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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O discurso que Serra não faria. É contra as regras do marketing. Ou: Sobre o novo e o velho


A cada alusão depreciativa que leio à idade do tucano José Serra, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, sinto o nojo que qualquer preconceito sempre provoca em mim


Por Reinaldo Azevedo

O curioso é que a mesma imprensa que é politicamente correta no limite da paralisia do pensamento se entrega gostosamente a especulações asquerosas nessa área.
Abaixo, vai um texto que jamais seria dito no horário eleitoral gratuito pelo candidato tucano. Não seria porque certamente seria considerado contrário aos cânones do marketing.

Porque seria considerado dramático demais, quem sabe até incompreensível. Uma das razões por que jamais seria um político é que considero o marketing uma ciência por demais inexata.
É evidente que o que vai abaixo não é uma sugestão para Serra. Não pagaria esse mico. Eu reitero que este é o discurso que ele não faria.

O que vai abaixo encerra um entendimento deste escriba da realidade política e dos valores que estão em disputa nessa eleição. E é composto também de fragmentos de discurso que ele próprio já fez.

*

Eu lhes trago uma mensagem antiga, que se renova a cada dia: a democracia, com todas as suas imperfeições, ainda é o melhor caminho para resolvermos as nossas diferenças.
Eu lhes trago aqui uma convicção antiga, que se prova verdadeira a cada dia: a igualdade sem a liberdade é justiça tirana; a liberdade sem a busca da igualdade é injustiça cordial. E nós somos aqueles que lutam por um mundo justo, porém amoroso.
Eu lhes trago aqui uma crença antiga, que se faz viva a cada dia: a única razão de ser de um governo, em qualquer esfera, é cuidar das pessoas. E esse cuidado implica criar as condições para que cada brasileiro tenha plenas condições de cuidar de si mesmo.
Sou antigo porque acredito na democracia.
Sou antigo porque acredito na igualdade.

Sou antigo porque acredito na liberdade.

Sou antigo porque acredito na Justiça.

Sou antigo porque acredito na eficiência.

Sou antigo porque acredito na autonomia.
E, por isso, minhas caras, meu caros, por isso mesmo, eu sou muito jovem. Aos 70 anos — eu tenho orgulho da minha idade, eu tenho orgulho da minha luta, eu tenho orgulho da minha história —, eu posso lhes dizer que a idade de uma mulher e a idade de um homem não se medem apenas pelo tempo que viveram, mas também por sua experiência e por sua capacidade de se renovar.
A luta por democracia, por igualdade, por liberdade e por justiça é bem mais velha do que eu, bem mais velha do que todos nós. Ela acompanha a trajetória humana desde os seus primórdios. Que proclamem por aí: a experiência que acumulei em diversos cargos públicos vale bem mais, se quiserem, do que os 70 anos que tenho.
A juventude de uma mulher e de um homem está na sua ousadia.
A juventude de uma mulher e de um homem está no combate ao preconceito.

A juventude de uma mulher e de um homem está na sua inquietude.
E eu tenho a satisfação de ter construído uma carreira política que ousou dizer “não” ao arbítrio, que lutou contra o peso das ideias mortas, que soube se renovar e se preparar para o futuro.
O que pode haver de mais velho neste país do que a incompetência?
O que pode haver de mais velho neste país do que a aposta na impunidade?

O que pode haver de mais velho neste país do que a aposta no vale-tudo?

O que pode haver de mais velho neste país do que a corrupção, que rouba a o futuro de nossas crianças e de nossos jovens e sequestra o presente de nossos homens e mulheres?
Velha, no Brasil, é velhacaria!
Velho, no Brasil, é o autoritarismo!

Velho, no Brasil, é o vale-tudo.
Hitler se tornou chanceler da Alemanha antes de completar 44 anos. Todos conhecem as consequências. Fez o que fez porque era jovem? Não! Produziu a tragédia que produziu porque, na verdade, velhas eram suas ideias. Konrad Adenauer assumiu a chancelaria da Alemanha Ocidental, em 1949, aos 73 anos e conduziu o país até os 87 anos. Só deixou o Parlamento ao morrer, em 1967, aos 91!
Hitler matou milhões porque, sendo jovem, era muito velho.
Adenauer salvou a democracia porque, sendo velho, era muito jovem.
Podem me chamar de velho. Fico feliz que não possam me chamar de velhaco. Os jornalistas lembrarão que Ulysses Guimarães já disse isso antes. É verdade. Foi na disputa eleitoral de 1989, quando perdeu para Lula e Collor.
Ulysses perdeu a eleição, mas não perdeu a vergonha na cara. Eu quero, sim, ganhar a eleição. Mas, para tanto, não aceito a perder a vergonha.
Encerro
É isso. Alguém tem de ter vergonha, incluindo partes consideráveis da imprensa, nesse processo eleitoral. Nem que seja um dos candidatos à Prefeitura!
PS – Alguns analfabetos estão dizendo que recorrer ao nazismo é um clichê etc e tal. É coisa de quem não sabe ler. Não recorri ao nazismo porcaria nenhuma! Empreguei exemplos extremos para demonstrar que idade não define qualidade das ideias. Ou define? (observação postada na manhã de quarta)
04/09/2012


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