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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

‘Joaquinzão e Lula’



 JORNAL O TEMPO


ANTONIO MACHADO DE CARVALHO

Os ideólogos do petismo se arrepiam com o julgamento do mensalão. Suas preocupações, no entanto, estão longe de sincera revolta contra a prisão eventual de seus próceres. Espíritos de natureza totalitária não se amedrontam com a cadeia. Acham-na, mesmo, uma espécie de provação, como um martírio que legitimaria suas concepções e lhes geraria, adicionalmente, um título a ser executado no futuro com excelentes dividendos materiais e simbólicos. Declarações recentes do professor Delúbio Soares ─ aceitando ser condenado pelo STF como mais uma “missão partidária” a cumprir ─ assim o demonstram.

Esse tipo de gente se diferencia, e muito, das pessoas comuns, que, em sua larga maioria, temem qualquer restrição à sua liberdade ─ menos, é claro, os psicopatas. Jorge Luis Borges dizia, ironicamente, que a prisão não tem efeitos exclusivamente negativos; ela, por incrível que pareça, fez bem à literatura. Entre suas citações favoritas estariam Marco Pólo e Cervantes, cujas obras nasceram dentro dos cárceres. No Brasil, seriam encontrados, também, bons exemplos, como Graciliano Ramos, para ficar somente num dos casos mais notórios.

A intelectualidade petista ─ vá lá o oxímoro ─ assanha-se, ou fica em contraditório e obsequioso silêncio, por perceber o surgimento no Brasil, pelos acasos da história, de outra referência concreta que possa pautar o comportamento dos indivíduos: Joaquinzão! Aqueles ideólogos sabem que, para conquistar e manter o poder, é fundamental capturar o imaginário das pessoas. Por isso, o endeusamento de personalidades como Stalin, Guevara, Fidel, o Kim da Coreia do Norte, e, claro, Lula da Silva. Tributam a tais figuras apodos sublimes: “Guia Genial dos Povos”, “Grande Timoneiro”, “Amado e Poderoso Líder” e, até, “Deus”, como o fez a ministra Marta Suplicy.

A subserviência de alguns é compartilhada no íntimo por todos os seus confrades. A racionalidade embutida em tal processo é simples e pode ser traduzida numa pergunta: igual a quem eu quero ser quando crescer? Nas periferias, uma resposta vem se destacando. Quer-se ser igual aos bandidos; poucos querem ser como a polícia. Inveja-se a riqueza, mesmo efêmera, o poder e o prestígio dos traficantes. No campo político, a referência massacrante vendida há anos é a do menino retirante que se deu bem, que virou presidente de sindicato e, depois, presidente do Brasil, apelando a golpes de esperteza e de velhacaria: uma encarnação de Malasartes.

Eis que os fatos imprevistos encontram um personagem de outro barro apto a dar novo sentido ao imaginário das massas: o ministro Joaquim Barbosa ou, respeitosamente, o Joaquinzão: retirante pobre e estudioso que venceu na vida pelo esforço e pelo trabalho duro. A punição aos mensaleiros sinaliza ao Brasil, felizmente, que outro modelo humano é possível, sem o cinismo desencantado dos espertalhões que nunca acreditaram que a humanidade pudesse dar um passo à frente.
 
18/10/2012

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