Opinião
A presidente Dilma Rousseff resgatou a ex-senadora Ideli Salvatti das profundezas do Ministério da Pesca e confiou-lhe a articulação do Planalto com o Congresso, a razão de ser da pasta das Relações Institucionais, para dar uma lição de hierarquia e disciplina aos companheiros que se engalfinhavam abertamente pelo cargo enquanto ela ainda nem havia assinado o óbito funcional do seu então titular, o também petista Luiz Sérgio.
O seu desprendimento para servir ao governo, aliás, pode ser medido pela prontidão com que aceitou ser degredado para o antigo ermo de Ideli.
Ciente, talvez, de que foi considerada a mulher errada no lugar errado - dado o seu reconhecido pendor para o pugilato político, que ela se fartou de praticar quando líder do governo Lula no Senado -, a paulistana que fez carreira no PT catarinense de imediato tratou de pôr panos quentes na própria imagem.
Sem prometer, embora, que se transformará numa "Idelizinha, paz e amor", porque aí também já seria escarnecer da sensibilidade alheia, não perdeu tempo em se declarar toda ouvidos para as demandas reprimidas da base governista.
Recorrendo a uma expressão que pelo menos se destaca dos lugares-comuns do jargão planaltino, prometeu "limpar as prateleiras" onde as reivindicações dos aliados juntam poeira.
A recusa de Dilma em se prestar mansamente ao jogo da fisiologia caiu bem junto à opinião pública, farta, com razão, do toma lá dá cá da política convencional.
Mas foi preciso que eclodisse o escândalo que derrubou o superministro Antonio Palocci, a partir do qual a base se sentiu livre para falar cobras e lagartos daquele que lhe dera as costas, para se perceber que também havia algo não necessariamente virtuoso na secura da caneta presidencial.
Não que ela apenas refugasse a indicação de apadrinhados a seu ver desprovidos de qualificações para as vagas em questão. "Dilma ouve, ouve, anota e anota, mas não toma as providências pedidas", reclamavam, em coro, os políticos.
O problema é que, em regra, ela tampouco tomava a providência de nomear quadros técnicos que considerasse credenciados para as respectivas tarefas.
Numa ponta, portanto, irritava a base - estima-se que, juntos, PT e PMDB apresentaram mais de uma centena de candidatos para cargos de segundo e terceiro escalões no governo e diretorias de estatais.
Na outra ponta, Dilma emperrava o funcionamento da máquina.
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14 de junho de 2011
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