos porque reina, ou tenta reinar, absoluta nos bastidores do enclave petista. Tem relação muito próxima com o ex-presidente Lula. Em agosto de 1997, uma cena de gentileza explícita de Lula chamou a atenção em um ensaio da Mangueira, do qual participava a cúpula petista. Servido pelo garçom, Lula se levantou da mesa onde estava para levar uma bandeja de salgados até Rose.


Desde 2003, quando foi nomeada por Lula para trabalhar na Presidência, Rose fez 24 viagens ao exterior na comitiva presidencial. Ela tinha direito a passaporte diplomático. A volta ao mundo não impediu que quase brigasse com Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) acusado de chefiar a quadrilha de corrupção e tráfico de influência. O motivo da discussão foi simplório: ela queria fazer um cruzeiro entre Santos e Rio com a presença da dupla sertaneja Bruno e Marrone.


No gabinete da Presidência, Rose foi ganhando cada vez mais espaço. Gostava de ser chamada de “madame”, de dar ordens e de usar coisas que considerava chiques. A ex-bancária, hoje com 57 anos e duas filhas, adorava ostentar poder. Arrumava confusão com porteiros e seguranças do prédio do Banco do Brasil onde fica o escritório da Presidência.


Rose ganhou o cargo após a saída de um dos aliados de Lula, José Carlos Espinoza. Se, como secretária do PT, gritava com repórteres, como chefe de gabinete chegava até a passar pito em ministros. Em uma cena dessas, em que tentou impedir que um ministro próximo de Lula fizesse uma reunião em determinada sala, ouviu-se do ministro: — Ela acha que manda.


Se os petistas temiam Rose por sua proximidade com o poder, hoje temem falar sobre a ex-chefe de gabinete. — Ela é arrogante. Acha que manda mais do que manda. É insuportável — reclama antigo funcionário do PT, que prefere não se identificar.


Nos e-mails interceptados pela PF na operação Porto Seguro, Rose faz questão de mostrar influência a Paulo Vieira, que, segundo ela, é seu amigo há dez anos. Cita PR (presidente da República, como chama Lula mesmo depois do governo Dilma) e JD (José Dirceu). No prédio onde mora, no bairro Bela Vista, em São Paulo, os vizinhos a consideram uma pessoa discreta. Um deles diz que ela “se acha porque anda com o povo de Brasília”. Quando começou no cargo de secretária no PT, nos anos 1990, a ex-bancária era mais dócil.


Nos e-mails trocados pelos irmãos Vieira, indiciados pela PF, há muitas reclamações contra Rose. Ela é descrita como “uma máquina de gastar”. Em nota divulgada na quinta-feira, Rose afirmou que é inocente e que nunca fez nada ilegal ou irregular que favorecesse Lula ou Dirceu. A Revista Época deste sábado afirma que Rose frequentemente se apresentava como “namorada” do ex-presidente Lula para conseguir negociar assuntos de interesse privado.

Rose desceu do avião presidencial do Lula, em Portugal, com quase R$ 70 milhões.



Blog do Garotinho

Na nota anterior dei a pista sobre a existência de uma conta na cidade do Porto (Portugal), na agência central do Banco Espírito Santo, onde foram depositados no 25 milhões de euros. Imediatamente comecei a receber muitas ligações de jornalistas pedindo mais informações a respeito do assunto. Recorri à minha fonte que me deu mais detalhes esclarecedores de como tudo teria ocorrido. Vocês vão cair para trás.  

Como já foi tornado público, Rosemary era portadora de passaporte diplomático, mas o que não foi revelado é que ela também era portadora autorização para transportar mala diplomática, livre de inspeção em qualquer alfândega do mundo, de acordo com a Convenção de Viena. Para quem não sabe esclareço que o termo "mala diplomática" não se refere específicamente a uma mala, pode ser um caixote ou outro volume.

Segundo a informação que recebi, Rosemary acompanhou Lula numa viagem a Portugal. Ao desembarcar foi obrigada a informar se a mala diplomática continha valores em espécie, o que é obrigatório pela legislação da Zona do Euro, mesmo que o volume não possa ser aberto.

Pasmem, Rose declarou então que havia na mala diplomática 25 milhões de euros. Ao ouvir o montante que estava na mala diplomática, por medida de segurança, as autoridades alfandegárias portuguesas resolveram sugerir que ela contratasse um carro-forte para o transporte.

A requisição do carro-forte está na declaração de desembarque da passageira Rosemary Noronha, e a quantia em dinheiro transportada em solo português registrada na alfândega da cidade do Porto, que exige uma declaração de bagagem de acordo com as leis internacionais. Está tudo nos arquivos da alfândega do Porto.

A agência central do Banco Espírito Santo na cidade do Porto já foi sondada sobre o assunto, mas a lei de sigilo bancário impede que seja dada qualquer informação. Porém a empresa que presta serviço de carros para transporte de valores também exige o pagamento por parte do depositário de um seguro de valores, devidamente identificado o beneficiário e o responsável pelo transporte do dinheiro.

Na apólice do seguro feito no Porto está escrito: "Responsável pelo transporte: Rosemary Noronha". E o beneficiário, o felizardo dono dos 25 milhões de euros, alguém imagina quem é? Será que ele não sabia? A coisa foi tão primária que até eu fico em dúvida se é possível tanta burrice.  

Esses documentos estão arquivados na alfândega do aeroporto internacional Francisco Sá Carneiro, na cidade do Porto. O dinheiro está protegido pelo sigilo bancário, mas os demais documentos não são bancários, logo não estão sujeitos a sigilo. A apólice para transportar o dinheiro para o Banco Espírito Santo é pública, e basta que as autoridades do Ministério Público ou da Polícia Federal solicitem às autoridades portuguesas.

Este fato gravíssimo já é do conhecimento da alta cúpula do governo federal em Brasília, inclusive do ministro da Justiça. Agora as providências só precisam ser adotadas. É uma bomba de muitos megatons, que faz o Mensalão parecer bombinha de festa junina.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Rose e a sedução do poder



De onde vinha a influência de Rosemary de Noronha, a mulher que se apresentava como “namorada” de Lula – e, com isso, nomeava afilhados, interferia em órgãos do governo e recebia recompensas


DIEGO ESCOSTEGUY E ALBERTO BOMBIG, COM LEOPOLDO MATEUS, MARCELO ROCHA, MURILO RAMOS, FLÁVIA TAVARES E LEANDRO LOYOLA



NO PERU Luiz Inácio Lula da Silva (à dir.) em viagem ao Peru, em maio de 2008, com Rosemary no detalhe. Ela viajou 23 vezes ao exterior na comitiva do presidente (Foto: Celso Junor/Estadão Conteúdo)
Luiz Inácio Lula da Silva (à dir.) em viagem ao Peru, em maio de 2008, com Rosemary no detalhe. Ela viajou 23 vezes ao exterior na comitiva do presidente

(Foto: Celso Junor/Estadão Conteúdo)
 
(Trecho da reportagem de capa da edição de ÉPOCA desta semana)
Capa da revista ÉPOCA - edição 759 (Foto: Reprodução/Revista ÉPOCA)

Uma triste passagem de bastão marcou a política brasileira na semana passada: saiu de cena um escândalo político; entrou outro.

De um lado, o Supremo Tribunal Federal fez história ao definir as penas dos condenados do mensalão.

Treze dos réus, incluindo o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, vão para a cadeia em tempo integral – uma rara ocasião na história brasileira em que poderosos pagarão por seus crimes.

De outro lado, uma nova personagem irrompeu na cena política nacional: Rosemary Nóvoa de Noronha, ou Rose.

Falando em nome de um padrinho político poderoso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Rose trabalhou pela nomeação de vários afilhados no governo federal.

Ao se dirigir a diretores de empresas estatais ou órgãos do governo, Rose frequentemente se apresentava como “namorada” do ex-presidente.

Um dos afilhados de Rose, Paulo Vieira, foi preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Porto Seguro, acusado de chefiar uma quadrilha que cobrava propinas de empresários, em troca de pareceres jurídicos favoráveis em Brasília – fosse no governo, nas agências reguladoras ou no Tribunal de Contas da União.

Rubens Vieira, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), irmão de Paulo e outro dos afilhados de Rose, também foi preso.

Tão logo o caso veio a público, na sexta-feira dia 23 de novembro, Rose foi exonerada do cargo que exercia, como chefe do gabinete da Presidência em São Paulo.

“CHEFÃO” Em e-mail, Rosemary avisa Paulo Vieira que falou com o “chefão” sobre sua nomeação para a diretoria da Agência Nacional de Águas. O chefão era o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: reprodução)
 
Como foi possível que Rose, uma simples secretária do PT, acumulasse tanto poder e prestígio, a ponto de influenciar nos rumos do governo federal – e causar tamanho salseiro?

“A investigação demonstra que o poder de Rose advinha da relação dela com Lula. Não há elementos, entretanto, de que o ex-presidente soubesse disso ou tivesse se beneficiado diretamente do esquema”, afirma uma das principais autoridades que cuidaram do caso.

“Lula cometeu o erro de deixar que essa secretária se valesse da íntima relação de ambos”, afirma um amigo do casal Lula e Dona Marisa. “Deveria ter cortado esse caso há muito tempo.” Os autos do processo, de que ÉPOCA obteve uma cópia integral, e entrevistas com os principais envolvidos revelam que:


1) Lula, ainda presidente da República, prestou – mesmo que não soubesse disso – três favores à quadrilha. Por influência de Rose, indicou os irmãos Paulo Vieira e Rubens Vieira para a direção, respectivamente, da ANA e da Anac.

Lula, chamado em e-mails de “chefão” ou “PR” por Rose, também deu um emprego no governo para a filha dela, Mirelle;

2) A quadrilha espalhou-se pelo coração do poder – e passou a fazer negócios. Os irmãos Vieira, aliados a altos advogados do PT que ocupavam cargos no governo, passaram a vender facilidades a empresários que dependiam de canetadas de Brasília;

3) Rose, gabando-se de sua relação com Lula, tinha influência no Banco do Brasil. Trabalhou pela escolha do atual presidente do BB, Aldemir Bendine, indicou diretores (um deles a pedido de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT condenado no caso do mensalão), intermediou encontros de empresários com dirigentes do BB e obteve um contrato para a empresa de construção de seu marido;


4) Despesas do procurador federal Mauro Hauschild, do PT, ex-chefe de gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli e, depois, presidente do INSS, foram pagas pela quadrilha. É uma situação similar à do recém-demitido número dois da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda – que, segundo a PF, recebeu propina;


5) A PF, mesmo diante das evidências de que Rose era uma das líderes da quadrilha, optou por não investigá-la. Não pediu o monitoramento das comunicações de Rose e não quis detonar a Operação Porto Seguro no começo de setembro, quando a Justiça autorizara as batidas e prisões. Esperou até o fim das eleições municipais.


De acordo com o relato feito a ÉPOCA por um alto executivo que trabalhou na Companhia das Docas do Porto de Santos (Codesp), Rose evocava sua relação com Lula para fazer indicações e interferir, segundo seus interesses, nos negócios da empresa.

Nessas ocasiões, diz o executivo, Rose se apresentava como “namorada do Lula”. “Ela jogava com essa informação, jogava com a fama”, diz ele.

Lula fez três favores à quadrilha dos pareceres enquanto era presidente da República
Uma história contada por ele ilustra o estilo de atuação de Rose.

Em 2005, uma funcionária da Guarda Portuária passou a dizer na Codesp que fora indicada para o cargo porque era amiga da “namorada do Lula”.

O caso chegou ao conhecimento da direção do Porto de Santos.

Um diretor repreendeu a funcionária e chegou a abrir uma sindicância para apurar o fato – e ela foi demitida.

O executivo conta que, contrariada, Rose ligou para executivos para cobrar explicações e reafirmou o que a amiga havia dito: “Eu sou a namorada do Lula”. Os executivos acharam que ela blefava. “No começo, a gente não sabia que ela era tão forte”, diz um deles.

No Porto, ela foi responsável pelas indicações de Paulo Vieira e do petista Danilo de Camargo, ligado ao grupo do ex-ministro José Dirceu no PT.

Os dois passaram a atuar em parceria com Valdemar Costa Neto, o deputado pelo PR condenado à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do mensalão, responsável por indicar o presidente da Codesp.

Um dos interesses desse grupo era perdoar uma parcela da dívida da empresa transportadora Libra com a Codesp.

O valor da dívida era de R$ 120 milhões.

O acordo foi fechado no Ministério dos Transportes, então controlado pelo grupo ligado a Costa Neto, e contou com o aval de Camargo, presidente do Conselho de Administração.

O PT de Santos, liderado pela ex-prefeita Telma de Souza, ficou revoltado com os termos do acordo e resolveu cobrar explicações de Camargo.

Novamente Rose entrou em ação para defender os interesses da Libra, do PR de Costa Neto e de Paulo Vieira.

Na ocasião, diz o alto executivo, ela evocou novamente o nome de Lula. Nos telefonemas que dava aos petistas contrários ao perdão da dívida, afirma ele, Rosemary sempre mencionava o então presidente.

Rose tem 57 anos, começou jovem na militância política e sua turma, dentro do PT, é uma turma das antigas.

Seus principais interlocutores no partido, além de Lula, são Paulo Frateschi, secretário de organização do PT, e os já mencionados Camargo e Dirceu.

Rose trabalhou como assessora de Dirceu nos anos 1990. Acompanhou de perto sua ascensão à presidência do PT. No total, foram 12 anos de parceria.

Foi no período em que trabalhava com Dirceu que Rose conheceu Lula. Em fevereiro de 2003, com Lula no Planalto, Rose se tornou assessora especial do gabinete regional da Presidência em São Paulo.

Em 2005, tornou-se chefe da unidade.

Seu poder no partido foi crescendo.

Ela fazia triagem informal dos currículos de candidatos a cargos do segundo escalão. Nessa época, começou a exercer influência também no Banco do Brasil.

Rose trabalhou, de acordo com políticos e executivos do setor bancário, pela indicação de Aldemir Bendine para a presidência do BB.


A proximidade com Bendine permitiu que Rose, em 2009, conseguisse um emprego para José Cláudio Noronha, seu ex-marido.

Noronha ganhou a vaga de suplente no Conselho de Administração da Aliança Brasil Seguros, atual Brasilprev.

De acordo com as investigações da PF, Paulo Vieira forjou um diploma de curso superior para que Noronha cumprisse uma exigência da Brasilprev e assumisse a vaga.

Em agosto do ano passado, o mandato de Noronha foi renovado.

Rose era também próxima de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT condenado a oito anos e 11 meses de prisão no caso do mensalão.

Os dois costumavam tomar café no Conjunto Nacional, centro comercial próximo ao prédio do gabinete da Presidência.

A pedido de Delúbio, segundo executivos do BB, ela usou sua proximidade com Bendine para conseguir a nomeação de Édson Bündchen para a superintendência do BB em Goiás, em setembro passado.

Rose circulava tão bem no BB que pairava acima das disputas fratricidas entre seus diretores.

Era próxima também de Ricardo Flores, ex-vice-presidente de crédito e ex-presidente da Previ, o bilionário fundo de pensão dos funcionários do banco.

Flores e Bendine travaram embates corporativos constantes e são considerados inimigos. Isso nunca impediu Rose de se sentir segura para pedir favores a ambos.

Em 25 de março de 2009, Rose pediu a Flores que examinasse um pedido de empréstimo de cerca de R$ 48 milhões da empresa Formitex.

Era um desejo de Paulo Vieira – na época, ele ainda não era diretor da ANA.

“Gostaria que encaminhasse esses dados técnicos ao Dr. Ricardo (Flores) e, se possível, conseguisse uma agenda para o Dr. César Floriano”, diz Paulo em e-mail para Rose que consta do inquérito policial.

Floriano era um dos empresários que bancavam a quadrilha. Em 17 de agosto de 2009, Rose encaminha outro e-mail a Paulo em que pergunta se “aquele assunto do Flores foi resolvido”. Poucos minutos depois, Paulo responde: “As coisas com o Flores estão caminhando bem, ele tem sido muito legal e parece que vamos avançar bastante” (leia o e-mail abaixo).


O poder de Rose era maior do que parecia (Foto: Fabio Motta/Estadão Conteúdo e Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo)


De acordo com a investigação da PF, além do emprego para o ex-marido, Rose usou seus contatos no BB para ajudar o atual, João Vasconcelos.

Documentos apreendidos pela polícia na casa de Rose, em São Paulo, mostram que a construtora de Vasconcelos, a New Talent, obteve um contrato de R$ 1,1 milhão – sem licitação – com a Cobra Tecnologia, subsidiária do BB.

Tratava-se de uma obra de adequação e reforma do novo centro de impressão da empresa em São Paulo.

Mais uma vez, Rose recorreu a Paulo Vieira para forjar documentos.

A Associação Educacional e Cultural Nossa Senhora Aparecida, mantenedora da faculdade de propriedade de Vieira em Cruzeiro, São Paulo, emitiu um falso atestado de capacidade técnica para a New Talent conseguir o contrato com a Cobra.

Em maio de 2010, funcionários da Cobra encaminharam a Vasconcelos o contrato com a New Talent.


... e a quadrilha estava profundamente entranhada no governo (Foto: Hiram Vargas/Esp. CB/D.A Press e ABR)


01/12/2012


Jornal decide contar ao leitor o que os jornalistas e o governo sabiam há muito: Lula e Rosemary, no centro do novo escândalo, eram amantes desde 1993




Um homem público ter uma amante é ou não assunto relevante?



Por Reinaldo Azevedo


Nos EUA, basta para liquidar uma carreira política, como estamos cansados de saber. Foi um caso extraconjugal que derrubou o todo-poderoso da CIA e quase herói nacional David Petraeus.


Desde quando estourou o mais recente escândalo da República, todos os jornalistas que cobrem política e toda Brasília sabiam que Rosemary Nóvoa Noronha tinha sido — se ainda é, não sei — amante de Lula.

Assim define a palavra o Dicionário Houaiss: “Amante é a pessoa que tem com outra relações sexuais mais ou menos estáveis, mas não formalizadas pelo casamento; amásio, amásia”.


Embora a relação fosse conhecida, a imprensa brasileira se manteve longe do caso.

Quando, no entanto, fica evidente que a pessoa em questão se imiscui em assuntos da República em razão dessa proximidade e está envolvida com a nomeação de um diretor de uma agência reguladora apontado pela PF como chefe de quadrilha, aí o assunto deixa de ser “pessoal” para se tornar uma questão de interesse público.


O caso, com todos os seus lances patéticos e sórdidos, evidencia a gigantesca dificuldade que Lula sempre teve e tem de distinguir as questões pessoais das de Estado.

Como se considera uma espécie de demiurgo, de ungido, de super-homem, não reconhece como legítimos os limites da ética, do decoro e das leis.


Outro dia me enviaram um texto oriundo de um desses lixões da Internet em que o sujeito me acusava de “insinuar”, de maneira que seria espúria, uma relação amorosa entre Rose e Lula.

Ohhh!!!

Não só isso: ao fazê-lo, eu estaria, imaginem vocês!, desrespeitando Marisa Letícia, a mulher com quem o ex-presidente é casado.

Como se vê, respeitoso era levar Rose nas viagens a que a primeira-dama não ia e o contrário.


Mas isso é lá com eles. A Rose que interessa ao Brasil é a que se meteu em algumas traficâncias em razão da intimidade que mantinha com “o PR”.

Lula foi o presidente legítimo do Brasil por oito anos. A sua legitimidade para nos governar não lhe dava licença para essas lambanças.

Segue trecho da reportagem da Folha. Volto para encerrar.

*
A influência exercida pela ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, no governo federal, revelada em e-mails interceptados pela operação Porto Seguro, decorre da longa relação de intimidade que ela manteve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Rose e Lula conheceram-se em 1993. Egressa do sindicato dos bancários, ela se aproximou do petista como uma simples fã. O relacionamento dos dois começou ali, a um ano da corrida presidencial de 1994.


À época, ela foi incorporada à equipe da campanha ao lado de Clara Ant, hoje auxiliar pessoal do ex-presidente.

Ficaria ali até se tornar secretária de José Dirceu, no próprio partido.

Marisa Letícia, a mulher do ex-presidente, jamais escondeu que não gostava da assessora do marido.

Em 2002, Lula se tornou presidente.

Em 2003, Rose foi lotada no braço do Palácio do Planalto em São Paulo, como “assessora especial” do escritório regional da Presidência na capital.

Em 2006, por decisão do próprio Lula, foi promovida a chefe do gabinete e passou a ocupar a sala que, na semana retrasada, foi alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal.


Sua tarefa era oficialmente “prestar, no âmbito de sua atuação, apoio administrativo e operacional ao presidente da República, ministros de Estado, secretários Especiais e membros do gabinete pessoal do presidente da República na cidade de São Paulo”.

Quando a então primeira-dama Marisa Letícia não acompanhava o marido nas viagens internacionais, Rose integrava a comitiva oficial.

Segundo levantamento da Folha tendo como base o “Diário Oficial”, Marisa não participou de nenhuma das viagens oficiais do ex-presidente das quais Rosemary participou.

(…)


Procurado pela Folha, o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, afirmou que o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos particulares.

Encerro
Como se vê, Lula considera Rosemary um “assunto particular”, o que soa como confissão.

Só que ela era chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo.

O Brasil pagava o salário do “assunto particular” do Apedeuta.

Ainda assim, ela poderia ter sido uma funcionária exemplar. Não parece o caso…


É um modo de ver a República. O mesmo Lula que classifica a chefe de gabinete da Presidência em São Paulo de “assunto particular” não distingue a linha que separa o interesse público de seus impulsos privados.

PS – Não deixem que a sordidez da história contamine os comentários. Há sempre o risco de se ultrapassar a linha do decoro em temas assim. Façam o que Lula não fez.


01/12/2012