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sábado, 6 de dezembro de 2014

Empreiteira listava relógios, bebidas, ternos e gravatas como presentes a políticos



A Polícia Federal apreendeu na sede da Construtora OAS, em São Paulo, durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em 14 de novembro, listas de presentes (veja um arquivo ) de aniversário para diversos ministros, senadores, deputados, governadores, servidores públicos, empresários e líderes políticos tanto do governo quanto da oposição.


Os papéis não permitem saber se o presente foi entregue e qual a reação das pessoas –se os devolveram ou os aceitaram. Eles revelam uma faceta da política de boa vizinhança praticada por uma das principais empreiteiras do país. Outras empresas adotam a mesma prática na Esplanada dos Ministérios.

As listas da OAS trazem o nome do aniversariante, o que lhe será dado e, em alguns casos, observações cifradas.

Em outros casos, há anotações indicando que os presentes deveriam ser definidos por outras pessoas, principalmente integrantes da cúpula da empreiteira, como "CMPF", referência ao empresário Cesar Mata Pires Filho, vice-presidente da OAS Engenharia.

Reprodução
Lista de presentes que a OAS comprava para agentes políticos e empresários

Lista de presentes que a OAS comprava para agentes políticos e empresários

Os presentes variavam: ternos, gravatas, garrafas de uísque Blue Label Special, vinhos da marca Pera Manca –produto português cujo preço pode variar de R$ 200,00 a R$ 700,00 por garrafa– e "cortes", uma provável referência a ternos.

Editoria de Arte/Folhapress
         

No dia do aniversário da presidente Dilma Rousseff do ano passado, a agenda não anota a entrega de presente específico, mas sim a observação "combinar com J. Fortes". A identidade dessa pessoa não é esclarecida. No caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a observação é "P. Okamotto", possível referência a Paulo Okamotto, antigo assessor do ex-presidente. O nome de Okamotto consta como sendo destinatário de um "corte", que seria um terno.

Mesmo presente de um "corte" é indicado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no dia de seu aniversário, em 2013, e de diversos outros aniversariantes, como os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e José Eduardo Cardozo (Justiça) e o senador da oposição José Agripino (DEM-RN).

Para o ministro Guido Mantega (Fazenda), a OAS anotou uma gravata como presente.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) constam como também tendo recebido uma gravata cada. Mercadante nega. Aloysio confirma.

Para a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, foi anotado um "kit churrasco".

Em homenagem ao aniversário do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), a OAS pretendia dar "vinhos". Em outra anotação sobre o ex-ministro, surge a expressão "Pera Manca", marca de um vinho português.

Para o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari, a OAS pretendia presentear "uma caixa de Pera Manca".


PETROBRAS
Em outro papel, uma planilha intitulada "relação de brindes H Stern que estão filial Rio" (veja o arquivo ), a OAS diz que já havia entregue "brindes" para cinco pessoas em 2011, dentre as quais Armando Tripodi, que foi chefe de gabinete de Sérgio Gabrielli, que presidiu a Petrobras de 2005 a 2012. Tripodi recebeu um relógio avaliado em R$ 10.619,00 em 13 de abril de 2011, segundo a planilha

Outro aniversariante agraciado com o presente, segundo a planilha, foi o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), que teria recebido uma "caixa porta relógio", cujo preço anotado no papel é de R$ 4.950,00.

Uma observação no papel é que o material foi entregue "em mãos" por "dr. Léo", referência ao presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho.
Solange Amaral (DEM-RJ), ex-deputada federal, teria recebido um relógio de R$ 4.977,00, segundo a tabela apreendida pela PF.

Conforme um e-mail de 31 de março de 2011 também apreendido pela PF na Lava Jato, esses presentes entregues no Rio foram solicitados pelo próprio presidente da OAS. Ele está preso na PF em Curitiba, junto com outros três executivos da empreiteira.


OUTRO LADO
A Secretaria de Imprensa da Presidência informa que não há registro de entrega de presentes da OAS à presidenta Dilma Rousseff.

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) "não recebeu presente da OAS. Em 2013 a empresa entrou em contato para solicitar o endereço do ministro, mas foi negado tal pedido", disse a assessoria.

O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) informou, por meio de sua assessoria que "recebeu da empresa OAS um corte de tecido". "O ministro não verificou se o tecido é próprio para a confecção de terno, nem tampouco sabe avaliar o seu valor, por isso não devolveu o corte à empresa e ainda o tem guardado".

Por meio de sua assessoria, o ministro Aloizio Mercadante informou que não recebeu nenhum presente da OAS. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) confirmou que ganhou uma gravata.

O prefeito Fernando Haddad disse que recebeu vários cortes de terno de presente, mas afirma não se lembrar se algum deles foi da OAS. Haddad diz que todo presente que recebe e não pode ser incorporado ao patrimônio da prefeitura é doado a entidades.

A assessoria do ministro Guido Mantega (Fazenda) informou que todos os presentes que excedem as recomendações da Comissão de Ética são automaticamente devolvidos ou doados. Até o fechamento desta edição, o gabinete não havia encontrado registro de recebimento de gravata dada pela OAS.

A Folha tentou, mas não localizou as outras pessoas citadas como destinatárias dos presentes. Armando Tripodi, chefe de gabinete da presidência da Petrobras entre 2005 e 2012, não respondeu.


Colaboraram MÁRCIO FALCÃO, GABRIELA GUERREIRO, JULIA BORBA, MARIANA HAUBERT e SOFIA FERNANDES
              
                               05/12/2014







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