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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Araújo cita Anchieta, Renato Russo e Ave Maria em tupi ao tomar posse no Itamaraty


Novo chanceler diz que vai 'libertar a política externa brasileira', que está 'presa fora de si mesma'

O Globo
Ernesto Araújo disse que, com a eleição de Bolsonaro, o Brasil foi libertado pela verdade Foto: Adriano Machado / Reuters


Com citações em latim, grego e tupi, e menções ao padre José de Anchieta, a Renato Russo, a Raul Seixas, a Dom Sebastião, que combateu os muçulmanos, e à oração da Ave Maria, entre outras, o novo chanceler, Ernesto Araújo, tomou posse nesta quarta-feira prometendo "libertar e política externa brasileira e o Itamaraty".

— O Brasil está preso fora de si mesmo e a política externa está presa fora do Brasil — diagnosticou Araújo, que afirmou que trabalhará "pela pátria" e "não pela ordem global". — Queríamos ser um bom aluno na escola do “globalismo e achávamos que isso era tudo. Eramos um país inferior. O Brasil volta a sentir o que sente e ser o que é

Em seu primeiro discurso público desde a indicação, Araújo seguiu a mesma tônica de seus artigos e blogs, e fez uma fala de ares românticos, motivacionais e grandiosos, misturando a exaltação de uma redescoberta de tradições supostamente esquecidas com críticas à globalização.

O chanceler também se referiu indiretamente a seus críticos, e disse que irá provar que a condução pragmática da política exterior, em questões como comércio, é compatível com a alta carga ideológica presente de suas declarações.

— Um dos instrumentos do ‘globalismo é espalhar que para fazer comércio e negócio não se pode ter ideias e espalhar valores — afirmou. — Com um sentido de harmonia e missão, formularemos programas para desenvolver cada relação de maneira dinâmica.

O chanceler defendeu a aliança do Brasil com países que cultivam o amor ao nacionalismo, citando especificamente Israel, Itália, Polônia e Hungria — todos regidos por governos ultraconservadores — como nações “amadas”, assim como vizinhos latino-americanos que “se libertaram do Foro de São Paulo”. Ele também afirmou que combaterá o que chamou de ódio a Deus e à pátria, e que não vê o ódio a estrangeiros como um problema do mundo contemporâneo.

— A xenofobia não é um problema. A “oikofobia”, sim — afirmou, explicando que o termo significa “ódio ao lar”.
'Uma aventura magnífica'

No começo de seu discurso, Araújo citou o evangelhista João — "Conheceis a verdade e a verdade vos libertará" — e apresentou três conceitos gregos que conduziram a sua exposição: o conhecimento (“gnosis”), a verdade (“aleteia”) e a liberdade (eleutheria).

Ele afirmou que o conceito de liberdade está desacreditado no Brasil, mas que, sob Bolsonaro, adquire nova relevância. O presidente, afirmou, libertou o Brasil e revelou a verdade sobre o país.

Araújo disse que o Itamaraty, mais do que outras instituições brasileiras, salvaguarda tradições e valores sociais, mas que este papel de protetor perdeu-se em eras mais recentes. O ministro afirmou que a recuperação deste legado é sua missão.

— Fazemos parte de uma aventura magnífica. O Itamaraty voltou porque o Brasil voltou.

A maior parte de suas referências a medidas concretas concentrou-se na parte final de seu discurso. O modelo de negociação da instituição, ele disse, baseia-se na década de 1990 e está desatualizado, não sendo “direcionado às potencialidades concretas”. As relações bilaterais e multilaterais do ministério sofrerão uma mudança e passarão a ser “orientadas para resultados concretos”, afirmou.

— Investiremos em negociações multilaterais sobretudo para a OMC, onde o Brasil entrará com peso — disse. — Hoje negociamos em uma posição de fraqueza, quando deveríamos negociar em uma posição de força.

Araújo disse que, em foros internacionais, o Brasil defenderá a soberania, a liberdade de expressão e a liberdade de crença. O ministro afirmou também que o maior direito humano “é o direito de nascer”, em uma crítica ao aborto.

O ministro disse que não irá abrir o Itamaraty para pessoas de fora do ministério. Em referência à sua decisão de promover diplomatas da parte de baixo da carreira, ele a justificou como uma medida de flexibilidade destinada a “arejar o fluxo da carreira e estimular os colegas a ocupar esses cargos”.

— Não vamos abrir o Itamaraty para pessoas fora da carreira. O presidente confia na capacidade desta casa — afirmou.

Araújo também disse que irá rever o plano de carreira dos diplomatas, uma das críticas frequentes do corpo diplomático. O chanceler fez muitas referências a uma proximidade com o povo, afirmando que o ministério encantou-se pela sua própria imagem e perdeu contato com a população.

O chanceler fez críticas à imprensa, fazendo uma contraposição entre ela e artistas de forte teor midiático.

— Vamos ler menos [a revista de Relações Internacionais] Foreign Affairs e mais Clarice Lispector. Menos New York Times e mais José de Alencar. Menos CNN e mais Raul Seixas.

O ministro também não se esquivou do risco de ser acusado de militarista, dizendo diversas vezes estar em uma luta.

— Não escutem o globalismo quando diz que paz é não lutar — afirmou. — A cautela, prudência, pragmatismo não nos ensinam para onde ir.


02/01/2019

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