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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Política externa voltará a servir ao país, ‘jamais a um partido’, diz Serra


Transmissão de posse no Itamaraty foi realizada nesta quarta-feira

Por André de Souza e Maria Lima
O Globo
O ministro das Relações Exteriores, José Serra
André Coelho / Agência O Globo 11/05/2016

BRASÍLIA — O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra, atacou a direção do Itamaraty durante os governo do PT. Sem citar nomes, ele disse que a diplomacia brasileira voltará a servir ao país, e não ao governo ou a um partido. O discurso foi feito durante solenidade de transmissão de cargo, da qual também participou seu antecessor, o ex-ministro Mauro Vieira, o último no comando do Itamaraty durante o governo da presidente afastada Dilma Rousseff.

— A nossa política externa será vigida pelos interesses da nação, e não do governo, e jamais de um partido — disse Serra.

Ele estabeleceu várias diretrizes que vão guiar sua gestão. Entre outras, ele citou: respeito aos direitos humanos; destaque para o tema ambiental; atenção aos acordos bilaterais com outros países; aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, bloco integrado por Chile, Peru, Colômbia e México; fortalecimento dos negócios com os países ricos.

O ex-ministro Mauro Vieira fez um breve balanço de sua atuação e desejou êxito ao sucessor. Ele defendeu o Mercosul, dizendo que o bloco econômico sempre foi valorizado pelos governos brasileiros, independentemente da cor partidária. Vieira também reclamou da falta de recursos, que, segundo ele, está afetando o trabalho dos servidores lotados em postos no exterior. Em relação a isso, Serra disse que vai tirar o Itamaraty da "penúria" provocada pela irresponsabilidade fiscal.

— Minhas primeiras palavras são de boas vindas e para lhe desejar sucesso — disse o ex-ministro, acrescentando:

— As dificuldades são grandes e conjunturais, mas sabemos que o Brasil é maior do que elas e vai superá-las, encontrando o caminho do crescimento, da prosperidade.

Entre os presentes estavam o ex-presidente José Sarney, o núncio apostólico (embaixador do Vaticano no Brasil), Giovanni d'Aniello, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Francisco Falcão. Parlamentares e ministros do governo Michel Temer também foram à cerimônia.

RECUPERAÇÃO DAS FINANÇAS

Serra disse que encaminhou um pedido de R$ 200 milhões para recuperar as finanças do Itamaraty. Há histórias de diplomatas com até quatro meses de aluguel atrasado no exterior. Ele até brincou com o ministro do Planejamento, Romero Jucá, presente na cerimônia e responsável por liberar verbas no governo.

— Eu cumprimento Jucá em nome dos ministros presentes. Mesmo porque o Jucá vai ter um papel fundamental junto comigo para recuperação das finanças do Itamaraty — disse Serra, atraindo aplausos e risos dos presente.

Serra disse que a diplomacia do século XXI não pode repousar apenas na retórica, mas precisa buscar resultados. Pregou também a modernização e fortalecimento do ministério.

— Vamos recuperar a capacidade de ação do corpo diplomático. Acreditem — disse Serra.

— Quero fortalecer a casa e não enfraquecê-la. Esse é um compromisso e um convite a todos os funcionários — acrescentou o ministro.

Apesar das críticas aos antecessores, ele disse que a diplomacia brasileira terá olhos para o futuro, e não para o passado.

— A nova política externa brasileira será olhos voltados para o futuro e não para os desacertos do passados — disse Serra, sendo aplaudido.

Na conclusão do discurso, disse:

— Obrigado. Mãos à obra e vamos em frente.

DOIS SECRETÁRIOS GERAIS

Além da reviravolta na política externa, retirando o viés político-partidário, Serra vai reforçar a área de formulação de políticas de comércio exterior com a criação de dois cargos de secretário geral: um específico para a área ocupado pelo embaixador Marcos Galvão, e outro para cuidar da administração da Casa, que continua com o embaixador Marcos Danese. Diplomatas que irão assessorar o novo chanceler, explicam que a ideia não é nova e no governo do ex-presidente Fernando Collor o Itamaraty chegou a ter três secretários geral

O embaixador Marcos Galvão deixa a chefia da missão brasileira junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para ocupar a segunda Secretaria Geral. Sua atuação na formulação de políticas comerciais será reforçada com a nomeação do o atual embaixador do Brasil na China, Roberto Jaguaribe, para chefiar a Apex Brasil ( Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos).

Mesmo não tendo vingado a tentativa de extinção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (Midc) para que a parte de comércio exterior fosse anexada ao Itamaraty, Serra deixou claro que essa área será sua menina dos olhos, para ajudar na derrubada de barreiras comerciais, aumento das exportações e parcerias com grandes blocos econômicos, recuperação da economia e geração de empregos.

A Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos (Apex) saiu do Mdic e passou para o Ministério das Relações Exteriores.

— Na época do Collor chegamos a ter três secretários gerais: um cuidava do controle interno, outro da administração do Itamaraty e o terceiro da formulação política. Não sei avaliar se deu certo ou não — observou um dos diplomatas ouvidos pelo GLOBO.

A prioridade para a política de comércio exterior foi uma das 10 diretrizes anunciadas hoje por Serra para sua gestão.

18 de maio de 2016


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