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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Com São Paulo, Cardozo ruge; com o Maranhão, ele bale



Por Reinaldo Azevedo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o Garboso, concedeu uma entrevista à Folha desta segunda. Chega a ser constrangedor. Desperta na gente o que se passou a definir, com muita propriedade, “vergonha alheia” — vale dizer: já que ele próprio não enrubesce, a gente cora em seu lugar; alguém, afinal de contas, tem de fazê-lo.

Leiam a entrevista. Não há uma só nota de crítica ao governo de Roseana Sarney (PMDB), nada! Muito pelo contrário! Cardozo faz questão de destacar que a governadora tem plena autonomia para cuidar da segurança pública (não me diga!) e que o governo federal está lá para oferecer seu apoio. Para retirar o peso das costas da governadora, Cardozo insiste que os presídios, Brasil afora, estão em petição de miséria.

Ele só se esqueceu de um pequeno detalhe: todos os presídios brasileiros estão subordinados a um órgão federal, que pertence justamente ao Ministério da Justiça.

Leiam esta pergunta e esta resposta (em vermelho):

O Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional recebeu 34,2% a menos de verba em 2013 do que em 2012. Não era a hora de investir mais?
O tempo médio para a construção de um presídio chega a três anos. A escolha do local nem sempre é fácil porque muitas cidades não querem receber unidades prisionais. Elaborar o projeto e fazer a licitação também é complicado. Esses problemas acabam dificultando o repasse de dinheiro. Acredito que vai melhorar em 2014.


O que foi que ele disse mesmo? Absolutamente nada! Num outro momento da entrevista, com aquela pompa muito característica, afirma: “A presidente Dilma Rousseff determina ao Ministério da Justiça e a toda sua equipe que aja de maneira absolutamente republicana, pouco importa se o governador é aliado ou de oposição.”

Os fatos
É mesmo? Que pena que os fatos desmintam o ministro de maneira tão acachapante e acabrunhante, não é mesmo?

Em 2012, São Paulo passou por um surto de violência — insuficiente para retirá-lo do penúltimo ou último lugar no ranking de homicídios. Cardozo concedeu diversas entrevistas atacando o governo e a polícia de São Paulo. Acusou a Secretaria de Segurança Pública de ter rejeitado ajuda do governo federal. Era falso. Muito pelo contrário: o então secretário, Ferreira Pinto, havia encaminhado uma solicitação de ajuda, que ficou sem resposta. Numa entrevista, com grosseria impressionante, Cardozo disse que o Planalto não era “Casa da Moeda” para ficar dando dinheiro a São Paulo… Ferreira Pinto acabou deixando a secretaria. Desmontei a farsa aqui).

Vejam esta imagem.

É de uma entrevista de Cardozo na Folha do dia 18 de junho, em meio à pauleira das manifestações. Abaixo, reproduzo a sequência de eventos até que o ministro da Justiça tivesse o desplante de concedê-la.

No dia 9 de junho, o Estadão chegava às bancas com uma estranha entrevista de Cardozo, tornada manchete. O alvo principal: o governador Geraldo Alckmin, em particular a política de segurança pública. Era um domingo. Eis a imagem.

Na terça-feira, dia 11 de junho, o Passe Livre e os black blocs voltaram às ruas — já tinham promovido depredações no dias 6 e 7 daquele mês. A violência chegava ao paroxismo. Coquetéis molotov foram lançados contra a polícia. Um policial foi linchado.

Aí veio a tragédia do dia 13. O Passe Livre voltou às ruas ainda mais disposto à pauleira. Aqui e ali já se colhiam na imprensa sinais de simpatia pelos vândalos. Jornalistas foram atingidos por balas de borracha. Uma imprensa que já estava doida para aderir encontrou ali o pretexto de que precisava. A PM passava a ser a vilã. E os protagonistas da truculência dos dias 6, 7 e 11 eram tratados como heróis que estivessem lutando contra um estado autoritário.

Naquele mesmo dia 13, com a cidade tomada pelo caos, Cardozo concedeu uma entrevista aos portais oferecendo “ajuda” ao governador Geraldo Alckmin. Não telefonou, não conversou, não procurou nem foi procurado. Falava pela imprensa. Tirava uma casquinha. Fazia de conta que o problema era de São Paulo.

No dia 17, marca-se outra manifestação em São Paulo. A polícia aceita as condições dos trogloditas que haviam vandalizado a cidade nos dias 6, 7, 11 e 13: nada de tropa de choque, nada de bala de borracha, nada de bombas e nada de restrição a áreas de protesto. No dia 18 de junho, aí era a Folha que trazia outra entrevista de Cardozo, também contra o governo de São Paulo, com ataques diretos à polícia. É a imagem da página que vai ali no alto.

Concedida no dia 17, antes do término das manifestações, esse gênio usou como exemplo bem-sucedidos as polícias do Rio e do Distrito Federal: “O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes”.

Patético! Naquele dia 17, não houve violência em São Paulo. Alguns bananas tentaram invadir os jardins do Palácio dos Bandeirantes, mas nada muito grave. No Rio, no entanto, um dos bons exemplos de Cardozo, assistiu-se ao caos.

O ministro da Justiça que “ofereceu” ajuda a Alckmin no dia 13, que já o havia atacado no dia 9 e que censurou a polícia de São Paulo no dia 17, tinha tudo para organizar, então, com o seu aliado Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, uma ação preventiva exemplar quando o protesto chegou ao Distrito Federal, certo?

Pois bem! No dia 20, o caos se instalou em Brasília. Meteram fogo no Itamaraty. E ninguém ouviu a voz de Cardozo, o chefe da Polícia Federal e o homem que pode acionar a Força Nacional de Segurança.

Caminho para o encerramento

Eis uma breve síntese de José Eduardo Cardozo e sua “isenção”. Desde que este senhor assumiu a pasta da Justiça, tem atacado a segurança pública de São Paulo — goste-se ou não, uma das mais eficientes do país — de maneira sistemática. E o faz por intermédio da imprensa, mobilizando os muitos amigos que tem na área.

Quando, no entanto, se trata do Maranhão, aí o crítico feroz de São Paulo se transforma num cordeirinho da família Sarney.

Com São Paulo, Cardozo ruge; com o Maranhão, ele bale. Palmas para a sua valentia!

PS – Ah, sim: O “Fantástico” também está de parabéns! Por muito menos, em 2012, cheguei a achar que São Paulo estivesse à beira da anomia social. No Maranhão, um representante do governo falava com muita segurança sobre o descalabro. E nem uma palavra sobre lagosta, caviar e champanhe. Nada, em suma, que possa ter envergonhado a Rede Mirante de Televisão, retransmissora da Globo no Maranhão, que pertence à família Sarney, a exemplo da Rádio Mirante AM, da Rádio Mirante FM e do jornal “O Estado do Maranhão”.
 

13/01/2014


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