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terça-feira, 16 de março de 2010

Como nasceu, cresceu e começou a morrer o pai de todos os escândalos?


O pai de todos os escândalos

( parte 1) :
Deonísio da Silva explica a origem da palavra mensalão

Como foi o episódio do mensalão?, precisa saber o Brasil dos desmemoriados.


Como nasceu, cresceu e começou a morrer o pai de todos os escândalos?


Que fim levou o bando que montou o esquema criminoso e dele usufruiu gulosamente?


Estas e outras perguntas serão respondidas nesta série sobre a mais espantosa roubalheira da história da República.


No texto de abertura, o escritor e professor Deonísio da Silva, um dos mais notáveis domadores de palavras do Brasil, explica a origem do termo mensalão.

Bom começo.

O resto saberemos nos posts seguintes.

Se o leitor procurasse o verbete “mensalão” nos dicionários antes de 2005, não o encontraria.

O português veio do latim, mas na Roma antiga havia corrupção, que era combatida duramente por oradores e políticos como Cícero, que por falar tanto e tão bem deu nome aos guias turísticos, os cicerones.

Mas não havia mensalão.
Esta palavra é criação genuinamente brasileira, adaptada de mensal, um adjetivo de dois gêneros que foi substantivado e transformado em aumentativo.


Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República, foi quem fez a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF): uma organização criminosa, chefiada por José Dirceu, ex-deputado federal, cassado por seus pares, e ex-ministro da Casa Civil, demitido pelo presidente Lula, era integrada por quarenta pessoas, que foram acusadas de oito crimes, pelos quais estão respondendo no STF, depois que a denúncia foi aceita pelo ministro Joaquim Barbosa.



Os crimes: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta.

Na mesma denúncia, o publicitário Duda Mendonça responde por operações de lavagem de dinheiro, por ter recebido do PT uma montanha de dinheiro no exterior.

O Brasil passou a tomar conhecimento do esquema por meio das denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), publicadas originalmente pela Folha de S. Paulo em 6/6/2005.

Dos 40 denunciados, cinco são mulheres.


Este artigo faz considerações sobre palavras extraídas de reportagens que se ocuparam da denúncia e tiveram como tema solar o mensalão.

Mensalão veio de mensal, mesma origem de mensalinho, que nasceu por analogia com mensalão. Mensalinho ainda não está nos dicionários. Mensalão, já.

(AN: o escândalo do mensalão envolveu meio mundo. O caso do mensalinho foi estrelado solitariamente pelo deputado pernambucano Severino Cavalcanti. Presidente da Câmara, o parlamentar do PP teve de deixar o cargo depois da descoberta de que extorquia mensalidades de R$ 10 mil do empresário Sebastião Buani, que explorava o restaurante da Câmara. Era o mensalão em ministura. Um mensalinho).


Mensal chegou ao português no século 18, segundo registro do padre Rafael Bluteau, o mesmo que encomendou a criação da palavra pirilampo para substituir caga-fogo ou caga-lume, aceitando mais tarde o eufemismo vaga-lume.

Mensal veio do latim tardio mensualis, que provavelmente mesclou mês (mensis) e medida, feminino de medido (mensus).


É impossível que nenhum jornalista tenha ouvido a palavra antes da publicação das denúncias.

O neologismo estava na boca de diversos parlamentares cujas ações eles cobriam.


Utilizada na matéria que desvendou o esquema da organização criminosa denunciada pelo procurador-geral da República ao STF, a palavra ganhou também a mídia internacional, dando trabalho aos tradutores.

Redatores de países em que o espanhol é a língua oficial, adotaram mensalón.

No inglês, virou big monthly allowance (grande pagamento mensal) e vote-buying (compra de votos.

O prestigioso jornal francês Le Monde referiu em meio a expressões insólitas de reportagens sobre o governo Lula, tais como scandale de corruption, um certo “mensalao”, mensualité versée à des députés alliés au PT, révélé en 2005.


Nota: este artigo é uma adaptação de vários textos escritos para o Observatório da Imprensa. A coleção completa desse e de outros verbetes está no livro “De onde vêm as palavras” (Editora Novo Século), de Deonísio da Silva, que está na 16ª edição. O escritor também assina a coluna Etimologia, publicada semanalmente na revista CARAS.


Agora que vocês já sabem como nasceu a palavra, preparem o estômago: vem aí o parto do mensalão.

24 de fevereiro de 2010

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