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sexta-feira, 11 de abril de 2014

A estranha escuta na cela de Youssef e o filme “Doleiro Morto Não Fala”





Por Reinaldo Azevedo
Havia uma escuta na cela do doleiro Alberto Youssef (leia post).

Isso é, ao menos, o que diz seu advogado, Antonio Augusto Figueiredo Bastos.

Se for mesmo verdade, e não vejo por que mentir a respeito, a ocorrência pode ser muito séria.

A escuta não foi instalada com autorização judicial. Trata-se de um monitoramento clandestino.

Segundo consta, Youssef já recebeu um recado: é para tomar cuidado com o que fala para não envolver gente poderosa.

Considerando que uma das figuras enroscadas com ele é o deputado André Vargas, do PT do Paraná, um chefão do partido e até anteontem vice-presidente da Câmara e do Congresso, é de se supor que o “poderoso”, no caso, seja ainda mais… poderoso.

Youssef pertence a um ramo em que as pessoas costumam falar pouco. Ele está preso desde o dia 17 de março. No dia 21, prestou um depoimento em que… Bem, ele não prestou depoimento nenhum! Preferiu ficar calado. Se as investigações da PF estiverem certas, ele lidera um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado R$ 10 bilhões.

O próprio Youssef achou a escuta ambiental, capaz de registrar, em tempo real, conversas suas com outros presos. Seu advogado fez uma foto em que o próprio doleiro aparece, magro e barbudo, exibindo os equipamentos do outro lado do vidro do parlatório.

Se não foi a Justiça, e não foi, quem está interessado em saber o que o doleiro fala ou deixa de falar?

Parece lícito supor que pode estar correndo risco de vida, não?


Nesta quinta, apareceram novas evidências que ligam Youssef a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, que também está preso. A Polícia Federal apreendeu na casa de Costa uma planilha de uma contabilidade manual da empresa Costa Global, uma de suas consultorias, para a qual o doleiro fez oito repasses entre 17 de dezembro de 2012 e 15 de março de 2013.

Só nesse período, Youssef transferiu para Costa mais de R$ 1 milhão, US$ 500 mil dólares e 314 mil euros. Até então, o engenheiro admitia ter recebido do doleiro apenas uma Land Rover a título de serviços prestados.

Como se nota, Youssef parece ter mil e uma utilidades. Operava com Paulo Roberto Costa — que mantinha influência na Petrobras — e também com André Vargas, o enrolado deputado petista. E sabe-se lá em que outros segmentos.

O leitor precisa entender uma coisa: para que serve um doleiro?
Não é só para os remediados comprarem alguns dólares para dar um pulinho em Miami na classe econômica, não! Os propinodutos envolvendo dinheiro público costumam passar por esses caras porque eles lidam com dinheiro vivo, cash. Podem ainda abastecer contas secretas no exterior.

Depositam em dólares na conta de corruptos lá fora e recebem em reais aqui dentro. São peças-chave em qualquer esquema ilegal. Imaginem quantas são as pessoas que gostariam que Youssef perdesse a língua.

Nesta quinta, a Polícia Federal pediu ainda que ele e Carlos Habib Chater, outro doleiro, sejam transferidos para o presídio de segurança máxima de Catanduvas, onde estão narcotraficantes, por exemplo. Seu advogado reagiu:

“Eles não são criminosos de alta periculosidade para ir para um presídio de segurança máxima. Parece retaliação contra o meu cliente. É uma medida desnecessária e abusiva”.

Querem saber? Também achei a solicitação estranha. Preso na carceragem de Curitiba, não me parece que esteja pondo em risco a paz pública, obstruindo investigações ou fazendo ameaças. Não que eu saiba.

Tem muita gente assustada porque Youssef foi um dos investigados no chamado escândalo do Banestado, que envolvia justamente remessa ilegal de divisas para o exterior.
À época, colaborou com as investigações, pagou uma multa de R$ 1 milhão e não foi processado.

O temor é que repita agora o procedimento.

Ele precisa é ter garantias de vida, isto sim.

Afinal, parodiando aquele filme, “doleiro morto não fala”.

11/04/2014

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