Fabiano Silveira é o segundo ministro de Temer que sai do governo após ser flagrado em conversas
Por Evandro Éboli
O Globo
Manifestação na Esplanada dos Ministérios contra o ministro Fabiano Silveira, que aparece em gravações orientando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a não antecipar informações à Procuradoria-Geral da República na Operação Lava-Jato.
Michel Filho / Agência O Globo
BRASÍLIA - O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, ligou no início da noite desta segunda-feira para o presidente interino Michel Temer e pediu demissão do cargo. Em 18 dias de governo, ele é o segundo ministro que deixa o cargo. Em nota, Silveira negou ter tentado atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato:
"Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente."
Nesta segunda-feira, duas manifestações pediram a saída do ministro. E segundo o Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças de Controle da CGU (Unacon), quase a totalidade dos 250 servidores em cargos de chefia do órgão no país deixaram os postos, também em protesto.
O ministro da Transparência aparece na gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em que orienta o presidente do Senado, Renan Calheiros, a não antecipar informações à Procuradoria-Geral da República na Operação Lava-Jato. Antes de se tornar ministro, Silveira também teria procurado o Ministério Público em busca de informações sobre as investigações contra Renan no esquema de corrupção da Petrobras.
Temer se reuniu hoje com Renan, alguns ministros e assessores mais próximos para avaliar o impacto das gravações e resolveu manter o ministro no governo. A avaliação feita em reunião no Planalto foi que não surgirão fatos novos sobre as gravações de Silveira, e que ele somente teria dado "opiniões esperadas" de uma pessoa do meio jurídico.
Além disso, como o ministro é próximo ao presidente do Senado, sua demissão seria uma forma de indispor Calheiros e Temer em um momento crucial para o governo no Congresso, onde o impeachment corre no Senado e medidas econômicas passarão pelo crivo da Casa.
Segundo relatos, o ministro se mostrou abalado na conversa com Temer, na noite de domingo, quando assistiram juntos às gravações divulgadas pelo Fantástico.
Temer afirmou a Silveira, segundo seus auxiliares, que sua permanência depende dele.
— Não vejo nada de grave no que você disse, mas você tem que avaliar se sentir que está com desgaste pessoal e familiar muito grande — disse o presidente interino a Silveira nesta conversa.
Mesmo com o discurso de que não houve nada comprometedor em sua fala, interlocutores do Planalto reconheceram que a pressão política pela queda do ministro tornou sua permanência insustentável.
Leia a íntegra da nota do ministro:"Recebi do Presidente Michel Temer o honroso convite para chefiar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Nesse período, estive imbuído dos melhores propósitos e motivado a realizar um bom trabalho à frente da pasta.
Pela minha trajetória de integridade no serviço público, não imaginava ser alvo de especulações tão insólitas.
Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito.
Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente.
Reitero que jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos.
A situação em que me vi involuntariamente envolvido – pois nada sei da vida de Sérgio Machado, nem com ele tenho ou tive qualquer relação – poderia trazer reflexos para o cargo que passei a exercer, de perfil notadamente técnico.
Não obstante o fato de que nada atinja a minha conduta, avalio que a melhor decisão é deixar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Externo ao Senhor Presidente da República o meu profundo agradecimento pela confiança reiterada.
Brasília, 30 de maio de 2016.
Fabiano Silveira30 de maio de 2016
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