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sexta-feira, 3 de junho de 2016

O acerto de R$ 12 milhões


Em acordo de delação, Marcelo Odebrecht revela que a presidente Dilma cobrou pessoalmente doação de campanha para pagar via caixa dois o marqueteiro João Santana e o PMDB em 2014

Débora Bergamasco,
SÉRGIO PARDELLAS
ISTOÉ


O diálogo que compromete Dilma

Entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2014, o tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, cobrou de Marcelo Odebrecht uma doação “por fora” no valor de R$ 12 milhões para serem repassados ao marqueteiro João Santana e ao PMDB. Marcelo se recusou a fazer o repasse, mas diante da insistência de Edinho disse que iria procurar Dilma. Dias depois, em encontro pessoal, o empreiteiro e a presidente afastada mantiveram a conversa abaixo:

– Presidente, resolvi procurar a sra. para saber o seguinte: é mesmo para efetuar o pagamento exigido pelo Edinho?, perguntou Odebrecht.

– É para pagar, respondeu Dilma.

No acordo de delação premiada, firmado na última semana, o empreiteiro Marcelo Odebrecht fez uma revelação que, pela primeira vez, implica pessoalmente a presidente afastada Dilma Rousseff numa operação de caixa dois na eleição de 2014 – o que configura crime. Aos procuradores da Lava Jato, o empresário afirmou que a mandatária exigiu R$ 12 milhões para a campanha durante encontro privado entre os dois. A conversa ocorreu depois do primeiro turno da disputa presidencial. O recurso, segundo Odebrecht, abasteceu o caixa paralelo de Dilma e serviu para pagar o marqueteiro João Santana e o PMDB. A história narrada pelo empreiteiro é devastadora para as pretensões de Dilma de regressar ao poder. Nela, Marcelo Odebrecht atesta que a presidente afastada não apenas sabia como atuou pessoalmente numa operação criminosa. Aos integrantes da força-tarefa da Lava Jato, o empreiteiro desfiou com riqueza de detalhes a ação da presidente. O empresário contou que durante o período eleitoral foi procurado pelo então tesoureiro da campanha, Edinho Silva.




Alan Marques/Folhapress

O ex-ministro da Secretaria de Comunicação parecia apreensivo e reproduzia o mesmo comportamento persuasivo identificado por outros delatores do esquema do Petrolão, quando abordados pelo tesoureiro. A tensão derivava da urgência em amealhar mais recursos para reforçar o caixa da presidente. Na conversa, em tom impositivo, Edinho cobrou do empresário uma doação por fora que extrapolava o valor já combinado com os petistas anteriormente: um adicional de R$ 12 milhões. Deste total, deixou claro Edinho, R$ 6 milhões seriam para bancar despesas com marqueteiro João Santana e R$ 6 milhões para serem repassados ao PMDB. Oficialmente, o Grupo Odebrecht já havia doado R$ 14 milhões à campanha. Como a quantia extra era alta e, com o acréscimo, o valor doado representaria quase o dobro do acerto inicial, Marcelo ficou intrigado com a abordagem do tesoureiro.

Num primeiro momento, o empreiteiro reagiu de maneira negativa. Disse que se recusaria a fazer o pagamento. Diante da insistência de Edinho, disse-lhe, então, que procuraria pessoalmente a presidente Dilma. Foi o que aconteceu na sequência. Embora estivesse em plena efervescência da campanha eleitoral, Dilma abriu um espaço em sua agenda para receber o empresário. No encontro, segundo relato aos procuradores, Marcelo Odebrecht foi direto ao ponto. Questionou se era mesmo para efetuar o repasse exigido por Edinho. Ao que Dilma respondeu, sem titubear: “É para pagar”.

Ao narrar o diálogo aos integrantes da Lava Jato, Odebrecht compromete a presidente afastada naquilo que ela alardeava como uma vantagem em relação aos demais políticos mencionados no Petrolão: a pretensa ausência de envolvimento pessoal num malfeito. No momento em que a mandatária lutava para ganhar algum fôlego a fim de tentar reverter o placar do impeachment no Senado, a delação de Odebrecht confirmando que ela exigiu R$ 12 milhões do empreiteiro – numa ação nada republicana destinada a abastecer o caixa dois de sua campanha – cai com uma bomba em seu colo. Pela letra fria da lei, utilizar-se de dinheiro não declarado na campanha eleitoral é fator decisivo para a perda do mandato presidencial. E Dilma não só se beneficiou do esquema do Petrolão como operou diretamente para que um recurso de caixa dois, portanto ilegal, irrigasse os cofres de sua campanha, conforme revelou Marcelo Odebrecht à Lava Jato. Embora não seja este o objeto do processo do impeachment em tramitação no Senado, o depoimento do empresário torna insustentável a situação de Dilma e praticamente inviabiliza o seu retorno à Presidência. Na Lava Jato, a delação de Odebrecht é tida como absolutamente verídica. Os procuradores e delegados têm certeza de que não se trata de apenas uma versão.




ISTOÉ ANTECIPOU

Em edição de 20 de abril, reportagem revelou que Giles Azevedo orientou a agência Pepper no esquema de lavagem de dinheiro

Tanto a Polícia Federal quanto a Procuradoria da República já reuniam evidências de que a Odebrecht havia alimentado as contas do marqueteiro João Santana por meio de caixa dois eleitoral. Em relato aos procuradores federais de Brasília na tentativa de sacramentar um acordo de delação premiada, Mônica Moura, mulher de Santana, havia reconhecido que, na disputa de 2014, pelo menos R$ 10 milhões teriam sido pagos a ela e ao marqueteiro fora da contabilidade oficial. Segundo Monica, só a Odebrecht pagou via caixa dois ao menos R$ 4 milhões. Em dinheiro vivo. Pelo acordo firmado com a Lava Jato, ela tinha ficado de relatar de que maneira e por quem foram repassados os outros R$ 6 milhões. Os valores teriam sido entregues diretamente para ela e usados para pagar fornecedores na área de comunicação. Os investigadores e agentes da PF já tinham identificado um depósito para o casal feito pela Odebrecht numa conta na Suíça, não declarada à Receita brasileira, de US$ 3 milhões.

Agora é possível entender a razão do embaraço da presidente afastada ao discorrer sobre o tema em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada no último final de semana. Instada a se manifestar sobre a possibilidade de o empreiteiro a acusar de pedir dinheiro para pagar o marketing da campanha de 2014, a presidente afastada lançou mão de um discurso que, à luz dos fatos novos expostos por Marcelo Odebrecht no acordo de delação, não pára mais em pé: “Eu jamais tive conversa com o Marcelo Odebrecht sobre isso”. “Eu paguei R$ 70 milhões para o João Santana (em 2014). Tudo declarado para o TSE. Onde é que está o caixa dois?”, perguntou ela. Na referida entrevista, Dilma já havia se encalacrado ao negar que tivesse mantido encontros com o empreiteiro no Alvorada e “não se lembrar” de reuniões com o mesmo interlocutor no Palácio do Planalto. De acordo com os arquivos eletrônicos do Planalto, Dilma recebeu Odebrecht quatro vezes desde a sua posse. Duas no Palácio da Alvorada (em 26 de março e 25 de julho de 2014, ano eleitoral) e duas no Planalto (10 de janeiro e 10 de outubro de 2013).



AFP PHOTO/STR/AFP/STR;
José Cruz/Agência Brasil; Moreira Mariz



Unindo as peças do quebra-cabeças disponíveis até agora também é possível entender com mais clareza o motivo pelo qual a presidente Dilma se esforçou pela soltura de Marcelo Odebrecht da prisão: ela temia que viesse a público exatamente o que o empresário revelou aos procuradores da Lava Jato – e que, agora, ISTOÉ divulga com exclusividade. Em sua delação, Delcídio do Amaral (sem partido- MS) expôs a gigantesca preocupação da presidente com o tema. Disse que Dilma nomeou o ministro Marcelo Navarro ao STJ em troca do seu compromisso de produzir um relatório em favor da liberdade do empreiteiro. Delcídio personifica a chamada prova testemunhal. Segundo ele, a nomeação de Navarro destinada ao propósito de soltar Odebrecht foi tratada por Dilma em conversas com ele próprio, durante caminhadas nos jardins do Alvorada. Como se sabe, Navarro realmente emitiu parecer pela concessão de um habeas corpus a Odebrecht, mas acabou sendo voto vencido no tribunal. Com base no depoimento de Delcídio o procurador-geral da Repúbica, Rodrigo Janot, requisitou ao STF a abertura de um inquérito para apurar se Dilma obstruiu a Justiça, o que também é considerado crime. Quando o então líder do governo assinou o acordo de delação, João Santana e sua mulher ainda desfrutavam a liberdade com o dinheiro das petrotraficâncias.




Antes mesmo da prisão dos dois, a PF havia recolhido no celular de Marcelo Odebrecht uma mensagem endereçada a um executivo de sua empreiteira crivada de suspeitas: “Dizer do risco cta [conta] suíça chegar na campanha dela.” O cheiro de pólvora resultava do óbvio “risco” insinuado no texto de Odebrecht de que a conta na Suíça fosse descoberta e ficasse estabelecida a conexão com a campanha de Dilma em 2014. Com a delação de Marcelo Odebrecht, surge a peça que restava para compor um cenário letal para a presidente afastada na luta contra o impeachment. A Polícia Federal também já havia anexado ao inquérito da Operação Acarajé documentos apreendidos com a secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, presa em março. Uma das planilhas encontradas tinha o título “Feira-evento 14”. O documento detalhava sete pagamentos feitos entre 24 de outubro e 7 de novembro de 2014, totalizando R$ 4 milhões. Os investigadores descobriram que “Feira” era o apelido usado por funcionários da Odebrecht e pelo próprio ex-presidente da empresa para identificar a mulher do marqueteiro, responsável por cuidar das negociações financeiras do casal e da agência de publicidade Pólis, que comandou as campanhas da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

Há duas semanas, em meio à divulgação das conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, soube-se que o meio político, em especial os caciques do PMDB, já precificava o potencial devastador da delação de Odebrecht sobre Dilma Rousseff. Num diálogo com Machado, ex-presidente da Transpetro, o presidente do Senado, Renan Calheiros, diz que a situação de Dilma Rousseff se tornaria insustentável a partir da delação da Odebrecht, porque iria “mostrar as contas” dela. “Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito”, disse-lhe o ex-presidente da Transpetro. “Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é corrupta”, sapecou Renan. Ao que Machado, na réplica, sentencia o desenlace irremediável da presidente. “Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença. O ex-senador José Sarney, em outro diálogo, repete o enredo entoado pelo antigo colega de Senado. Diz que a delação da Odebrecht “é uma metralhadora de [calibre] ponto 100”e relaciona a empreiteira a uma ação que a presidente afastada Dilma Rousseff teria feito diretamente durante campanha eleitoral. “Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela [Dilma] está envolvida diretamente é que falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do… E responsabilizar aquele [inaudível]”.

Preso desde junho de 2015 nas dependências da PF em Curitiba, Marcelo Odebrecht ainda deverá envolver no que vem sendo chamado de “delações das delações” ou “delação definitiva” ao menos 38 políticos. Um capítulo, em especial, é relativo ao ex-presidente Lula. O empreiteiro promete detalhar como se deram as obras do sítio em Atibaia (SP), cuja propriedade é atribuída ao petista.

Outro personagem que também pode vir à baila é Giles Azevedo, braço-direito da presidente afastada, elo de Dilma com a agência Pepper. O empresário ainda pretende contar sobre financiamentos de campanhas eleitorais feitas no Brasil e no exterior – não só a de Dilma Rousseff. Na prática, a delação propriamente dita ainda não foi assinada. Após intensas negociações, a Odebrecht subscreveu um acordo de confidencialidade com a Lava Jato.

O termo representa o início formal da negociação de delação. O termo é uma garantia para que o empresário comece a desnudar fatos ocorridos no esquema do Petrolão. Só depois da verificação do teor dos depoimentos pela força-tarefa da Lava Jato é que a Justiça avalizará o acordo. Há a expectativa de que próprio Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, preste depoimentos.

No atual estágio, e pela disposição dos envolvidos, é muito difícil que haja um recuo. O próprio juiz Sérgio Moro, num inequívoco gesto de boa vontade, extinguiu na última semana um dos processos contra a empreiteira (leia box na próxima página). Ou seja, está mais do que escancarado o caminho para a oficialização da delação de Odebrecht. Péssima notícia para os políticos. Ótima para o País.



PRESSÃO
Ricardo Pessoa, da UTC, também relatou que foi compelido por Edinho Silva a doar mais dinheiro para a campanha de Dilma (Crédito:Wilson Dias/Agencia Brasil)

A tática recorrente de Edinho

O delator Ricardo Pessoa, da UTC, relatou aos investigadores que o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014, Edinho Silva, o pressionou a doar mais dinheiro. “O Edinho me disse: ‘Você tem obras na Petrobrás e tem aditivos. Não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Estou precisando’”.

O tesoureiro queria R$ 20 milhões. Pessoa ofereceu R$ 5 milhões no primeiro turno e mais R$ 5 milhões no segundo turno. Mas foram pagos R$ 7,5 milhões. Em delação premiada, Otavio Azevedo, da Andrade Gutierrez, também disse que Edinho Silva o pressionou para doar além do combinado. Pressionado, o executivo transferiu mais R$ 10 milhões para o caixa da petista. O total de doação declarada da empresa à campanha dela foi de R$ 20 milhões.



ELA SABIA
Segundo Cerveró, Dilma teve acesso a todas as informações sobre Pasadena
(Crédito:Jefferson Rudy/Agência Senado)


“Dilma mentiu sobre Pasadena”

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró desmentiu versão da presidente afastada, Dilma Rousseff, sobre a compra da refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. E disse também supor que ela sabia do esquema de pagamento de propinas a políticos com dinheiro da petroleira.

Em sua delação premiada tornada pública na quinta-feira 2 consta que a petista, à época presidente do Conselho Administrativo da Petrobras, teve acesso a todas as informações e cláusulas do negócio bilionário que só causou prejuízos à estatal.

“Não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas.” E continuou: “Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena; que o Conselho de Administração não aprova temas com base em resumo executivo”.


O documento revela ainda “que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras, que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma, sobre o repasse de propina.”

Ele também destacou que a transação foi autorizada com muito mais rapidez do que o de costume. “O projeto foi aprovado na Diretoria Executiva da Petrobras numa quinta e na sexta o projeto foi aprovado no Conselho de Administração; que esse procedimento não era usual”, foi registrado pelos investigadores.

Quando já estava preso, Cerveró afirmou ter ouvido do advogado do ex-senador Delcídio do Amaral que Dilma atuaria para “cuidar dos meninos”, tirando Cerveró e o também ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa da cadeia.

Além de Dilma, Cerveró revelou que, em 2000, houve orientação da cúpula da Petrobras para contratar a empresa de PRS Energia, de Paulo Henrique Cardoso, filho do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB).



GILES É DILMA

Segundo delação de Bené, Giles Azevedo pagou agência que atuou na campanha de Dilma com dinheiro público
(Crédito:Alan Marques/Folhapress)


Propina paga despesas pessoais

E-mails comprovam que Dilma sabia do Petrolão e teve despesas pagas com recursos do esquema. Segundo o jornal O GLOBO, as mensagens mostram que a compra de um teleprompter para a petista e até os custos do deslocamento de seu cabeleireiro, Celso Kamura, foram bancados por envolvidos nos desvios.

Em entrevista à ISTOÉ em 2011, Kamura disse que o marqueteiro João Santana custeava os serviços dele à presidente “em ocasiões de Estado”. As novas evidências contra a petista não param por aí. Em delação, o empresário Benedito Oliveira, o Bené, revelou que Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete de Dilma, firmou contratos do governo com agências para quitar despesas eleitorais.

Conforme já havia revelado ISTOÉ, Giles era o braço-direito de Dilma para tarefas espinhosas. Não fazia nada sem seu conhecimento. Como quando indicou para Danielle Fonteles, da Pepper, contas para receber caixa dois de campanha


03.06.16




Machado diz que pagou mais de R$ 70 milhões a Renan, Jucá e Sarney


Ex-presidente da Transpetro afirma, em depoimento, que presidente do Senado recebeu R$ 30 milhões
Por Jailton de Carvalho
O Globo
O presidente do Senado, Renan Calheiros; o ex-presidente da República, José Sarney; e o senador Romero Jucá: cúpula do PMDB Montagem

BRASÍLIA — O ex-senador Sérgio Machado disse, numa série de depoimentos após fechar acordo de delação premiada, que arrecadou e pagou mais de R$ 70 milhões desviados da Transpetro para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), para o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), entre outros líderes do PMDB. Segundo Machado, a soma mais expressiva, R$ 30 milhões, foi destinada a Renan, o principal responsável pela indicação dele para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras e maior empresa de transporte de combustível do país.

Renan indicou Machado para a presidência da Transpetro em 2003, no início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o manteve apoio para a permanência dele no cargo até ano passado, mesmo depois de ter sido acusado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina. Sarney também recebeu uma soma significativa, conforme a contabilidade do ex-presidente da Transpetro. Machado disse que repassou aproximadamente R$ 20 milhões para o ex-senador durante o período que esteve à frente da estatal.

Romero Jucá, que ficou uma semana como ministro do Planejamento do governo do presidente interino Michel Temer, foi destinatário de quantia similar a de Sarney, cerca de R$ 20 milhões. Machado também disse que abasteceu também contas dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Jáder Barbalho (PMDB-PR). As acusações de Machado são consideradas devastadoras. O ex-presidente da Transpetro falou sobre as somas repassadas aos padrinhos políticos dele e, como se não bastasse, indicou os contratos e os caminhos percorridos pelo dinheiro até chegar aos destinatários finais.


03/06/2016

Casa Civil restringe viagens aéreas de Dilma com aviões da FAB


Dilma só poderá utilizar aeronaves para se deslocar de Brasília a Porto Alegre.

Documento contraria entendimento do Senado, que afastou a petista.

Do G1, em Brasília *

Parecer elaborado pela Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil restringiu os deslocamentos aéreos da presidente afastada Dilma Rousseff, utilizando aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), ao trecho Brasília-Porto Alegre-Brasília.

O documento é assinado pelo subchefe de Assuntos Jurídicos, Gustavo do Vale Rocha, que já defendeu o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em ações no Supremo Tribunal Federal (STF).

A Casa Civil explicou que, por estar afastada de suas funções presidenciais, Dilma não tem compromissos oficiais que demandem o deslocamento em aviões da FAB. Explicou, ainda, que o uso está autorizado nos deslocamentos de Brasília a Porto Alegre porque familiares de Dilma residem na capital gaúcha.

O parecer assinado por Rocha contraria a intimação que o Senado enviou à presidente afastada quando decidiu abrir o processo de impeachment. O documento notificava Dilma da decisão dos senadores e informava os direitos que ela teria durante o período de afastamento.

A intimação, elaborada pela Advocacia-Geral do Senado, dizia que Dilma teria direito a transporte aéreo e terrestre sem delimitar os destinos aos quais a presidente afastada poderia se deslocar utilizando o aparato público.

“[A intimação] faz saber, ainda, que, a partir do recebimento desta intimação, está instaurado o processo de impedimento por crime de responsabilidade, ficando Vossa Excelência, nos termos do art. 86, §1º, II, da Constituição Federal, suspensa das funções de Presidente da República até a conclusão do julgamento no Senado ou até a decorrência do prazo fixado no §2º do referido artigo, de 180 dias, mantendo durante esse período as prerrogativas do cargo relativas ao uso de residência oficial, segurança pessoal, assistência saúde, transporte aéreo e terrestre, remuneração e equipe a serviço do Gabinete Pessoal da Presidência”, afirma a intimação.

Defesa de Dilma
Nesta sexta-feira (3), durante entrevista coletiva em Brasília, o ex-ministro e advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, afirmou que ficou sabendo do parecer pela imprensa e que achou a decisão "estranha".

Para ele, não cabe ao Executivo tratar desta questão, uma vez que o processo de impeachment que afastou Dilma da Presidência é responsabilidade do Legislativo, com regras chanceladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"Vejo como tentativa de que a presidente [Dilma] não participe de reuniões. Como ela vai se locomover? Com avião de carreira? O objetivo é impedir que a presidente se locomova. É uma tentativa de impedir que o discurso da presidente seja colocado pela sociedade. É terrível isso", disse Cardozo.

"Situações como esta são intimidação da defesa, dificulta a ação da presidente no país. E ela vai fazer o que? Pegar um carro, vai pegar um avião de carreira? O que se quer é isso? Não. Não querem que ela se locomova", acusou.

Também nesta sexta, em ato contra o presidente em exercício Michel Temer em Porto Alegre, Dilma Rousseff criticou o parecer e disse que está tendo o seu direito de defesa "cerceado".

“Nós estamos sendo cerceados do nosso direito de defesa. Eles não são democratas, são golpistas. [...] Um governo interino cujo objetivo é proibir que eu viaje. Vocês têm que ficar alegres porque meu direito de viagem é só de Brasília a Porto Alegre. Mas não fiquem felizes. É um escândalo que eu não possa viajar pro Rio, pro Pará, pro Ceará. Eu não posso pegar um avião, porque não tem segurança, é a Constituição que manda", criticou a presidente afastada.

* Colaboraram Filipe Matoso e Gustavo Garcia, do G1, em Brasília; e G1 RS.

03/06/2016

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Cerveró diz que Dilma sabia de propina de Pasadena para petistas


Teori Zavascki retira sigilo de delação do ex-diretor da Petrobras

Por Carolina Brígido e André de Souza
O Globo

Cerveró diz que Dilma sabia de propina de Pasadena para petistas
Geraldo Bubniak / Agência O Globo 19/04/2016

BRASÍLIA – Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a presidente afastada Dilma Rousseff não só tinha conhecimento de todos os detalhes sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, como também deveria saber que políticos do PT recebiam propina da Petrobras. O relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, tornou a delação pública nesta quinta-feira. Os depoimentos estavam guardados até ontem em caráter sigiloso e abastecem vários inquéritos que tramitam no tribunal sobre a Lava-Jato.

“Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a Refinaria de Pasadena”, disse o depoente. A delação também atesta “que Dilma Rousseff acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobras; que Dilma Rousseff, inclusive, tinha uma sala na sede da Petrobras no Rio de Janeiro; que Dilma Rousseff frequentava constantemente a Petrobras, usando essa sala, no Rio de Janeiro; Que Dilma Rousseff conhecia com detalhes os negócios da Petrobras”, diz o depoimento, prestado em 7 de dezembro de 2015.

No entanto, Cerveró pondera que não teve conhecimento de nenhum pedido de propina feito por Dilma. “Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras; que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma Rousseff sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o Partido dos Trabalhadores. Que o declarante não tem conhecimento de que Dilma Rousseff tenha solicitado, na Petrobras, recursos para ela, para políticos ou para o Partido dos Trabalhadores”, diz a delação.

No depoimento, Cerveró diz que entre março de 2005 e março de 2006 o projeto de aquisição da refinaria passou pela análise das áreas técnicas da Petrobras até ser aprovado pelo Conselho de Administração, que era presidido por Dilma – que, na época, também era ministra de Minas e Energia. O depoente contou que o processo de aprovação foi feito às pressas, de forma pouco usual.

Cerveró também disse ao Ministério Público Federal “que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas”, referindo-se às condições da compra da refinaria. O ex-diretor ponderou que não sabe de nenhuma irregularidade no processo de aquisição de Pasadena. Em julho de 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que a compra da refinaria de Pasadena causou um prejuízo de US$ 792,3 milhões à Petrobras. Cerveró discorda da avaliação do tribunal.

O depoente também afirmou que recebeu propina no valor de US$ 1,5 milhão. Parte desse dinheiro teria sido repassada ao ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). A delação também conta que Delcídio pressionou Cerveró o outro ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, para receber propina para financiar sua campanha para o governo de Mato Grosso do Sul. Em troca da participação em obras de Pasadena, a UTC teria concordado em repassar R$ 4 milhões a Delcídio. O depoente supõe que Dilma sabia disso.

“Que Delcídio do Amaral conversava diariamente com Dilma Rousseff, porque estava em campanha para o governo do estado do Mato Grosso do Sul, que isso faz o declarante crer que Dilma Rousseff sabia do adiantamento de propina a Delcídio do Amaral pela UTC”, diz o depoimento.

Em outro trecho da delação, um depoimento prestado em 19 de novembro do ano passado, Cerveró relatou um encontro entre o ex-senador Delcídio Amaral e a presidente afastada Dilma Rousseff. Ele ficou sabendo disso por meio de Edson Ribeiro, que já foi seu advogado. Nesse encontro, Dilma teria dito a Delcídio que ela cuidaria dos meninos, ou seja, do próprio Cerveró e de Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras.

Segundo Cerveró, Edson Ribeiro contou que Delcídio "havia lhe dito que tinha tido uma reunião com a Presidente da República, Dilma Rousseff, e ela dissera ao Senador que não se preocupasse porque ela 'cuidada dos meninos', referindo-se ao declarante (Cerveró) e Renato Duque".

Delcídio e Ribeiro acabaram presos no novembro do ano passado após uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, mostrar os dois tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras. Na ocasião também foram presos Diogo Ferreira, que era assessor de Delcídio, e o banqueiro André Esteves, do BTG Pacutal.

O caso é citado no depoimento de Cerveró. Segundo ele, seu filho lhe disse que Delcídio e Edson Ribeiro "estavam oferecendo todo o apoio ao declarante (Cerveró), com a condição de que Delcídio do Amaral e o Banco BTG Pactual não fossem envolvidos pelo decIarante nos casos". Além disso, "na visão do declarante, o que des queriam é que ele figurasse numa posição análoga à de Marcos Valério no mensalão, suportando a prisão por alguns anos em troca de ajuda financeira e eventuais auxílios políticos para melhorar sua situação".

Refinaria Pasadena, da Petrobras, nos EUA - Agência Petrobras


02/06/2016

Delator revela desvio de dinheiro em contrato da Presidência para pagar dívida da campanha de Dilma



O empresário Bené, operador do PT preso pela PF, relata ação de assessor da presidente para direcionar contrato milionário de publicidade da Presidência, em 2015, para quitar dívida da petista com a agência Pepper


FILIPE COUTINHO E TALITA FERNANDES
É
POCA


Giles Azevedo, num escritório do PT em Brasília, durante a campanha de Dilma à Presidência, em 2010. Os dois são amigos há duas décadas, desde os tempos em que militavam no PDT
(Foto: Alan Marques/Folhapress)


O empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, investigado na Operação Acrônimo da Polícia Federal, disse em sua delação premiada que o ex-chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff usou um contrato do Palácio do Planalto em 2015 para quitar dívidas da campanha presidencial de 2010.

Esta é a primeira vez que a Polícia Federal obtém evidências de que o Planalto comandado por Dilma desviou dinheiro público da Presidência da República para quitar caixa dois de campanha. Segundo Bené, a operação, coordenada no gabinete presidencial, transcorreu entre 2014 e 2015, em meio às investigações da Lava Jato e da própria Acrônimo. ÉPOCA teve acesso a parte dos depoimentos de Bené prestados à Polícia Federal em sua delação, que serão usados para a abertura de novos inquéritos. Bené está preso pela PF e é acusado de ser o principal operador de Fernando Pimentel, ex-ministro de Dilma e atual governador de Minas Gerais.

Segundo o empresário, Giles Azevedo, assessor mais próximo de Dilma, atuou para que o Planalto pagasse dívidas da campanha com a agência de comunicação Pepper, responsável pelo pleito de Dilma em 2010.

Bené contou aos investigadores que o governador de Minas confidenciou a ele que a Pepper vinha pressionando, desde 2014, para que fossem saldadas as dívidas de campanha. Foi então que Giles Azevedo trouxe uma solução, segundo Bené – e a solução foi pagar com o dinheiro do Planalto.

Para isso, de acordo com a delação premiada, Giles atuou para que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República pagasse a dívida, por meio de um contrato com a agência Click. A licitação, de fato, foi feita e o contrato de R$ 44,7 milhões foi oficializado apenas em março de 2015. Ou seja, segundo relato de Bené, Giles antecipou a formalização de um contrato da Presidência que só ocorreria meses depois. Segundo o Portal da Transparência, a agência já embolsou R$ 17 milhões desde então. Além desse contrato com o Planalto, a empresa mantinha apenas um nanico com a Embratur. Perguntado sobre o anexo da delação referente ao acordo da Pepper com o Planalto, que cita a campanha presidencial, Bené disse em depoimento: “QUE FERNANDO PIMENTEL relatou ao colaborador que GILES AZEVEDO se propôs a atender ao pedido de DANIELLE (PEPPER) a partir de contratação da agência CLICK em 2015, na qual a PEPPER teria uma participação”.




Segundo o delator, esse relato partiu de Fernando Pimentel, numa reunião ocorrida em 2014 entre o atual governador de Minas e Giles, num apartamento na Quadra 114 sul, em Brasília. “Em uma oportunidade no ano de 2014, FERNANDO PIMENTEL chamou o colaborador para um encontro no apartamento localizado na 114 sul, quando relatou que tivera um encontro que acabara de acontecer com GILES AZEVEDO sobre cobranças que ambos vinham recebendo de DANIELLE (PEPPER).” De acordo com Bené, a contratação de agência Click seria uma maneira de “não expor as partes (governo e Pepper)”.


Bené, contudo, disse que não atuou no caso e, por isso, não poderia informar sobre pagamentos ou irregularidades no contrato. Segundo ÉPOCA apurou, haverá um inquérito para investigar a suspeita levantada por Bené.

MAIS DINHEIRO PARA O PT EM 2014

A delação de Bené acusa também o PT de arrecadar propina como doação eleitoral na campanha de 2014. Esse valor foi, inclusive, destinado ao diretório nacional do partido. Naquele momento, vale registrar, a Operação Lava Jato já estava na rua. O empresário afirma que Pimentel cobrou R$ 5 milhões em propina do grupo JHSF. O valor foi usado, de acordo com o delator, como compensação pelo lobby que Pimentel fez para que o grupo pudesse operar no aeroporto Catarina, em São Roque. Para isso, segundo Bené, Pimentel tentaria viabilizar financiamento do BNDES, a autorização da Secretaria de Aviação Civil e que os Correios passassem a usar o aeroporto. Segundo Bené, apenas a autorização saiu.

O delator afirma que, de início, foi discutido colocar Fernando Pimentel como sócio oculto do aeroporto. Depois, acharam mais prático simplesmente cobrar R$ 5 milhões. A propina, segundo o delator, foi acertada no apartamento de Fernando Pimentel, em Brasília. Bené dá detalhes. Antes do encontro, ele foi informado por Pimentel que deveria cobrar R$ 5 milhões. Na reunião, não foi tratado de dinheiro – apenas falaram das demandas da empresa. Foi então que Bené acompanhou os empresários até a saída do prédio e informou o valor da propina com José Auriemo Neto, apelidado de Zeco, e um executivo chamado Humberto. “Ao final desse encontro, O colaborador acompanhou ZECO e HUMBERTO até a saída do edifício da residência de FERNANDO PIMENTEL, oportunidade em que o colaborador informou aos empresários a solicitação de 5 (cinco) milhões de reais, o que foi aceito por eles.”

Em nota, o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, desqualifica a delação de Bené. “É preciso lembrar que a delação por si só não é elemento de prova e a divulgação de parte de seu suposto conteúdo, ainda na fase do primeiro depoimento, além de ilegal, o que pode invalidá-la, não tem outro sentido senão o de influenciar a opinião pública e promover a antecipação da condenação do investigado”, diz.

Em nota, Giles de Azevedo negou veemente as acusações de Bené. “Giles de Azevedo vem a público esclarecer que desconhece o teor da colaboração premiada do senhor Benedito Oliveira. De qualquer forma, ressalta que os fatos indicados na matéria são inverídicos e não encontram respaldo na realidade, além de serem baseados em narrações de "ouvir dizer" de terceiros”, diz a nota. O assessor de Dilma afirma ainda que “nunca foi responsável por gestão ou negociação de contratos de publicidade da SECOM e tampouco conhece os representantes e/ou prepostos da Agência Click”. “Desta feita, rechaça veementemente os fatos mencionados".

A Pepper afirmou que não comentará em função do sigilo imposto pela Justiça ao caso. A agência Click afirma que nunca repassou dinheiro à Pepper. “A Isobar Brasil (nome atual da AgênciaClick Isobar) informa que nunca teve e não mantém qualquer relação comercial com a empresa alvo de apuração da reportagem da revista ÉPOCA. A Isobar reitera que, sendo uma das agências de comunicação que prestam serviços à Secom (Secretaria de Comunicação), cumpre rigorosamente as cláusulas previstas pelo contrato com o governo federal.”

A JHSF afirmou que recebeu “com surpresa a notícia de que foi mencionada em delação premiada” de Bené. A empresa afirma que “não cometeu qualquer ilícito, tendo feito apenas contribuições na forma da lei”.

02/06/2016

quarta-feira, 1 de junho de 2016

É preciso devolver à família a alma penada que transformou a residência presidencial em casa assombrada


Os oportunistas que ensaiam o minueto dos indecisos logo estarão dançando conforme a música composta pelos milhões de brasileiros fartos de incompetência, cinismo e ladroagem

Por Augusto Nunes
Veja.com


A presidente Dilma Rousseff foi despejada do Palácio do Planalto por exigência das ampla maioria dos brasileiros, cuja voz — encorpada pelas redes sociais — enfim se fez ouvir nas ruas de centenas de cidades engajadas na maior mobilização política registrada desde o Descobrimento. Os indignados, os descontentes e os arrependidos decidiram juntos, em 13 de março de 2016, que chegara a hora de afastar Dilma Rousseff do cargo que desonrou. O fim desse capítulo infeliz da nossa história foi decretado por esses milhões de brasileiros que vocalizaram ao ar livre a vontade da nação.

O processo de impeachment só foi aceito por Eduardo Cunha, endossado pela Câmara e está em julgamento no Senado porque o Congresso, como disse o deputado Ibsen Pinheiro em 1992, “sempre acaba querendo o que o povo quer”. Cumpre aos responsáveis pelo despejo da inquilina do Planalto concluir o serviço que começaram. É hora de manter o Senado sob estreita vigilância até que seja devolvida à família a alma penada que assombra o Palácio da Alvorada com uivos, lamentos, gemidos e, sempre que aparece alguma jornalista de confiança, palavrórios enunciados numa linguagem muito estranha e igualmente assustadora.

O minueto ensaiado pelos senadores arranchados no muro é apenas uma vigarice grisalha: o que os hesitantes de araque pretendem é aumentar o valor do voto. Logo estarão de volta à terra firme, dançando conforme a música tocada pela resistência democrática, entoando as palavras de ordem que identificam os alvos prioritários (“Fora Dilma!”, “Fora Lula!”, “Fora PT!”) e sussurrando o grito de guerra que passa ao largo de partidos ou líderes políticos para celebrar o juiz que simboliza a Lava Jato: “Viva Sérgio Moro!” Os gigolôs da indecisão sabem que vem aí outra eleição. E sabem também que o voto pune.

Compreensivelmente, ninguém deu vivas a Michel Temer. A vitoriosa oposição real ─ hoje hegemônica nas redes sociais, nas praças, nas avenidas, até no Datafolha ─ não votou no candidato a vice de Dilma Rousseff na chapa que revalidou o casamento do PT com o PMDB. Endossou a ascensão do presidente interino por respeitar a Constituição que os adoradores de Lula (e eleitores de Temer) sempre trataram a socos e pontapés. E torce sinceramente para que o novo governo tenha sucesso na missão de reconstruir o país arrasado pela era da canalhice. Quanto pior, melhor? Quem responde afirmativamente a tamanha maluquice tem tudo para virar sacristão de missa negra.

O balanço dos primeiros dias vai além das conversas gravadas por Sérgio Machado e do afastamento de dois ministros alistado na tropa que luta inutilmente para abortar a Lava Jato. O Brasil foi dispensado de envergonhar-se com a política externa da cafajestagem. Vai tomando forma o plano concebido para enfrentar a crise econômica — e qualquer plano é melhor que nenhum. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem demonstrado que é o homem certo no lugar certo. Começou a dedetização dos porões da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), infestados de blogueiros sabujos, múmias subalternas, jovens crápulas e velhotes velhacos que vendem letras por quilo batucando em jurássicas máquinas de escrever.

Não é muito. Mas não é pouca coisa, atestam os aplausos que recepcionaram o pequeno lote de mudanças. Também por isso, repete-se com crescente insistência a pergunta sem resposta: o que espera Michel Temer para escancarar a colossal caixa preta que guarda a verdadeira herança maldita? O rombo de 175.5 bilhões nas contas de Dilma pareceu espantoso até a quem achava que não se espantaria com mais nada. É preciso expor urgentemente o acervo acumulado em 13 sórdidos anos. Os brasileiros têm de contemplar o quanto antes a terra devastada pela passagem das incontáveis cavalgaduras do apocalipse.

O falatório gravado por Sérgio Machado reafirma que meliantes do PMDB e do PP agiram em parceria com larápios do PT no assalto aos cofres da Petrobras. E avisa que só cretinos fundamentais conseguem enxergam um país em que se confrontam esquerdistas generosos e direitistas brutais. O Brasil redesenhado pela Lava Jato está dividido em duas partes assimétricas e antagônicas. Uma é habitada por gente que apoia sem ressalvas o prosseguimento da operação que desmantelou o maior esquema corrupto surgido desde a chegada das caravelas. A outra é reservada aos quem sonha com a transformação da República de Curitiba numa versão brasileira de Hiroshima. É nesse lado escuro que se amontoam dirceus e jucás, dilmas e renans, mercadantes e machados.

A montanha de provas contundentes berra que o Petrolão é o filho mais abjeto de Lula. O ex-deputado Pedro Corrêa, no depoimento à Justiça divulgado na mais recente edição de VEJA, revelou que o então presidente comandou pessoalmente, em 2004, os trabalhos de parto da quadrilha que saqueou a Petrobras. Até 2010 ─ apoiado pela companheirada do PT, pelo banda podre dos partidos da base alugada, por empreiteiros de estimação e por diretores da Petrobras que ele próprio escolheu ─, o Pai dos Pobres acompanhou com cuidados de Mãe dos Ricos a evolução da criatura que Dilma acolheu com afagos de avó extremosa. O resto é o resto.

Tudo somado, os pais da pátria terão de escolher entre dois caminhos. Michel Temer decidiu percorrer a trilha à beira do penhasco. É perigosa, mas costuma levar a portos seguros. Dilma Rousseff optou desde sempre por descer a ladeira que desemboca no abismo. Milhões de brasileiros fartos de tapeação mantêm sob estreita vigilância todos os senadores, sobretudo os fantasiados de indecisos. A oposição real deve voltar às ruas para recomendar-lhes que tenham juízo na hora de votar.


01/06/2016


terça-feira, 31 de maio de 2016

Após Odebrecht, presidente da OAS formaliza processo de delação premiada


Assim como Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro assinou termo de confidencialidade


Por Cleide Carvalho
O Globo
O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro
Luis Macedo / Agência Câmara / 26-5-2015



SÃO PAULO — Assim como a Odebrecht, a OAS também formalizou o primeiro passo para que o presidente da empresa, José Adelmário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro, dê informações sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Tal qual Marcelo Odebrecht, Pinheiro também assinou o chamado termo de confidencialidade. A partir dele, o executivo poderá dar informações e oferecer documentos à força-tarefa da Lava-Jato. Um acordo de delação, no entanto, apenas será formalizado se o Ministério Público considerar que o que foi apresentado possa ajudar nas investigações.

O termo prevê que as informações prestadas no decorrer da negociação de uma delação premiada não sejam usadas nas investigações, caso o acerto não seja homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para onde o processo pode ser encaminhado se nomes de políticos com foro privilegiado forem mencionados.

Ao contrário de Marcelo, que assinou o termo na semana passada, Pinheiro teria assumido o compromisso assim que a OAS começou as primeiras tratativas com o MP, no início deste ano.

Se aceita, a delação de Léo Pinheiro deve ajudar a elucidar sobre o relacionamento da OAS com o governo Lula. Pinheiro e o ex-presidente eram amigos pessoais. Está em nome da OAS o tríplex no Guarujá, que seria destinado ao ex-presidente e era mantido em nome da empreiteira. A OAS também pagou por reformas no sítio de Atibaia, usado pela família de Lula. Pagou ainda por cozinhas planejadas e móveis instalados no tríplex e no sítio e comprados na mesma loja da Kitchens na capital paulista. Parte do valor foi paga em dinheiro.

Pinheiro foi condenado a 16 anos e 4 meses de prisão e segue em liberdade, até que a apelação apresentada pela defesa seja apreciada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O julgamento da apelação está marcado para o próximo dia 8. Caso a sentença do juiz Sérgio Moro seja confirmada, Pinheiro deve começar a cumprir pena tão logo se esgotem os recursos no TRF-4, o que deve ocorrer em, no máximo, dois meses.

O empresário tem expectativa de conseguir fechar acordo de delação antes de começar a cumprir a pena. Nesta quarta-feira, ele prestará depoimento no inquérito que investiga o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Léo Pinheiro havia relutado assinar acordo de delação premiada. A interlocutores, havia dito que só assinaria acordo se pudesse falar sobre a corrupção sistêmica que ocorre no país e abrange vários políticos e siglas.


PF indicia presidente do Bradesco em inquérito da Zelotes, diz MP


Ações caíram até 7,37%; banco afirma que não contratou serviços de grupo investigado

Por O Globo / Reuters
Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco
Paulo Fridman/ Bloomberg/3-8-2009

SÃO PAULO - A Polícia Federal encaminhou nesta terça-feira ao Ministério Público Federal (MPF) relatório de inquérito relacionado à Operação Zelotes em que indicia o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, informou o MPF do Distrito Federal via assessoria de imprensa.

O órgão não soube informar imediatamente por quais crimes a PF indiciou Trabuco e se havia outros funcionários do banco indiciados. Em nota, a instituição financeira informou que não contratou nenhum serviço da empresa investigada na operação. “O Bradesco informa que não houve contratação dos serviços oferecido pelo grupo investigado. Acrescenta que foi derrotado por seis votos a zero no julgamento do Carf. O Bradesco esclarece ainda que o presidente da instituição, Luiz Carlos Trabuco Cappi, não participou de qualquer reunião com o grupo citado”, explicou o pronunciamento.

A nota acrescenta ainda que o Bradesco venceu em todas as instâncias da justiça a um questionamento sobre a cobrança adicional de PIS?Cofins e que essa ação foi objeto de recurso pela Procuradoria da Fazenda no âmbito do Carf. “O Bradesco irá apresentar seus argumentos juridicamente por meio do seu corpo de advogados”, concluiu.

Uma fonte a par do assunto disse à Reuters, sob condição de anonimato, que o vice-presidente do Bradesco Domingos Figueiredo Abreu e o diretor financeiro do banco, Luiz Carlos Angelotti, também teriam sido indiciados pela PF.

As ações preferenciais do Bradesco (PN, sem direito a voto) passaram a despencar logo após as 15h, quando a notícia foi divulgada. Os papéis chegaram a cair 7,37%. No momento, a ação recua 5,37%, a R$ 22,70.

Caberá agora aos procuradores do Ministério Público analisarem o relatório da PF e decidirem se oferecem denúncia contra Trabuco à Justiça.

Em março deste ano, também no âmbito da Zelotes, o Ministério Público denunciou Joseph Safra, dono do Banco Safra, e o ex-diretor da instituição João Inácio Puga. Mais cedo este mês, a Polícia Federal indiciou o empresário André Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau, e mais 18 pessoas.

A Zelotes investiga suspeitas de manipulação de julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e o suposto pagamento de propina para a edição de medidas provisórias.


31/05/2016


AI DE TI, BRASIL




Ai de ti, Brasil, eu te mandei o sinal, e não recebeste.
Eu te avisei e me ignoraste, displicente e conivente com teus malfeitos e erros.
Ai de ti, eu te analisei com fervor romântico durante os últimos 20 anos, e riste de mim. Ai de ti, Brasil!

ARNALDO JABOR

Eu já vejo os sinais de tua perdição nos albores de uma tragédia anunciada para o presente do século XXI, que não terá mais futuro. Ai de ti, Brasil – já vejo também as sarças de fogo onde queimarás para sempre! Ai de ti, Brasil, que não fizeste reforma alguma e que deixaste os corruptos usarem a democracia para destruí-la. Malditos os laranjas e as firmas sem porta.

Ai de ti, Miami, para onde fogem os ladrões que nadam em vossas piscinas em forma de vagina e corcoveiam em “jet skis”, gargalhando de impunidade. Malditas as bermudas cor-de-rosa, barrigas arrogantes e carrões que valem o preço de uma escola. Maldita a cabeleira do Renan, os olhos cobiçosos de Cunha, malditos vós que ostentais cabelos acaju, gravatas de bolinhas e jaquetões cobertos de teflon, onde nada cola. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Brasília? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados???

Ai de vós, celebridades cafajestes, que viveis como se estivésseis na Corte de Luís XIV, entre bolsas Chanel, gargantilhas de pérola, tapetes de zebra e elefantes de prata. Portais em vosso peito diamantes em que se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis. Ai de vós, pois os miseráveis se desentocarão, e seus trapos vão brilhar mais que vossos Rolex de ouro. Ai de ti, cascata de camarões!

Tu não viste o sinal, Brasil. Estás perdido e cego no meio da iniquidade dos partidos que te assolam e que contemplas com medo e tolerância?

Cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras, e deste risadas ébrias e vãs no seio do Planalto. Ai de vós, intelectuais, porque tudo sabeis e nada denunciais, por medo ou vaidade. Ai de vós, acadêmicos que quereis manter a miséria “in vitro” para legitimar vossas teorias. Ai de vós, “bolivarianos” de galinheiro, que financiais países escrotos com juros baixos, mesmo sem grana para financiar reformas estruturais aqui dentro. Ai de ti, Brasil, porque os que se diziam a favor da moralidade desmancham hoje as tuas instituições, diante de nossos olhos impotentes. Ai de ti, que toleraste uma velha esquerda travestida de moderna. Malditos sejais, radicais de cervejaria, de enfermaria e de estrebaria – os bêbados, os loucos e os burros –, que vos queixais do país e tomais vossos chopinhos com “boa consciência”. Ai de vós, “amantes do povo” – malditos os que usam esse falso “amor” para justificar suas apropriações indébitas e seus desfalques “revolucionários”.

Ai de vós, que dizeis que nada vistes e nada sabeis, com os crimes explodindo em vossas caras.

Ai de ti, que ignoraste meus sinais de perigo e só agora descobriste que há cartéis de empresas que predam o dinheiro público, com a conivência do próprio poder. Malditas sejam as empresas-fantasma em terrenos baldios, que fazem viadutos no ar, pontes para o nada, esgotos a céu aberto e rapinam os mínimos picuás dos miseráveis.

Malditos os fundos de pensão intocáveis e intocados, com bilhões perdidos na Bolsa, de propósito, para ocultar seus esbulhos e defraudações. Malditos também empresários das sombras. Malditos também os que acham que, quanto pior, melhor.

A grande punição está a caminho. Ai de ti, Brasil, pois acreditaste no narcisismo deslumbrado de um demagogo que renegou tudo que falava antes, que destruiu a herança bendita que recebeu e que se esconde nas crises, para voltar um dia como “pai da pátria”. Maldito esse homem nefasto, que te fez andar de marcha à ré.

Ai de ti Brasil, porque sempre te achaste à beira do abismo ou que tua vaca fora para o brejo. Esse pessimismo endêmico é uma armadilha em que caíste e que te paralisa, como disse alguém: és um país “com anestesia, mas sem cirurgia”.

Ai de vós, advogados do diabo que conseguis liminares em chicanas que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca do boi de nossas prisões. Maldita seja a crapulosa legislação que vos protege há quatro séculos. Malditos os compradiços juízes, repulsivos desembargadores, vendilhões de sentenças para proteger sórdidos interesses políticos. Malditos sejam os que levam dólares nas meias e nas cuecas e mais ainda aqueles que levam os dólares para as Bahamas. Ai de vós! A ira de Deus não vai tardar...

Sei que não adianta vos amaldiçoar, pois nunca mudareis a não ser pela morte, guerra ou catástrofe social que pode estar mais perto do que pensais. Mas, mesmo assim, vos amaldiçoo. Ai de ti, Brasil!
Já vejo as torres brancas de Brasília apontando sobre o mar de lama que inundará o Cerrado. Já vejo São Paulo invadida pelas periferias, que cobrarão pedágio sobre vossas Mercedes. Escondidos atrás de cercas elétricas ou fugindo para Paris, vereis então o que fizestes com o país, com vossa persistente falta de vergonha. Malditos sejais, ó mentirosos, vigaristas, intrujões, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente. Ai de ti, Brasil, o dia final se aproxima.

Se vossos canalhas prevalecerem, virá a hidra de sete cabeças e dez chifres em cada cabeça e voltará o dragão da Inflação. E a prostituta do Atraso virá montada nele, segurando uma taça cheia de abominações. E ela estará bêbada com o sangue dos pobres, e em sua testa estará escrito: “Mãe de todas as meretrizes e mãe de todos os ladrões que paralisam nosso país”. Ai de ti, Brasil! Canta tua última canção na boquinha da garrafa.

Odebrecht oficializa negociação de delação premiada e vai detalhar doações




Mônica Bergamo
Folha de São Paulo

A Odebrecht e o Ministério Público Federal assinaram na quarta passada o documento que formaliza a negociação de delação premiada e de leniência da empreiteira no âmbito da Operação Lava Jato. As conversas já vinham ocorrendo há alguns meses, mas a partir de agora são oficiais.

HIERARQUIA
Integrantes do Ministério Público pretendem, com a formalização, convocar até mesmo Emílio Odebrecht, ex-presidente da empresa e pai de Marcelo Odebrecht, que está preso, para dar informações.

TUDO E TODOS
A empreiteira se comprometeu oficialmente a detalhar o financiamento de todas as campanhas majoritárias de anos recentes com as quais colaborou –como as de Dilma Rousseff a presidente da República e Michel Temer vice e a de Aécio Neves a presidente, em 2014. Ou seja, nenhum dos grandes partidos (PT, PSDB e PMDB) deve ser poupado.

LINHA PONTILHADA
Apesar dos rumores insistentes de que Marcelo Odebrecht pode envolver diretamente Dilma, que teria pedido a ele recursos para a campanha de 2014 num encontro no Palácio da Alvorada, o tema não foi ainda abordado oficialmente com o Ministério Público Federal.

APERITIVO
Os procuradores negociaram para ter acesso a toda a contabilidade de caixa dois da empresa, o que pode envolver centenas de políticos e até mesmo autoridades de outros poderes. Para se ter uma ideia do alcance dos dados que devem ser fornecidos, só numa das operações de busca e apreensão feitas na empreiteira foi encontrada uma lista com o nome de mais de 300 políticos.

BATALHÃO
O termo assinado pela Odebrecht e pelos procuradores não define o número exato dos executivos que devem delatar. Mas ele pode chegar a 50.


31/05/2016