sábado, 3 de dezembro de 2011
Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos
Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos
No ano passado, meus pais (profissionais ultra-bem-sucedidos que decidiram reduzir o ritmo em tempo de aproveitar a vida com alegria e saúde) tomaram uma decisão surpreendente para um casal – muito enxuto, diga-se – de mais de 60 anos: alugaram o apartamento em um bairro nobre de São Paulo a um parente, enfiaram algumas peças de roupa na mala e embarcaram para Barcelona, onde meu irmão e eu moramos, para uma espécie de ano sabático.
Aqui na capital catalã, os dois alugaram um apartamento agradabilíssimo no bairro modernista do Eixample (mas com um terço do tamanho e um vigésimo do conforto do de São Paulo), com direito a limpeza de apenas algumas horas, uma vez por semana. Como nunca cozinharam para si mesmos, saíam todos os dias para almoçar e/ou jantar. Com tempo de sobra, devoraram o calendário cultural da cidade: shows, peças de teatro, cinema e ópera quase diariamente. Também viajaram um pouco pela Espanha e a Europa. E tudo isso, muitas vezes, na companhia de filhos, genro, nora e amigos, a quem proporcionaram incontáveis jantares regados a vinhos.
Com o passar de alguns meses, meus pais fizeram uma constatação que beirava o inacreditável: estavam gastando muito menos mensalmente para viver aqui do que gastavam no Brasil. Sendo que em São Paulo saíam para comer fora ou para algum programa cultural só de vez em quando (por causa do trânsito, dos problemas de segurança, etc), moravam em apartamento próprio e quase nunca viajavam.
Milagre? Não. O que acontece é que, ao contrário do que fazem a maioria dos pais, eles resolveram experimentar o modelo de vida dos filhos em benefício próprio. “Quero uma vida mais simples como a sua”, me disse um dia a minha mãe. Isso, nesse caso, significou deixar de lado o altíssimo padrão de vida de classe média alta paulistana para adotar, como “estagiários”, o padrão de vida – mais austero e justo – da classe média europeia, da qual eu e meu irmão fazemos parte hoje em dia (eu há dez anos e ele, quatro). O dinheiro que “sobrou” aplicaram em coisas prazerosas e gratificantes.
Do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. A classe média europeia não está acostumada com a moleza. Toda pessoa normal que se preze esfria a barriga no tanque e a esquenta no fogão, caminha até a padaria para comprar o seu próprio pão e enche o tanque de gasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga por conviver com algo totalmente desconhecido no nosso país: a ausência do absurdo abismo social e, portanto, da mão de obra barata e disponível para qualquer necessidade do dia a dia.
Traduzindo essa teoria na experiência vivida por meus pais, eles reaprenderam (uma vez que nenhum deles vem de família rica, muito pelo contrário) a dar uma limpada na casa nos intervalos do dia da faxina, a usar o transporte público e as próprias pernas, a lavar a própria roupa, a não ter carro (e manobrista, e garagem, e seguro), enfim, a levar uma vida mais “sustentável”. Não doeu nada.
Uma vez de volta ao Brasil, eles simplificaram a estrutura que os cercava, cortaram uma lista enorme de itens supérfluos, reduziram assim os custos fixos e, mais leves, tornaram-se mais portáteis (este ano, por exemplo, passaram mais três meses por aqui, num apê ainda mais simples).
Por que estou contando isso a vocês? Porque o resultado desse experimento quase científico feito pelos pais é a prova concreta de uma teoria que defendo em muitas conversas com amigos brasileiros: o nababesco padrão de vida almejado por parte da classe média alta brasileira (que um europeu relutaria em adotar até por uma questão de princípios) acaba gerando stress, amarras e muita complicação como efeitos colaterais. E isso sem falar na questão moral e social da coisa.
Babás, empregadas, carro extra em São Paulo para o dia do rodízio (essa é de lascar!), casa na praia, móveis caríssimos e roupas de marca podem ser o sonho de qualquer um, claro (não é o meu, mas quem sou eu para discutir?). Só que, mesmo em quem se delicia com essas coisas, a obrigação auto-imposta de manter tudo isso – e administrar essa estrutura que acaba se tornando cada vez maior e complexa – acaba fazendo com que o conforto se transforme em escravidão sem que a “vítima” se dê conta disso. E tem muita gente que aceita qualquer contingência num emprego malfadado, apenas para não perder as mordomias da vida.
Alguns amigos paulistanos não se conformam com a quantidade de viagens que faço por ano (no último ano foram quatro meses – graças também, é claro, à minha vida de freelancer). “Você está milionária?”, me perguntam eles, que têm sofás (em L, óbvio) comprados na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, TV LED último modelo e o carro do ano (enquanto mal têm tempo de usufruir tudo isso, de tanto que ralam para manter o padrão).
É muito mais simples do que parece. Limpo o meu próprio banheiro, não estou nem aí para roupas de marca e tenho algumas manchas no meu sofá baratex. Antes isso do que a escravidão de um padrão de vida que não traz felicidade. Ou, pelo menos, não a minha. Essa foi a maior lição que aprendi com os europeus — que viajam mais do que ninguém, são mestres na arte do savoir vivre e sabem muito bem como pilotar um fogão e uma vassoura.
PS: Não estou pregando a morte das empregadas domésticas – que precisam do emprego no Brasil –, a queima dos sofás em L e nem achando que o “modelo frugal europeu” funciona para todo mundo como receita de felicidade. Antes que alguém me acuse de tomar o comportamento de uma parcela da classe média alta paulistana como uma generalização sobre a sociedade brasileira, digo logo que, sim, esse texto se aplica ao pé da letra para um público bem específico. Também entendo perfeitamente que a vida não é tão “boa” para todos no Brasil, e que o “problema” que levanto aqui pode até soar ridículo para alguns – por ser menor. Minha intenção, com esse texto, é apenas tentar mostrar que a vida sempre pode ser menos complicada e mais racional do que imaginam as elites mal-acostumadas no Brasil.
COMENTÁRIO
Mar, querida amiga,
Até a classe média baixa, chamada na propaganda de classe C, passou a ter hábitos consumistas bem vistosos.
Pior, sem poder.
E via Lula, a governanta mandou comprar mais.
Baixa-se provisoriamente uma merreca nos impostos e todo mundo vai às compras e ao paraíso.
Inadimplência?
Mantega, o cínico, diz que não tem.
Inflação?
Mudam-se os cálculos e tudo se ajusta na medida governamental.
Emprego?
É pleno.
Brasil?
Um paraíso.
A maioria acredita.
Na Venezuela a governanta aparece em fotos com Chávez e morre de rir.
Do povo, é claro.
Bjs,
Maria Lucia
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: POR QUE DILMA ROUSSEFF NÃO DEMITE CARLOS LUPI?
Das duas uma, ou as duas: dona Dilma ficou realmente sensibilizada com a declaração pública de amor que lhe foi feita pelo ministro Carlos Lupi, como se o que o sujeito falasse merecesse o mínimo de crédito, e resolveu manter seu pretensamente apaixonado ministro por perto, independente das evidências de que ele está “atolado até o pescoço” em todo tipo de armações e maracutaias, ou o cara tem mesmo “bala na agulha”, e sabe que ninguém vai ter coragem de enfrentá-lo, assumindo o risco de que ele “jogue farinha no ventilador”.
O mais recente ato dessa “chanchada mambembe”, foi dona Dilma ter mantido Lupinho no cargo, mesmo depois que a “Comissão de Ética Pública”, um órgão ligado ao Palácio do Planalto, recomendou a sua demissão, entre outras coisas, pelo fato do “sabichão” haver ocupado, simultaneamente, dois cargos públicos, um em Brasília e outro no Rio de Janeiro, por quase cinco anos (será que Dilminha acredita que o sujeito tem o “dom o onipresença”?).
Depois dessa “palhaçada”, a pergunta que não quer calar é: se o parecer oficialmente emitido pela tal “Comissão de Ética Pública”, teve para a presidente Dilma o mesmo valor “daquilo que o gato enterra”, será que esse é apenas mais um daqueles órgãos públicos “inventados” para servir de “cabide de emprego”, criando cargos que possam ser utilizados para “abrigar” apaniguados de políticos aliados?
Júlio Ferreira
Recife – PE
Recife – PE
E-mail: julioferreira.net@gmail.com
Blog: www.ex-vermelho.blogspot.com/
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
FHC culpa Lula por escândalos no governo Dilma e diz que o ex-presidente foi ‘complacente’ com a corrupção
Bruno Siffredi
estadão.com.br
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista ao jornal chileno El Mercurio, que os escândalos de corrupção nos ministérios são uma herança deixada pelo governo Lula para a presidente Dilma Rousseff.
Ela tem que demonstrar uma vontade diferente e indicar funcionários novos que não sejam corruptos”, observou.
Em visita ao Chile, onde participa de um seminário sobre economia organizado pelo Banco Itaú, o ex-presidente disse que a extensão dos escândalos que eclodiram neste ano “passam a impressão que aceitar a corrupção se tornou uma condição para governar” o Brasil.
Fernando Henrique criticou diretamente o ex-presidente Lula e disse que no seu governo houve mais impunidade.
“Ele foi complacente. Sempre deu desculpas frente a condutas que não têm desculpa”, afirmou.
“Ele foi complacente. Sempre deu desculpas frente a condutas que não têm desculpa”, afirmou.
Drogas. O ex-presidente falou também sobre seu engajamento no debate sobre a descriminalização da maconha. Fernando Henrique defendeu a adoção de penas alternativas, “como trabalho comunitário”, e comparou a situação da droga a do tabaco. “Muita gente fumava (o tabaco), inclusive no início por glamour. Hoje isso já passou. Não houve proibição, mas sim regulação.”
FMI. Ao comentar a recente visita da presidente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, ao Brasil, Fernando Henrique disse que “é um sinal de que o mundo mudou”. Ele destacou que, no passado, eram os brasileiros que iam pedir ajuda ao fundo. “Agora eles vêm para que emprestemos (dinheiro) a outros países que precisam.”
Se há pessoas no Brasil que estão acima da lei, então o estado de direito está morto.
Atenção,
brasileiros para esta afirmação: “Não
é verdade que ninguém está acima da lei!” Ela traz a
assinatura de um grupo de… juízes!
Se
vocês tiverem alguma demanda na Justiça, verifiquem se o juiz que vai cuidar do
caso pertence à “Associação Juízes para a Democracia”. Se pertencer, verifiquem,
em seguida, se a “outra parte” integra um desses grupos que são considerados,
sobretudo por si mesmos e pelas esquerdas de modo geral, os donos da democracia.
Se isso acontecer, só lhes resta pedir que seja declarada a suspeição do
magistrado. E eu vou explicar por quê.
Essa
associação divulgou um documento como, creio, nunca houve na história do Brasil,
nem nos tempos mais radicais do chamado “Direito Achado na Rua”, quando o
gramscismo declarado de Roberto Lyra Filho (1926-1986) chamava os catedráticos
da área de “catedráulicos”, para indicar a sua “subserviência ao sistema”. Para
quem não acompanhou esse debate, já escrevi muito a respeito. Há aqui
um texto de 2007 com os princípios da
turma.
Há
um truísmo nas democracias de direito: “Ninguém está acima da lei”. É um
princípio consagrado em todo o mundo livre. Uma frase que é universalmente
citada, ao menos nos países civilizados, como síntese desse valor: “Ainda há
juízes em Berlim”. Remete à pendenga judicial de um
simples moleiro contra ninguém menos do que o rei Frederico 2º.
Pois
bem, a dita associação resolveu jogar fora todo esse estoque de saber jurídico.
Emitiu uma nota sobre a USP — espero que não haja, na direção da entidade,
parentes de pessoas processadas por dano ao patrimônio público e constrangimento
ilegal — em que afirma, como se lê lá no alto, que “há, sim, pessoas que estão
acima da lei”.
Sendo
assim, então se entende que há pessoas no Brasil que exercem um poder que a
nenhum dos Três Poderes da República é conferido: A SOBERANIA! Segue o manifesto
dos valentes em vermelho. Comento em negro.
“A
ASSOCIAÇÃO JUIZES PARA A DEMOCRACIA – AJD, entidade não governamental e sem fins
corporativos, que tem por finalidade trabalhar pelo império dos valores próprios
do Estado Democrático de Direito e pela promoção e defesa dos princípios da
democracia pluralista, bem como pela emancipação dos movimentos sociais,
sente-se na obrigação de desvelar a sua preocupação com os eventos ocorridos
recentemente na USP, especialmente em face da constatação de que é cada vez mais
frequente no país do abuso da
judicialização de questões eminentemente políticas, o que está acarretando um
indevido controle reacionário e repressivo dos movimentos sociais
reivindicatórios”.
Já
há absurdo o bastante nesse primeiro parágrafo. Quando um direito é agravado, há
três saídas possíveis:
a)
a pessoa que teve seu direito aviltado se conforma e se torna refém do
aviltante;
b)
quem foi desrespeitado resolve a questão no braço, num apelo à volta ao estado
da natureza;
c)
quem teve seu direito agravado recorre à Justiça.
Uma
associação de juízes — notem bem: de juízes! — está afirmando que a pior saída é
recorrer à Justiça. Eles estão se referindo à USP. Como já está claro a todo
mundo, soldados da PM coibiram, cumprindo seu papel legal, o consumo de droga
ilícita. Grupelhos de extrema esquerda, que representam a extrema minoria da
universidade, decidiram transformar a questão num casus
belli. Não há “movimento social reivindicatório” nenhum! Ademais,
juízes existem para aplicar a lei, não para punir reacionários e proteger
progressistas. Ou eles se fizeram juízes para ser procuradores do
“progressismo”? Se a associação diz defender o “estado de direito”, como pode
atacar quem recorre à Justiça?
“Com
efeito, quando movimentos sociais escolhem métodos de ‘visibilização’ de sua
luta reivindicatória – como a ocupação de espaços simbólicos de poder – visam
estabelecer uma situação concreta que lhes permita participar do diálogo
político, com o evidente objetivo de buscar o aprimoramento da ordem jurídica e
não a sua negação, até porque, se assim fosse, não fariam reivindicações, mas,
sim, revoluções”.
Trata-se
de uma coleção formidável de bobagens, a começar da palavra “visibilização”,
que vem a ser a “estrovengalização”
da Inculta & Bela, que encontra o seu momento de sepultura sem esplendor.
Que
zorra quer dizer “visibilização”?
A
Reitoria da USP não é um espaço “simbólico” de poder, mas real, local da
administração de uma estrutura que reúne 89 mil alunos, 5.200 professores, 15
mil funcionários.
Os
extremistas da LER-QI, do PCO, do MNN e de outras obscuridades não formam um
“movimento social”. Nem mesmo invadiram a reitoria, inicialmente, com a
concordância da direção do DCE. Sigamos.
Os
auto-intitulados “juízes para a democracia” estão afirmando que depredar
patrimônio público, usar capuzes à moda dos partidários de ações terroristas,
estocar coquetéis Molotov num prédio público em que se abrigam algumas dezenas
de pessoas, obstar o direito de ir e vir, impor-se a estudantes e professores
por meio da intimidação e da violência, estes juízes estão dizendo que tudo isso
tem “o objetivo de buscar o aprimoramento
da ordem jurídica e não a sua negação”.
E
o texto se sai com um sofisma de uma tolice suprema, assustadora. “Se assim não fosse”, diz o texto, os
invasores “não fariam reivindicações,
mas, sim, revoluções”.
Heeeinnn?
Revolução? Os 72 da Reitoria? Seria de dar inveja aos 300 de Esparta!
Ah,
sim: eles reivindicam, claro! Recorrendo aos métodos acima descritos, pedem a
saída do reitor, que exerce o cargo legal e legitimamente; pedem a saída da PM
da USP, quando a maioria esmagadora (mas não profissional e quieta) dos uspianos
quer o contrário; exigem, no berro, o fim de processos judiciais contra notórios
agressores do patrimônio público, como se juízes fossem.
De
resto, os canais da representação estudantil na USP estão abertos e são
devidamente ocupados pelos alunos.
“Entretanto,
segmentos da sociedade, que ostentam parcela do poder institucional ou
econômico, com fundamento em uma pretensa defesa da legalidade, estão fazendo
uso, indevidamente, de mecanismos judiciais, desviando-os de sua função,
simplesmente para fazer calar os seus interlocutores e, assim, frustrar o
diálogo democrático”.
Por
que os senhores juízes dessa tal associação não tentam dizer qual é o “poder
econômico” que está perseguindo aqueles “pobres meninos”, como os chamou um
repórter?
Por
que a defesa da legalidade seria “pretensa”?
Que
lei – e estes senhores estão obrigados a dizê-lo – autoriza aquele tipo de
comportamento, toda aquela agressão e vandalismo?
Qual
é a função da Justiça que não a garantia dos direitos? Aliás, a percepção desse
desvio já chegou ao Judiciário trabalhista no que se refere aos “interditos
proibitórios” em caso de “piquetes” e “greves”, bem como no Judiciário Civil,
como ocorreu, recentemente, em ação possessória promovida pela UNICAMP, em
Campinas, contra a ocupação da reitoria por estudantes, quando um juiz,
demonstrando perfeita percepção da indevida tentativa de ‘judicialização da
política’, afirmou que “a
ocupação de prédios públicos é, tradicionalmente, uma forma de protesto
político, especialmente para o movimento estudantil, caracterizando-se, pois,
como decorrência do direito à livre manifestação do pensamento (artigo 5º, IV,
da Constituição Federal) e do direito à reunião e associação (incisos XVI e XVII
do artigo 5º)”, que “não se trata propriamente da figura do esbulho do Código
Civil, pois não visa à futura aquisição da propriedade, ou à obtenção de
qualquer outro proveito econômico” e que não se podem considerar os eventuais
“transtornos” causados ao serviço público nesses casos, pois “se assim não
fosse, pouca utilidade teria como forma de pressão”.
Ignorava
essa peça magnífica do direito. Bom saber! Ele também pertence à associação. Se
bem entendi, estamos diante do raciocínio da perfeita circularidade do valor da
ilegalidade:
1)
ocupa-se
um prédio público para, por meio da imposição do transtorno a terceiros, obter
um determinado resultado;
2)
o
que levaria à conquista do objetivo seria justamente o transtorno;
3)
logo,
a imposição de um movimento por meio da violência se justifica por sua
eficácia... Entenderam? Mais ainda: como a ocupação seria já uma “tradição”,
então se insere entre as práticas aceitáveis. E há algo ainda mais ‘encantador’:
se o objetivo não for a alienação, para sempre, do imóvel, os invasores podem
continuar enquanto houver história…
“Ora,
se é a política que constrói o direito, este, uma vez construído, não pode
transformar-se em obstáculo à evolução da racionalidade humana proporcionada
pela ação política”.
Gostei do “ora”, porque faz supor que haverá uma dedução ditada pela pura
lógica.
A
afirmação de que a “política constrói o direito” é uma falácia, é palavrório.
Querem ver: eu posso dizer que “a política constrói as vacinas” ou que “a
política constrói as prerrogativas dos juízes”. No fim das contas e, em certa
medida, a política constrói qualquer coisa porque tudo tem um fundamento também
político, em algum momento. Mas não é aceitável, certamente, que maiorias
políticas de ocasião, ou minorias influentes, mudem o valor científico de uma
vacina ou cassem as prerrogativas de juízes, não? Ou as leis asseguram a
permanência das regras nas democracias de direito, ou tudo se torna, então,
relativo.
Calma,
leitor! As coisas ficarão muito piores!
“É
por isso que a AJD sente-se na obrigação de externar a sua indignação diante da
opção reacionária de autoridades acadêmicas pela indevida judicialização de
questões eminentemente políticas, que deveriam ser enfrentadas, sobretudo no
âmbito universitário, sob a égide de princípios democráticos e sob o arnês da
tolerância e da disposição para o diálogo, não pela adoção nada democrática de
posturas determinadas por uma ‘lógica irracional’, fundada na intolerância de
modelos punitivos moralizadores, no uso da força, e de expedientes
“disciplinadores” para subjugar os movimentos estudantis reivindicatórios e no
predomínio das razões de autoridade sobre as razões de direito, causando
inevitáveis sequelas para o aprendizado democrático”.
Trata-se
apenas de uma soma de clichês de ultra-esquerda, de fazer inveja ao PCO, com
exceção talvez da palavra “arnês”, que vem a compensar a “visibilização”.
Invadir
um prédio público no berro, na marra, depredando instalações, é “democrático”?
Por
que a associação não explica o que quer dizer com “modelos punitivos
moralizadores”?
É
favorável, por acaso, aos “imoralizadores”? Agora vem o grande
momento.
“Não
é verdade que ninguém está acima da lei, como afirmam os legalistas e
pseudodemocratas:
estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das
normas e princípios constitucionais e que, por isso, rompendo com o estereótipo
da alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar o seu ousio e a
sua juventude a serviço da alteridade, da democracia e do império dos direitos
fundamentais. Decididamente, é preciso mesmo solidarizar-se com as ovelhas
rebeldes, pois, como ensina o educador Paulo Freire, em sua pedagogia do
oprimido, a educação não pode atuar como instrumento de opressão, o ensino e a
aprendizagem são dialógicos por natureza e não há caminhos para a transformação:
a transformação é o caminho”.
Eis
aí! Os juízes dessa associação estão declarando que há pessoas que estão acima
da lei.
Quem?
Em
seu condoreirismo cafona, explicam: “todas as pessoas que vivem no cimo
preponderante das normas e princípios constitucionais e que, por isso, rompendo
com o estereótipo da alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar
o seu ousio e a sua juventude a serviço da alteridade, da democracia e do
império dos direitos fundamentais.”
Trocando
em miúdos: referem-se àqueles que dizem querer revolução, cuja ideologia se
afina, parece, com a dos juízes da tal associação.
Cabe,
então, uma pergunta fundamental: se esses movimento invadirem tribunais,
inclusive aqueles em que esses senhores atuam, o que farão? Juntar-se-ão aos
invasores, que se farão, então, os donos momentâneos da Justiça, privatizando-a,
expropriando os demais brasileiros de um dos Poderes da República, para
submetê-lo, então, à sua pauta, à sua vontade? E serão intocáveis! Afinal,
estão, como dizem esses juízes, acima da lei!
Paulo
Freire citado como mestre do direito? Ai, ai… Este senhor está na raiz do mal
fundamental da educação no Brasil. O estrago que fez, como se nota, vai além até
de sua área de atuação. Foi Freire quem convenceu os idiotas brasileiros — e
cretinos semelhantes mundo afora, mas, aqui, com efeitos devastadores — que a
função de um professor é “conscientizar”, não ensinar. Os alunos brasileiros
costumam se ferrar em exames internacionais de matemática, leitura e domínio da
língua — não é, senhores da “visibilização”? —, mas conhecem todos os clichês da
“cidadania socialista”…
Numa
democracia, nenhum dos Poderes é soberano; por isso, têm de ser independentes e
harmônicos; não há aquele que possa se impor sobre os demais. Sabemos, no
entanto, que a Justiça, em caso de conflito de direitos, detém a palavra final.
Os homens que assinam essa estrovenga estão entre aqueles que podem decidir a
sorte de pessoas, o seu destino. Qualquer um que esteja prestes a ter sua vida
definida por um desses togados está certo de que entra no tribunal para
encontrar um magistrado isento, que tenha a lei como parâmetro, que se oriente
pela letra escrita tanto quanto possível ou por uma interpretação o mais
abonadora possível do que vai se consolidado na Constituição e nos
códigos.
Cuidado!
Pode ser um engano!
Você
pode ser apenas um pobre coitado a enfrentar uma demanda contra “as
pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios
constitucionais”. Se tiver essa má sorte, esqueça! Vai perder a
causa ainda que tenha razão. Não só não terá um juiz “justamente” a seu favor
como o terá na condição de mero subordinado da outra
parte.
Afinal,
se há quem esteja acima das leis, é evidente que há quem esteja acima também dos
juízes — ou, pior, em cima deles!
Você
tem o direito de saber quem aparece no “Expediente” da página da Associação
Juízes para a Democracia. Você tem o direito de saber quais são as pessoas que,
num tribunal, também se consideram abaixo dos que rompem “com o estereótipo da
alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar o seu ousio e a sua
juventude a serviço da alteridade, da democracia e do império dos direitos
fundamentais”.
Volto para encerrar.
CONSELHO
DE ADMINISTRAÇÃO
José
Henrique Rodrigues Torres - presidente do Conselho
Executivo;
Fernanda
Menna Pinto Peres - secretária do Conselho Executivo;
Alberto
Afonso Muñoz - tesoureiro do Conselho Executivo
Edvaldo
Marcos Palmeiras, João Marcos Buch, Geraldo Luiz Mascarenhas Prado, Reno Viana
Soares
SUPLENTES
- Angelica
de Maria Mello de Almeida, Luís Fernando Camargo de Barros, Vidal Urbano
Ruiz
REPRESENTANTES
REGIONAIS
Bahia:
Ruy
Eduardo Almeida Britto, Reno Vianna Soares, Gerivaldo Alves Neiva
Maranhão:
Oriana
Gomes, Douglas de Melo Martins, José Edilson Caridade Ribeiro
Pernambuco:
Airton Mozart Valadares Vieira Pires, Carlos Magno Cysneiros Sampaio, José Viana
Ulisses Filho
Rio
de Janeiro:
André Felipe Alves da Costa Tredinnick, Rubens Casara, João Batista Damasceno
Santa
Catarina:
Angela Maria Konrath, Alessandro da Silva, João Marcos Buch
Tocantins:
Marco
Antonio Silva Castro
COORDENAÇÃO
EDITORIAL
Alberto
Alonso Muñoz Célia Regina Ody Bernardes Fernanda Menna Pinto Peres Gerivald
Neiva Kenarik Boujikian Felippe Luiza Barros Rozas Reginaldo
Melhado
Encerro: Se há pessoas no Brasil que estão acima da lei, então o estado de direito está morto.
01 de dezembro de 2011
A PORTA DA RUA É A SERVENTIA DA CASA
Uma mensagem para a Europa toda aprender e muitíssimo depressa.
Primeiro-Ministro australiano brilhou novamente!!
Se você quer mudar residência para outro país e se integrar ali, ...BEM-VINDO,
mas se você quer mudar qualquer coisa naquele país em que deseja viver.....
TCHAU, vá-se embora... ADEUS.
O mundo inteiro precisa de um líder assim!
Primeiro Ministro Kevin Rudd- Austrália
Foi dito na quarta-feira aos muçulmanos que querem viver debaixo da lei islâmica Sharia para saírem da Austrália, agora que o governo está de mira nos radicais, numa tentativa de desviar ataques terroristas potenciais.
Separadamente, Rudd enfureceu alguns muçulmanos australianos na quarta-feira dizendo que ele apoiava agências de espionagem que monitoram as mesquitas da nação.
Citação:
'IMIGRANTES, E NÃO OS AUSTRALIANOS, TÊM QUE SE ADAPTAR . SE NÃO ACEITAREM, VÃO EMBORA.
Estou cansado desta nação que se preocupa sobre se estamos ofendendo algum indivíduo ou a sua cultura.
Desde os ataques terroristas em Bali, experimentamos uma onda de patriotismo sobre a maioria dos australianos..'
'Esta nossa cultura foi desenvolvida através de dois séculos de lutas, experiências e vitórias por milhões de homens e mulheres que buscaram liberdade.'
'Falamos principalmente o INGLÊS, não espanhol, libanês, árabe, chinês, japonês, russo ou qualquer outro idioma.
Então, se você desejar se tornar parte de nossa sociedade, aprenda o idioma!'
'A maioria dos australianos crê em Deus. Não se trata de um movimento direitista político, mas um fato, porque homens e mulheres cristãos fundaram esta nação em princípios cristãos, e isto está claramente documentado. É certamente apropriado exibir isto nas paredes de nossas escolas.
Se Deus o ofender, então sugiro que você considere outra parte do mundo como seu novo lar, porque Deus faz parte de nossa cultura.'
'Aceitaremos suas convicções e não questionaremos por quê. Tudo que pedimos é que você aceite as nossas, e que viva em harmonia e desfrute pacífico conosco.'
'Este é NOSSO PAÍS, NOSSA TERRA e NOSSO ESTILO DE VIDA e nós lhe permitiremos toda oportunidade para desfrutar tudo isso.
Mas uma vez que você acabe de reclamar, lamentar e se queixar sobre Nossa Bandeira, Nosso Penhor, Nossas Convicções Cristãs ou Nosso Modo de Vida, eu recomendo fortemente que você tire proveito de uma outra grande liberdade do australiano, 'O DIREITO de IR-SE EMBORA.''
'Se você não está então contente aqui, PARTA! Não o forçamos a vir para cá. Você pediu para estar aqui. Assim, aceite o país que VOCÊ ESCOLHEU.'
Talvez se circularmos isto entre nós, vamos achar coragem para começar a falar e a expressar as mesmas verdades.
Se você concordar, por favor, compartilhe.
AS ATITUDES QUE TOMAMOS FAZEM O PAÍS QUE QUEREMOS.
Enviada por
José de Araújo Madeiro de Araújo Madeiro
Enviada por
José de Araújo Madeiro de Araújo Madeiro
O petróleo no mundo - parte I
O comentarista Mário Assis nos envia uma entrevista do professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, concedida a Pedro Estevam da Rocha Pomar e Thaís Carrança, da revista da Associação dos Docentes da USP.
Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, ex-diretor da Petrobras no primeiro governo Lula, Sauer conta como foi descoberto o Pré-Sal e denuncia o lobby feito por José Dirceu para entregar a Eike Batista a maior parte das reservas.
***
Ildo Sauer
Não acredito que o regime capitalista tenha condições, sem se aprofundar numa crise mais violenta do que a que já viveu até hoje, de abrir mão dos recursos remanescentes do petróleo.
A população era de 700 milhões de habitantes em1750. A Era do Carvão a elevou para 1,7 bilhão, com o incremento extraordinário da produtividade do trabalho social. A Era do Petróleo praticamente se aprofunda de1910 a 1920, e é hegemônica ainda até agora, como processo de incremento extraordinário da produtividade do trabalho e da circulação de mercadorias, no âmbito industrial, urbano e de circulação, conquanto a eletricidade foi mais para alguns tipos de fábrica e algumas coisas do ambiente urbano.
Lenin dizia que socialismo é soviete mais eletricidade. Ele tinha razão porque a eletricidade chegando, a produtividade do trabalho aumentava, saía-se da era de quase caçador e coletor, pré-revolução agrícola, para uma era pós.
Então não há que desprezar o que aconteceu na União Soviética em termos de fenômeno de produção. Incremento extraordinário com apropriação social da energia.
A apropriação do petróleo pelo capitalismo para incrementar a produtividade do trabalho fez a população pular de 1,7 bilhão, em 1910, para 7 bilhões de pessoas, 100 anos depois.
Produz-se em escala sem precedentes, circula-se em escala sem precedentes.
O PIB mundial hoje é de US$ 60 trilhões, mais ou menos; o excedente econômico do petróleo sozinho é US$ 3 trilhões.
Hoje um barril custa menos de US$ 10, vale mais de US$ 100. Produzem-se hoje 85 milhões de barris por dia, que dá uns 30 bilhões de barris por ano.
O excedente é US$ 100 por barril, vezes 30 bilhões, isso dá US$ 3 trilhões por ano, que é um excedente econômico disputado com todas as armas para incrementar a acumulação capitalista.
Isto é produção de valor sem alocar trabalho de capital, é o chamado lucro suplementar. Então se invade o Iraque, se ameaça a Venezuela, se cria a 4ª Frota para vigiar o Atlântico Sul quando o Pré-Sal brasileiro vai até 300 km mar adentro e não é reconhecido que isso é mar territorial pelos países.
Os Estados Unidos têm 30 bilhões de barris de reservas: dá para três anos se eles quiserem produzir seu próprio petróleo, consumindo cerca de 9 bilhões/ano.
O capitalismo mundial não consegue operar sem o petróleo, por esses atributos. Substituir o petróleo significa gastar muito mais trabalho, muito mais capital, para fazer a mesma produção.
Quando o mundo de hoje precisaria, se fosse possível pensar utopicamente, satisfazer as necessidades dos 2 bilhões de famintos que vivem abaixo da linha de pobreza, dos outros 2 bilhões de remediados; significa que deveríamos produzir mais, portanto incrementar a produtividade industrial do trabalho, mas, acima de tudo, redistribuir melhor o produto social do sistema econômico.
Esse é o dilema.
Isso evidentemente agrava a questão ambiental global da biosfera.
Só que eu não vejo saída, a não ser uma saída gradual.
Não é possível imaginar, como muitos da sustentabilidade vulgar fazem crer, que os processos são circulares, que retornam sempre ao mesmo ponto.
A história só anda para frente, é um processo dialético permanente de rupturas e mudanças. Achar que o mar sempre vai ser do mesmo jeito, a atmosfera, é ilusão.
E aí, como é que eu coloco o Pré-Sal nessa história?
Primeiro, que a demanda mundial de petróleo vai ser satisfeita, independentemente de com que recursos, ou vai ser substituído por coisas piores como carvão liquefeito, por um processo Fischer-Tropsch.
Você usa carvão para separar a molécula da água em hidrogênio e oxigênio, combina os hidrogênios com carbono e faz qualquer cadeia de combustível, que pode ser GLP, pode ser gás natural, pode ser gasolina, pode ser querosene, pode ser óleo combustível.
Quanto custa?
US$ 80, que aliás é o preço diretor, o preço social de produção da energia. Marx já previa isso, ele estava correto. É o carvão que determina o preço do petróleo, porque ele é o único substituto em escala global.
Então, do ponto de vista da apropriação da renda absoluta, renda diferencial, todos aqueles que controlam o oligopólio do petróleo não abrem mão dele, a não ser pelo seu preço social alternativo, que é dado pelo preço social de produção do carvão, que seria a alternativa em escala mundial, capaz de satisfazer as necessidades energéticas.
Talvez no futuro, se a tecnologia evoluir muito, podem ser os renováveis, ou então a nuclear.
Porque o bolsão de petróleo remanescente convencional hoje é de cerca de 1,8 trilhão de barris.
Nós estamos consumindo hoje 30 bilhões de barris por ano, portanto teria, teoricamente, [estoque para] 60 anos.
No entanto, nesse quadro, eu não vejo como se poderá abrir mão do petróleo. Ainda que fosse um desejo de apropriar mais energia renovável, aumentar a produtividade dos sistemas tecnológicos que apropriam energia do sol, o recurso menos disponível na Terra é o do petróleo.
Energia natural não falta.
Aquela que é disputada é a que permite maior excedente econômico, especialmente aquela que gera o lucro suplementar tão grande quanto é o petróleo hoje.
Não há nada que se compare. Mesmo num sistema socialista, se eu me lembro bem do que disse o Lenin, também não se poderia abrir mão daqueles recursos que permitem produzir mais com menos trabalho, para satisfazer mais necessidades, ao invés de só acumular e botar no balanço das empresas, que é o que o capitalismo faz — essa é a grande diferença.
No entanto, nesse quadro, é absolutamente inaceitável o modelo que foi aprovado, depois que o Pré-Sal foi confirmado, em 2005, quando se furou o poço de Paraty.
No poço de Paraty, debaixo do sal, havia petróleo, confirmando uma suspeita de três, quatro décadas.
Em 2005 foi Paraty, em 2006 Tupi chegou.
NO POST ABAIXO:
Dirceu, Eike e o Pré-Sal
Dirceu, Eike e o Pré-Sal
01 de dezembro de 2011
Os leilões dos campos da Petrobras - Parte final
Ildo Sauer denuncia como José Dirceu entregou o Pré-Sal para Eike Batista
Tribuna da Internet
Agradecendo ao comentarista Mario Assis, que nos enviou a matéria, publicamos hoje a segunda parte da importantíssima entrevista do professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, concedida a Pedro Estevam da Rocha Pomar e Thaís Carrança, da revista da Associação dos Docentes da USP (Adusp).
Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, ex-diretor da Petrobras no primeiro governo Lula, Sauer conta como foi descoberto o Pré-Sal e denuncia o lobby feito por José Dirceu para entregar a Eike Batista a maior parte das reservas.
Revista Adusp: Você ainda estava na Petrobras, quando o Pré-Sal foi descoberto?
Ildo Sauer - Eu ajudei a tomar essa decisão. Nós tomamos essa decisão, não sabíamos quanto ia custar. O poço de Tupi custou US$ 264 milhões, para furar os 3 km de sal e descobrir que tinha petróleo. O Lula foi avisado em 2006 e a Dilma também, de que agora um novo modelo geológico havia sido descoberto, cuja dimensão era gigantesca, não se sabia quanto. Então, obviamente, do ponto de vista político, naquele momento a nossa posição, de muitos diretores da Petrobras, principalmente eu e Gabrielli, que tínhamos mais afinidade política com a proposta do PT de antigamente, a abandonada, achávamos que tinha que parar com todo e qualquer leilão, como aliás foi promessa de campanha do Lula.
Na transição, ainda a Dilma falou, “não vai ter mais leilão”. Mas se subjugaram às grandes pressões e mantiveram os leilões. Fernando Henrique fez quatro, Lula fez cinco. Lula entregou mais áreas e mais campos para a iniciativa privada do petróleo do que Fernando Henrique.
Um ex-ministro do governo Lula e dois do governo FHC foram assessorar Eike Batista.
O que caberia a um governo que primasse por dignidade?
Cancelar o leilão.
Por que não foi feito?
Porque tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, estavam nessa empreitada”
Revista Adusp: Mas Gabrielli era contra e acabou concordando?
Ildo Sauer - Não. A Petrobras não manda nisso, a Petrobras é vítima, ela não era ouvida. Quem executa isso é a ANP [Agência Nacional do Petróleo], comandada pelo PCdoB, e a mão de ferro na ANP era da Casa Civil. Então a voz da política energética era a voz da Dilma, ela é que impôs essa privatização na energia elétrica e no petróleo.
Depois do petróleo já confirmado em 2006, a ANP criou um edital pelo qual a Petrobras tinha limitado acesso. Podia ter no máximo 30% ou 40% dos blocos, necessários para criar concorrência. Porque, em 2006, Tupi já havia sido furado e comunicado. O segundo poço de Tupi, para ver a dimensão, foi feito mais adiante, esse ficou pronto em 2007. Só que o Lula e a Dilma foram avisados pelo Gabrielli em 2006.
Muitos movimentos sociais foram a Brasília, nós falávamos com os parlamentares, os sindicatos foram protestar. O Clube de Engenharia, que é a voz dos engenheiros, mandou uma carta ao Lula, em 2007, pedindo para nunca mais fazer leilão.
Em 2005-6, o [Rodolfo] Landim, o queridinho do Lula e da Dilma, saiu da Petrobras. Porque o consultor da OGX, do grupo X, do senhor [Eike] Batista, era o ex-ministro da Casa Civil (José Dirceu), e ele sugeriu então que Eike entrasse no petróleo. Aí ele contratou o Landim, que começou a arquitetar. Como o centro nevrálgico da estratégia da Petrobras é a gerência executiva de exploração, o geólogo Paulo Mendonça, nascido em Portugal, formado aqui na USP, e o Landim, articularam para em 2007 criar uma empresa nova, a partir dos técnicos da Petrobras.
E o senhor Batista queimou alguns milhões de dólares para assinar os contratos e dar as luvas desses novos cargos, que estavam dentro da Petrobras mas, desde que o Landim foi trabalhar com o senhor Batista, ele já estava lá para arrancar de dentro da Petrobras esses técnicos.
Aí chegou o fim de 2007, todos nós pressionando para não ter mais leilão, o Lula tira 41 blocos…
Mas vamos voltar a 2006.
Em 2006, quem anulou o leilão foi a Justiça, por discriminação contra a Petrobras fazer essas coisas. Ouvi isso da Jô Moraes, num debate na Câmara dos Deputados.
Só que aí se criou o seguinte imbróglio: um ex-ministro do governo Lula e dois do governo Fernando Henrique, Pedro Malan e Rodolpho Tourinho, foram assessorar o Eike Batista. Ele já tinha gasto um monte para criar sua empresa de petróleo. Se o leilão fosse suspenso, ele ia ficar sem nada, e já tinha aliciado toda a equipe de exploração e produção da Petrobras.
O que caberia a um governo que primasse por um mínimo de dignidade para preservar o interesse público?
Cancelar o leilão e processar esses caras que saíram da Petrobras com segredos estratégicos.
Por que não foi feito?
Porque tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, os dois do governo anterior e um do governo Lula, estavam nessa empreitada.
Revista Adusp: Quem era o ex-ministro?
Ildo Sauer - O ex-chefe da Casa Civil, antecessor de Dilma.
Revista Adusp: José Dirceu?
Ildo Sauer - É, ele foi assessor do Eike Batista, consultor. Para ele, não era do governo, ele pegou contrato de consultoria, para dar assistência nas negociações com a Bolívia, com a Venezuela e aqui dentro. Ele [Dirceu] me disse que fez isso. Do ponto de vista legal, nenhuma recriminação contra ele, digamos assim. Eu tenho (recriminação)contra o governo que permitiu se fazer.
E hoje ele [Eike] anuncia ter 10 bilhões de barris já, que valem US$ 100 bilhões.
Até então, esse senhor Batista era um milionário, tinha cerca de US$ 200 milhões.
Todo mundo já sabia que o Pré-Sal existia, menos o público, porque o governo não anunciou publicamente.
As empresas que operavam sabiam, tanto que a Ente Nazionale Idrocarburi D’Italia (ENI) pagou US$ 300 milhões por um dos primeiros poços leiloados em 2008.
Três ou quatro leilões foram feitos quando o leilão foi suspenso pela justiça.
Até hoje, volta e meia o [ministro] Lobão ameaça retomar o leilão de 2008, 2006.
A oitava rodada.
Para entregar.
Tudo em torno do Pré-Sal estava entregue naquele leilão.
No leilão seguinte, o governo insiste em leiloar.
E leiloou.
E na franja do Pré-Sal é que tem esse enorme poderio.
Como é que pode? A empresa dele (Eike) foi criada em julho de 2007. Em junho de 2008 ele fez um Initial Public Offering, arrecadou R$ 6,71 bilhões por 38% da empresa, portanto a empresa estava valendo R$ 17 bilhões, R$ 10 bilhões dele. Tudo que ele tinha de ativo: a equipe recrutada da Petrobras e os blocos generosamente leiloados por Lula e Dilma.
Só isso.
Eu denunciei isso já em 2008.
Publicamente, em tudo quanto é lugar que eu fui, eu venho falando para que ficasse registrado antes que ele anunciasse as suas descobertas.
Porque fui alertado pelos geólogos de que lá tinha muito petróleo.
Foi um acordo que chegaram a fazer, numa conversa entre Pedro Malan, Rodolpho Tourinho e a então ministra-chefe da Casa Civil (Dilma), em novembro, antes do leilão. O Lula chegou a concordar, segundo disse o pessoal do MST e os sindicalistas, em acabar com o leilão.
Mas esse imbroglio, de o empresário ter gasto dezenas de milhões de dólares para recrutar equipe e apoio político nos dois governos fez com que eles mantivessem…
Tiraram o filé-mignon, mas mantiveram o contra-filé.
O contra-filé é alguém que hoje anuncia ser o oitavo homem mais rico do mundo.
E tudo foi mediante essa operação no seio do governo.
Contra a recomendação dos técnicos da Petrobras, do Clube de Engenharia, do sindicalismo.
Foi a maior entrega da história do Brasil.
O ato mais entreguista da história brasileira, em termos econômicos.
Pior, foi dos processos de acumulação primitiva mais extraordinários da história do capitalismo mundial.
Alguém sai do nada e em três anos tem uma fortuna de bilhões de dólares.
A Petrobras durante a vida inteira conseguiu descobrir 20 bilhões de barris de petróleo, antes do Pré-Sal.
Este senhor, está no site da OGX, já tem 10 bilhões de barris consolidados.
Os Estados Unidos inteiros têm 29,4 bilhões de barris.
Ele anuncia que estará produzindo, em breve, 1,4 milhão de barris por dia — o mesmo que a Líbia produz hoje.
É esse o quadro. Ou a população brasileira se dá conta do que está em jogo, ou o processo vai ser o mesmo de sempre.
Do jeito que foi-se a prata, foi-se o ouro, foram-se as terras, irão também os potenciais hidráulicos e o petróleo, para essas negociatas entre a elite. O modelo aprovado não é adequado.
Mantém-se uma aura de risco sem necessidade, para justificar que o cara está “correndo risco”, mas um risco que ele já sabe que não existe.
Qual é a nossa proposta?
Primeiro, vamos mapear as reservas: saber se temos 100 bilhões, 200 bilhões, 300 bilhões de barris.
Segundo, vamos criar o sistema de prestação de serviço: a Petrobras passa a operar, recebe por cada barril de petróleo produzido US$ 15 ou US$ 20, e o governo determina o ritmo de produção.
Porque há um problema: a Arábia Saudita produz em torno de 10 milhões de barris, a Rússia uns 8 milhões de barris, depois vêm os outros, com2 a4 milhões de barris por dia: Venezuela, Iraque, Irã.
O Eike Batista anuncia a produção de 1,4 milhão de barris, a Petrobras anuncia 5 milhões de barris e pouco.
Significa que o Brasil vai exportar uns 3 ou 4 milhões de barris.
Já é o terceiro ator.
Não se pode fazer mais isso.
02 de dezembro de 2011
‘O Brasil é hoje a versão 2.0 da Espanha de 2003’, diz economista espanhol
Para Santiago Nino Becerra, Brasil segue o mesmo caminho adotado pela Espanha, de endividamento e de crescimento pelo crédito
Jamil Chade
O Estado de S. Paulo
MADRI
A Espanha é "irresgatável" e seus crescimento nos últimos anos foi "baseado numa ficção".
O alerta é de uma das principais referências hoje na Espanha, o economista Santiago Nino Becerra, autor de dois livros sobre a crise econômica que afeta o país. Em entrevista ao Estado, o economista diz que um resgate para a Espanha custaria 800 bilhões à UE e ao FMI, dinheiro que "simplesmente não existe". Becerra também alerta que há sinais claros de que o Brasil está seguindo o mesmo caminho de endividamento e de crescimento pelo crédito adotado pela Espanha há dez anos. "O Brasil hoje é a Espanha de 2003, em versão 2.0."
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como, depois de anos de euforia, a Espanha chegou a essa situação? A festa não era real?
A festa em todo o mundo tem sido uma ficção e ainda é uma ficção nos países onde continua. Quando a capacidade de endividamento se esgotou, o pagamento da dívida se tornou impossível.
Como o sr. explica que ninguém na classe política viu essa ameaça e a criação de bolhas?
Certamente sabiam. Mas tinham de ignorar essa possibilidade. O hiperendividamento era, desde o final dos anos 80, a única opção para crescer.
O sr. já alertava para os riscos em 2006. O que diziam as pessoas ao ouvir essa advertência?
Quem me escutava admitia que o crescimento da dívida era insustentável. Na Espanha, entre 1996 e 2005, a dívida privada cresceu 140%.
Na segunda-feira, quando um novo governo assume o poder, há coisas que ele possa fazer diferente do governo atual para solucionar a crise?
Na segunda-feira, alguém ligará para Moncloa (palácio do governo) e perguntará pelo presidente do novo governo e dirá a ele que pegue papel e lápis para tomar nota do que terá de fazer o novo governo do Reino da Espanha. Isso se já não lhe foi dito.
Depois de Portugal, Irlanda e Grécia, a Espanha é resgatável?
A Espanha é irresgatável, assim como a Itália. Seriam necessários uns 800 bilhões, valor que simplesmente não existe.
Os planos de austeridade terão efeitos sociais profundos. Serão suficientes para tirar os países da crise?
O problema não é o gasto, e sim a arrecadação. Ao não crescer, a arrecadação é reduzida e a renda pública cai. Como os países europeus têm compromisso de déficit, a única possibilidade é o corte de gastos públicos, mesmo que isso deprima ainda mais a economia.
O Brasil vive um boom. A Espanha pode servir de lição sobre como não fazer as coisas?
Acredito que o Brasil vive uma situação virtual como a que viveu a Espanha de 1995 a 2007.
Pelo que eu sei, a economia brasileira navega em um mar de créditos no qual o governo incentiva o consumo de tudo, como ocorreu na Espanha.
Para "resolver" a questão da distribuição de renda, o Brasil deu acesso a crédito a um porcentual enorme da população.
Algo parecido com o que ocorreu na Espanha.
De 1997 a 2007, os salários reais dos espanhóis só cresceram 0,7%.
Mas a população consumiu de tudo.
Penso que o Brasil hoje é a Espanha em 2003, numa versão 2.0.
18 de novembro de 2011
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