Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A arrogância derrotada

Contra tudo e contra todos, Paes bancou um candidato que sangrava em praça pública
Lauro Jardim O Globo

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro (Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo)
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro
(Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo)

Lula elegeu Dilma em 2010. Cesar Maia elegeu Luiz Paulo Conde em 1996. Paulo Maluf fez Celso Pitta prefeito de São Paulo na mesma eleição. Eduardo Paes também achou que poderia eleger um poste como seu sucessor. O poste Pedro Paulo não ficou de pé e caiu sobre sua cabeça.

Foi a derrota da arrogância. Há exatamente um ano, em outubro de 2015, foi publicada a notícia de que Pedro Paulo era acusado de bater em sua ex-mulher. Era óbvio que deveria ser enterrada ali a então pré-candidatura do preferido de Paes.

Contra tudo e contra todos, Paes bancou um candidato que sangrava em praça pública. Paes confiava no seu taco, nas dezenas de obras transformadoras que entregaria para a Olimpíada (e que, de fato, entregou). Mas avaliou mal o seu escolhido. O maior problema de Pedro Paulo, de acordo com pesquisas feitas pelo próprio PMDB, continuou sendo até o final a encrenca conjugal em que se meteu. Mesmo depois de arquivado o processo pelo STF, a pecha de espancador pairava sobre sua cabeça.

Mas não era o único fator que lhe tirava votos. Pedro Paulo mostrou-se um candidato frágil. Saiu-se muito mal nos debates. Parecia um menino acuado diante dos adversários. Nos programas eleitorais na TV não transmitia credibilidade, não exibia estatura para o desafio. Tinha o maior tempo na televisão. Captou os maiores recursos financeiros. Contratou o marqueteiro mais experiente. Mas nada disso adiantou. Em suma, não convenceu.

Assim, os eleitores que naturalmente fluiriam para um candidato apoiado por um prefeito bem avaliado — e com uma máquina política poderosa na cidade — se dividiram. Na semana passada, o Ibope constatou que 25% dos cariocas consideram boa ou ótima a administração de Paes, 41% a avaliam como regular e 35% aprovam o seu modo de governar.

O prefeito foi incapaz de transferir esse prestígio para o seu candidato. Da mesma forma que Pedro Paulo não teve condições de pegar carona nestes percentuais. Marcelo Crivella, então, lhe roubou um bom naco dos eleitores mais pobres. Carlos Osório e Indio da Costa puxaram para suas urnas os votos de parte substantiva da classe média que aprova a gestão de Eduardo Paes.

Pedro Paulo largou com 3% nas pesquisas no início do ano e subiu aos trancos e barrancos até os 16% de ontem. Do outro lado da ponte-aérea, Geraldo Alckmin também tirou da cartola um candidato que largou com 3% de intenção de votos. João Dória tinha também contra si as figuras mais importantes do próprio partido, mas venceu a partida no primeiro tempo. Paes, ao contrário de Alckmin, inventou um candidato que não deu certo.

Lauro Jardim é jornalista


03.02.2016

0 comentários: