Hugo
 Chávez assumiu o poder na Venezuela em 1999 para um mandato de cinco 
anos. Acabou ficando 14. Já havia anunciado a pretensão de ficar no 
poder até 2031 — modestos 32 anos… 
Chávez venceu a eleição 
presidencial de 1998 à esteira de uma profunda crise econômica e 
política, o que abriu espaço para sua pregação virulentamente populista,
 nacionalista, socializante e anti-imperialista  — um coquetel de coisas
 ruins, de atrasos. Não houve solução fácil e errada para problema 
difícil a que não tenha aderido. 
Recorreu aos instrumentos que a
 democracia fornece — eleições, por exemplo — para instaurar o que pode 
ser chamado, sem exagero, de ditadura, ainda que ela não obedeça ao 
molde conhecido na América Latina em décadas passadas ou em vigor em 
vários países do mundo. Existe uma ativa oposição no país, sim — e isso 
não é o corriqueiro nas ditaduras convencionais. Mas ela está, na 
prática — e vamos ver por quanto tempo —, impedida de chegar ao poder 
porque só o “governo bolivariano” tem acesso, por exemplo, às TVs e às 
rádios. Chávez estatizou a radiodifusão, e a imprensa escrita vive sob 
severa vigilância. 
O coronel morre com as instituições em 
frangalhos. Foi a pior distância entre duas crises. A economia do país 
está destruída e depende hoje exclusivamente do petróleo. O estado 
venezuelano foi ocupado por uma súcia e existe com o propósito de 
atender aos interesses do chamado grupo bolivariano. O Poder Judiciário 
está corrompido e é parte desse movimento. Só isso explica o fato de 
Nicolás Maduro ter se mantido na Presidência. A solução foi 
escancaradamente inconstitucional — mesmo para os padrões de uma 
“Constituição Bolivariana”. 
Ao longo de 14 anos de poder, em vez
 contribuir para emancipar boa parte da população dos rigores da pobreza
 e da miséria, Chávez fez o contrário: cevou os miseráveis com seu 
assistencialismo agressivo e manteve intocado o ciclo de reprodução da 
exclusão — só que agora sob o manto protetor do estado. 
A 
pantomima, inclusive a legal, que cercou sua doença e morte denuncia o 
desastre. O ditador se vai, e o país terá de se ocupar de reconstruir os
 espaços da interlocução democrática, com as quais ele acabou. Não deixa
 como herança nem mesmo um partido organizado. Ao contrário: o chavismo é
 um “movimento”, a que não faltam, prestem atenção!, nem mesmo as 
milícias armadas. 
Em menos de um mês, haverá eleições na 
Venezuela. É quase certo que Nicolás Maduro, tão carismático quanto uma 
caixa de isopor, seja eleito. A comoção com a morte do coronel se 
encarregará de lhe garantir os votos. Aí será a hora e começar a 
contagem regressiva para o esfacelamento do chavismo — na verdade, já 
começou. 
Será a hora, então, de a oposição entrar em cena, 
aprendendo a fazer política sem ter mais o ditador como polo aglutinador
 às avessas. Os que se opõem ao governo terão de buscar o diálogo com as
 frações que forem se desgarrando do que restar do chavismo para 
reconstruir o espaço da política, que ele destruiu. A morte do ditador 
também serve de alerta à América Latina. Trato desse assunto em 
particular em outro post. 
06/03/2013 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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