Presidente francês tenta conter violência de manifestantes irritados com aumento do preço dos combustíveis, mas tem dificuldades para encontrar interlocutores no movimento dos ‘coletes amarelos’, um grupo difuso e sem liderança clara
O Estado de S.Paulo
REUTERS e AFP
PARIS - O presidente da França, Emmanuel Macron, comandou neste domingo, 2, uma reunião de seu gabinete para tentar conter a onda de protestos que há três semanas se espalhou pela França. Após o encontro, Macron não descartou decretar estado de emergência, regime de exceção que reforça os poderes da polícia, da Justiça e do Ministério Público – o mesmo decretado após os atentados de novembro de 2015.
A “rebelião dos coletes amarelos”, como ficou conhecido o movimento, protesta contra o aumento do preço dos combustíveis. No sábado, os manifestantes transformaram as ruas de Paris em praça de guerra. O quebra-quebra ocorreu em meio aos mais conhecidos cartões postais da capital.
Os manifestantes viraram carros, montaram barricadas, queimaram latas de lixo e quebraram vitrines de lojas e agências bancárias. Para dispersar os protestos, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água. O Arco do Triunfo foi tomado por uma nuvem de fumaça.
Imagens de TV mostraram o interior do Arco do Triunfo sendo saqueado, a estátua de Marianne, símbolo da república francesa, destruída, e pichações no lado de fora do monumento com slogans anticapitalistas e pedidos de renúncia de Macron.
s protestos já são considerados os mais violentos das últimas décadas. Um total de 136 mil pessoas participaram de manifestações em toda a França. A violência deixou 263 feridos, sendo 133 na capital, e 378 pessoas foram detidas, segundo balanço oficial divulgado neste domingo.
Para piorar o quadro, Macron estava em Buenos Aires, participando da cúpula do G-20, de onde tentou demonstrar que tem o controle da situação. “Os responsáveis por essa violência querem o caos. Eles traem as causas que afirmam servir. Eles serão identificados e responsabilizados pelas suas ações na Justiça. Respeitarei sempre as contestações e a oposição, mas nunca aceitarei a violência”, disse o presidente.
Os manifestantes protestam contra o aumento no preço dos combustíveis e a perda de poder aquisitivo da população. O movimento, que começou no dia 17 de novembro, adotou como símbolo o “colete amarelo”, que é uma peça usada para que os motoristas fiquem mais visíveis em caso de emergências em estradas.
Diálogo
Macron ordenou ao primeiro-ministro, Édouard Philippe, que mantenha diálogo com líderes políticos e manifestantes para tentar estancar a onda de protestos. O problema é que o movimento não tem uma liderança clara e se organiza por meio das redes sociais, estando desvinculado de qualquer comando político ou sindical.
Philippe até que tentou. Depois de disparar vários telefonemas – não se sabe exatamente para quem –, o primeiro-ministro marcou uma reunião com líderes dos “coletes amarelos” para sexta-feira na residência oficial de Matignon. Foi um fiasco. Apenas dois representantes apareceram.
Após os episódios de sábado, algumas vozes do governo sugeriram mudanças. “Pecamos por estarmos muito distantes da realidade dos franceses”, declarou Stephane Guerini, novo líder do partido de Macron, LREM (“A República em Marcha”).
O ministro do Interior, Christophe Castaner, reconheceu que o governo errou ao não discutir mais a necessidade de abandonar o petróleo, já que a revolta ocorreu em razão de um imposto sobre combustível destinado a financiar a transição ecológica. Na reunião com Macron, Castaner foi incumbido de fazer “adaptações” nos procedimentos de segurança e preparar a polícia para futuros protestos.
Segundo o presidente, os distúrbios “nada têm a ver com a expressão do descontentamento legítimo dos coletes amarelos”, mas estaria infiltrado por militares de extrema direita e extrema esquerda, bem como jovens dos subúrbios e anarquistas.
Para entender: movimento sem líderes
A rebelião dos “coletes amarelos” surgiu no dia 17 de novembro, com manifestantes bloqueando estradas e impedindo o acesso a shoppings, depósitos de combustível e aeroportos. O movimento se opõe ao aumento do preço dos combustíveis e à queda do poder de compra da população. A maior dificuldade do governo é que o grupo não tem estrutura nem liderança clara. Além disso, autoridades suspeitam que grupos violentos de extrema direita e extrema esquerda, bem como jovens dos subúrbios, tenham se infiltrado nos protestos. /02 Dezembro 2018
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