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terça-feira, 5 de maio de 2015

As agressões a FHC comprovam que Tom Jobim tinha razão: o Brasil é muito longe






Por Augusto Nunes

Quem conhece a saga republicana sabe que a ascensão ao poder de um ex-operário metalúrgico só restabeleceu a rotina da anormalidade que vigora, com curtíssimos intervalos, desde o fim do governo Juscelino Kubitschek, constatou um trecho do post publicado em 19 de dezembro de 2010. Na galeria dos retratos dos presidentes, prosseguiu o texto reproduzido na seção Vale Reprise, Lula está à vontade ao lado dos vizinhos de parede. Sente-se em casa. A discurseira delirante e ininterrupta está em perfeita afinação com a ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique Cardoso.

Lula confirma a regra. FHC é a exceção. O migrante nordestino que chegou à Presidência sem escalas em bancos escolares tem tudo a ver com o país dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância endêmica e condenados a uma vida não vivida. Esse mundo é indulgente com intuitivos que falam sem parar sobre assuntos que desconhecem. E é hostil a quem pensa e age com lucidez.

Passados mais de quatro anos, o post continua lastimavelmente atual. FHC ainda é acusado, por exemplo, de ter impedido a queda de Lula em agosto de 2005, no clímax do escândalo do mensalão. Os acusadores fingem ignorar que faltavam condições políticas para a aprovação do pedido de impeachment. E esquecem deliberadamente que a decisão de evitar a colisão frontal com o presidente não foi imposta por Fernando Henrique, mas endossada por unanimidade pela oposição. Se houve erro, portanto, erraram todos.

FHC é frequentemente responsabilizado até pela vitória de Lula em 2002. Conversa fiada. O candidato do PT venceu porque teve mais votos que o adversário José Serra. Foi eleito pelos brasileiros, não pela sigla que está para o SuperMacunaíma como a kriptonita para o Super-Homem. O candidato do PSDB perdeu também por se negar a divulgar o extraordinário legado do presidente em fim de mandato. Serra achou que perderia votos se ampliasse as aparições no horário eleitoral do estadista que venceu a inflação com o Plano Real e modernizou o país com o desencadeamento do processo de privatização.

Com tantos corruptos em liberdade, homens de bem atacam o criador da Lei de Responsabilidade Fiscal. Com tantos cretinos no poder, integrantes da oposição real desperdiçam adjetivos cruéis com um cérebro singularmente brilhante. Com tantos lulas e dilmas por aí, combatentes alistados na resistência democrática teimam em gastar chumbo com Fernando Henrique Cardoso. Tom Jobim tinha razão: o Brasil é muito longe.

05/05/2015


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