'Luz amarela' acendeu no país vizinho com aproximação entre Brasil e Irã
Lula com Ahmadinejad durante visita do ex-presidente ao Irã (AFP)
A Argentina temia que as ambições internacionais do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levassem o Brasil a rever seus compromissos na área de proliferação nuclear - caminhando perigosamente rumo à bomba atômica. Em conversa reservada com diplomatas americanos no dia de Natal de 2009, funcionários argentinos disseram que uma "luz amarela" acendera em Buenos Aires diante da aproximação do Brasil com o Irã e da abertura de uma embaixada brasileira na Coreia do Norte.
O relato completo do encontro está entre as centenas de arquivos da Embaixada dos EUA em Buenos Aires divulgados pelo WikiLeaks.
A mensagem confidencial revela como traços da rivalidade histórica no campo nuclear entre os vizinhos não foram totalmente apagados, nem mesmo com a aproximação a partir do fim dos anos 80 e a calorosa relação entre os governos Lula e Néstor Kirchner.
O chefe da direção de assuntos atômicos da Chancelaria de Buenos Aires, Gustavo Ainchil, falou sobre o temor argentino à embaixadora americana Vilma Martínez. Amparado em sua "imensa popularidade", Lula adotou uma postura "arriscada", analisou o argentino, classificando-o como um "aventureiro na política externa e nas questões de defesa".
Além do Irã e da missão em Pyongyang, Ainchil cita o fato de o Brasil ser "o único Bric" sem a bomba atômica - em 2009, a África do Sul ainda não integrava o grupo. Ainchil diz que há "certo alívio" na Argentina com o iminente fim do governo Lula.
"Nenhum sucessor tentará manter uma política externa tão arriscada."
Preocupação - Antes dessa conversa, outro diplomata argentino, não identificado, havia procurado a Embaixada dos EUA em Brasília com a mesma mensagem de preocupação.
O despacho revelado pelo WikiLeaks foi enviado dois meses após o vice-presidente José Alencar ter defendido uma arma nuclear brasileira, o que "daria mais respeitabilidade" ao país.
A Argentina chegou a pensar em uma resposta a uma eventual retirada do Brasil da agência argentino-brasileira de controle nuclear (ABACC) ou mesmo na possibilidade - "improvável" - de o país fabricar a bomba.
Os argentinos, então, buscariam "desenvolver tecnologia nuclear pacífica avançada para mostrar sua capacidade, mas sem seguir o caminho todo até a bomba".
Anchil também demonstrou preocupação com o ritmo das compras militares brasileiras.
A Argentina estava particularmente incomodada com uma visita a Buenos Aires do ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, quando ele fez um discurso sem coordenação prévia com o governo argentino.
Em represália, funcionários dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores da Argentina haviam sido instruídos a não comparecer ao evento, de acordo com Anchil.
Ele sugeriu ainda que a influência de Jobim era vista pelo governo argentino como "excessiva" dentro do Brasil.
(Com Agência Estado)
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