A FIGURA DE LULA SE DESMANCHA NO MUNDO. OU: DE ESQUERDAS CARNÍVORAS E HERBÍVORAS
Preparados para um viagem um tanto longa?
Acho que vocês vão gostar.
Acho que vocês vão gostar.
Há um poema do português Mário de Sá-Carneiro, contemporâneo de Fernando Pessoa, de que gosto muito. Chama-se "Quase".
Nada tem de político.
Trata-se de uma abordagem puramente existencial, intimista e pessimista da vida. Sentei-me aqui para escrever, ainda enojado com os disparates que Lula disse sobre os presos políticos cubanos, e uma estrofe de "Quase" veio à minha lembrança:
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
Lembrar de Sá-Carneiro ao abordar as opiniões políticas de Lula?
É que sou fascinado por aquela metáfora da "política como construção civil", de Elio Gspari: aquele negócio de "andar de cima/andar de baixo"… É eu pensar em Lula, e logo corro para o "andar de cima"… da civilização.
É como se eu me refugiasse num aparelho clandestino, entendem?, impermeável à boçalidade do petismo; onde não posso ouvir o silêncio miserável da esquerda acadêmica, que fechou o bico diante da fala politicamente criminosa de seu líder, de seu Tirano de Siracusa que hoje anda de braços dados com outros reis-filósofos, como José Sarney e Fernando Collor.
Durante alguns anos, a despeito de todas as evidências em contrário, chegou-se a pensar que Lula era realmente uma liderança surgida no antigo Terceiro Mundo, no "andar de baixo" (na acepção gaspariana) das nações, pronta a reler a realidade.
Ele falaria em nome de todos os princípios universais da democracia, mas obrigaria os ricos a rever suas contradições e a fazer concessões aos mais pobres, que então fortaleceriam a democracia etc.
As coisas não paravam por aí. A retórica de Lula tinha lá seus laivos de antiamericanismo, de esquerdismo chulo, mas seria só uma concessão que ele fazia ao atraso; na prática, tratava-se uma liderança alternativa à boçalidade de um Hugo Chávez, por exemplo. Não, não esqueci do "Quase".
Vão acompanhando…
Ele falaria em nome de todos os princípios universais da democracia, mas obrigaria os ricos a rever suas contradições e a fazer concessões aos mais pobres, que então fortaleceriam a democracia etc.
As coisas não paravam por aí. A retórica de Lula tinha lá seus laivos de antiamericanismo, de esquerdismo chulo, mas seria só uma concessão que ele fazia ao atraso; na prática, tratava-se uma liderança alternativa à boçalidade de um Hugo Chávez, por exemplo. Não, não esqueci do "Quase".
Vão acompanhando…
Passado
Lula falava, sim, em nome do "andar de baixo", mas não na acepção gaspariana, e sim na reinaldiana: o andar de baixo da civilização!
Aqui sempre se disse que Lula não é o líder de uma ditadura de modelo chavista PORQUE NÃO PODE, PORQUE AS INSTITUIÇÕES NÃO DEIXAM.
Se pudesse, seria.
E onde estava aberta a vereda para a delinqüência política a mais escancarada?
Na política externa.
Aquela que venho tratando a porrete desde 2003 — durante uns bons cinco anos, fui voz quase isolada na imprensa. Celso Amorim chegou a ser escolhido pelos meus colegas jornalistas "o melhor ministro" de Lula…
Procurem na Internet para ver.
Se pudesse, seria.
E onde estava aberta a vereda para a delinqüência política a mais escancarada?
Na política externa.
Aquela que venho tratando a porrete desde 2003 — durante uns bons cinco anos, fui voz quase isolada na imprensa. Celso Amorim chegou a ser escolhido pelos meus colegas jornalistas "o melhor ministro" de Lula…
Procurem na Internet para ver.
Quando Lula foi reeleito, escrevi aqui em 31 de outubro de 2006 o que segue em azul:
terça-feira, 31 de outubro de 2006 | 16:21
O ditador venezuelano Hugo Chávez parabenizou Lula pela vitória. Até aí, tudo bem.
George Bush, presidente dos EUA, fez o mesmo.
A diferença está nos termos. "Ofereceremos aplausos a Lula e parabenizamos o povo do Brasil pela sábia decisão de reeleger, com outros 60% de votos, este grande irmão, amigo, companheiro socialista e líder operário.
Aqui se dizia que estava por vir a Era da Área de Livre Comércio da América, mas hoje ocorre o oposto. Como disse Lula ontem à noite, agora ninguém mais fala sobre a Alca, apenas no Mercosul e na união do sul.
A Venezuela está no coração desse projeto, com Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e outros países, cada vez mais, para integrar a América Latina e o Caribe". As polianas de plantão, como sempre, vão dizer que isso é pura retórica; que Chávez está pegando carona na vitória de Lula.
Com efeito, o bufão não tem uma presença popular, reconhecida, no Brasil.
Mas é óbvio que ele lidera hoje o grupo acima.
O efeito prático dessa liderança já se fez sentir na tungada que a Petrobrás levou na Bolívia. Essa palhaçada de dizer que o Brasil e a Venezuela impediram a Alca é de chorar.
Os EUA não querem mais saber da área de livre comércio. Preferem os acordos bilaterais.
Aliás, é por meio de um deles que compra o petróleo venezuelano, enchendo os cofres do ditador de dólares para que ele continue a financiar o proselitismo antiamericano.
Mercosul?
Comunidade Sul-Americana?
Trata-se hoje de duas ficções. Fez-se a opção preferencial pelo atraso. É Lula de novo, com a culpa do povo.
Qualquer mané no Brasil é antiamericano desde criacinha.
É uma manifestação do complexo de vira-lata transformado em altivez.
Nas classes médias, esse sentimento é ainda mais forte. Na sessão em que eu estava, aplaudiram Fahrenheit 11 de Setembro, do delinqüente intelectual Michael Moore. Tive de sair correndo para tomar um café - ou vomitaria no corredor.
George Bush, presidente dos EUA, fez o mesmo.
A diferença está nos termos. "Ofereceremos aplausos a Lula e parabenizamos o povo do Brasil pela sábia decisão de reeleger, com outros 60% de votos, este grande irmão, amigo, companheiro socialista e líder operário.
Aqui se dizia que estava por vir a Era da Área de Livre Comércio da América, mas hoje ocorre o oposto. Como disse Lula ontem à noite, agora ninguém mais fala sobre a Alca, apenas no Mercosul e na união do sul.
A Venezuela está no coração desse projeto, com Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e outros países, cada vez mais, para integrar a América Latina e o Caribe". As polianas de plantão, como sempre, vão dizer que isso é pura retórica; que Chávez está pegando carona na vitória de Lula.
Com efeito, o bufão não tem uma presença popular, reconhecida, no Brasil.
Mas é óbvio que ele lidera hoje o grupo acima.
O efeito prático dessa liderança já se fez sentir na tungada que a Petrobrás levou na Bolívia. Essa palhaçada de dizer que o Brasil e a Venezuela impediram a Alca é de chorar.
Os EUA não querem mais saber da área de livre comércio. Preferem os acordos bilaterais.
Aliás, é por meio de um deles que compra o petróleo venezuelano, enchendo os cofres do ditador de dólares para que ele continue a financiar o proselitismo antiamericano.
Mercosul?
Comunidade Sul-Americana?
Trata-se hoje de duas ficções. Fez-se a opção preferencial pelo atraso. É Lula de novo, com a culpa do povo.
Qualquer mané no Brasil é antiamericano desde criacinha.
É uma manifestação do complexo de vira-lata transformado em altivez.
Nas classes médias, esse sentimento é ainda mais forte. Na sessão em que eu estava, aplaudiram Fahrenheit 11 de Setembro, do delinqüente intelectual Michael Moore. Tive de sair correndo para tomar um café - ou vomitaria no corredor.
Chávez está certo. A eleição de Lula foi mesmo uma vitória do seu grupo. Mas o Departamento de Estado dos EUA não percebe isso. O governo republicano consegue entender menos o que acontece na América Latina do que o democrata, de Bill Clinton.
Isso tem uma explicação:
ninguém no mundo dá bola para nós.
ninguém no mundo dá bola para nós.
Sob certo aspecto, a África acaba sendo mais importante, ainda que infinitamente mais pobre.
Estamos condenados.
Voltei
Agora volto ao poema.
"Quase", senhores!
Quase surge uma liderança latino-americana com capacidade para sacudir o cenário mundial. Mas não foi desta vez. Não foi porque Lula não poderia negar a sua própria natureza.
Como aponta o intelectual cubano Carlos Alberto Montaner em artigo publicado hoje no Estadão, a imagem internacional de Lula está se desmanchando.
Afinal, ele não pode negar a sua própria natureza.
Montaner aponta o óbvio: quando caiu o Muro de Berlim, Lula e Fidel Castro sentiram a necessidade de criar uma alternativa para as ditaduras de esquerda e suas organizações criminosas. E fundaram o Fórum de São Paulo — cuja existência a imprensa brasileira se negava a admitir.
Para Lula ser o líder do "andar de baixo" na acepção gaspariana, faltou um "golpe d'asas".
E esse "golpe d'asas" se chama "democracia".
"Quase", senhores!
Quase surge uma liderança latino-americana com capacidade para sacudir o cenário mundial. Mas não foi desta vez. Não foi porque Lula não poderia negar a sua própria natureza.
Como aponta o intelectual cubano Carlos Alberto Montaner em artigo publicado hoje no Estadão, a imagem internacional de Lula está se desmanchando.
Afinal, ele não pode negar a sua própria natureza.
Montaner aponta o óbvio: quando caiu o Muro de Berlim, Lula e Fidel Castro sentiram a necessidade de criar uma alternativa para as ditaduras de esquerda e suas organizações criminosas. E fundaram o Fórum de São Paulo — cuja existência a imprensa brasileira se negava a admitir.
Para Lula ser o líder do "andar de baixo" na acepção gaspariana, faltou um "golpe d'asas".
E esse "golpe d'asas" se chama "democracia"
Lula e o PT jamais a reconheceram, de fato, como um valor universal. Ontem como agora, sua adesão aos pressupostos democráticos é não mais do que tática.
Se, no ambiente interno, o "líder" é obrigado a se manter nos limites institucionais — embora não se conforme com eles, como deixou claro ontem à noite de novo, ao atacar a imprensa —, no externo, pôde aplicar sem receio as suas convicções mais profundas.
E isso significa colocar-se ao lado de toda e qualquer ditadura — sem exceção — que seja considerada, de algum modo, hostil aos EUA.
Se, no ambiente interno, o "líder" é obrigado a se manter nos limites institucionais — embora não se conforme com eles, como deixou claro ontem à noite de novo, ao atacar a imprensa —, no externo, pôde aplicar sem receio as suas convicções mais profundas.
E isso significa colocar-se ao lado de toda e qualquer ditadura — sem exceção — que seja considerada, de algum modo, hostil aos EUA.
Engano
Muita gente boa se enganou, mesmo os críticos mais duros. Até mesmo Montaner. Ele chegou a fazer uma distinção entre o que seria a "esquerda carnívora" da América Latina — Chávez, Evo Morales, Rafael Correa — e a "vegetariana": Lula.
Nos dias 13 de janeiro e 18 de dezembro do ANO RETRASADO, escrevi aqui que essa distinção era uma bobagem. Vale a pena recuperar os textos. Vocês terão a impressão de que eu estava escrevendo sobre o Lula que acaba de comparar os dissidentes cubanos a bandidos.
Não, caras e caros, não lembro estes textos para bater no peito: "Viram? Sempre estive certo?"
Faço-o para demonstrar que a leitura que eu e alguns poucos fizemos de Lula não estava amparada num jogo de impressões; não se deixava seduzir por seu discurso.
Era uma leitura informada pela teoria política, coisa de que o jornalismo se esqueceu.
Nos dias 13 de janeiro e 18 de dezembro do ANO RETRASADO, escrevi aqui que essa distinção era uma bobagem. Vale a pena recuperar os textos. Vocês terão a impressão de que eu estava escrevendo sobre o Lula que acaba de comparar os dissidentes cubanos a bandidos.
Não, caras e caros, não lembro estes textos para bater no peito: "Viram? Sempre estive certo?"
Faço-o para demonstrar que a leitura que eu e alguns poucos fizemos de Lula não estava amparada num jogo de impressões; não se deixava seduzir por seu discurso.
Era uma leitura informada pela teoria política, coisa de que o jornalismo se esqueceu.
Os perfeitos idiotas - Herbívoros e carnívoros
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008 | 5:37
Conheço o complexo de hotéis da Costa do Sauípe, na Bahia, onde se deu a tal Cúpula da América Latina e do Caribe. Há áreas com extensos gramados. Depois será preciso verificar o estado das gramíneas.
É possível que boa parte tenha sido consumida até a terra nua.
As palavras "perfeito idiota" que abrem o título deste post estão no livro "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano"
No Brasil, foi publicado há 11 anos, antes ainda da tal "onda vermelha" na América Latina.
Trata-se de uma crítica severa às esquerdas do continente, que centravam a sua política no ataque "ao imperialismo" - com forte sotaque, como não poderia deixar de ser, antiamericano.
Pois é… Boa parte delas chegou ao poder.
E agora explico a referência à grama.
Llosa chegou a criar uma distinção entre as esquerdas latino-americanas: haveria a "carnívora", como a dos irmãos homicidas Fidel e Raúl Castro e do bandoleiro Hugo Chávez, e a "vegetariana"
Jorge Castañeda, intelectual mexicano, ex-esquerdista, hoje moderado (ajudou Vicente Fox a derrotar o PRI no México e foi seu chanceler), também vê as diferenças entre a "boa" e a "má" esquerdas latino-americanas.
Lamento.
Tanto o conservador como o ex-esquerdista estão errados neste particular. E, no dia 13 de janeiro, expliquei por quê.
*
Esquerda vegetariana?
Data venia, isso não passa de besteira. Até porque a esquerda lulista, se for o caso, deve ser chamada de "herbívora". E do tipo ruminante.
Lamento.
Tanto o conservador como o ex-esquerdista estão errados neste particular. E, no dia 13 de janeiro, expliquei por quê.
*
Esquerda vegetariana?
Data venia, isso não passa de besteira. Até porque a esquerda lulista, se for o caso, deve ser chamada de "herbívora". E do tipo ruminante.
A diferença não é ideológica ou de essência. A diferença está na história. Explico-me.
Os "carnívoros" de Llosa - ou "esquerda má", na definição de Castañeda - chegaram ao poder à esteira de severas crises institucionais em seus respectivos países.
A "esquerda boa" (dita "vegetariana") assumiu o poder num quadro de estabilidade institucional. Foi assim com Bachelet, no Chile, e com Lula no Brasil.
Para ficar no exemplo doméstico, note-se que Lula não é Chávez porque não pode, não porque não queira.
Quem o impede são as instituições fortalecidas, que herdou de FHC e que não conseguiu, embora tenha tentado, enfraquecer.
Basta lembrar quantas vezes essa gente tentou botar canga na imprensa. Observe-se, também, que Lula tem sido, sim, um aliado incondicional - INCONDICIONAL, repito - de Hugo Chávez e Evo Morales.
No ambiente internacional, a agenda brasileira é, sem tirar nem pôr, a da esquerda.
O que estou dizendo é que essas diferenças a que aludem tanto Castañeda como Llosa são absolutamente irrelevantes. Lula leva o desprestígio das instituições, no Brasil, até onde é possível levar. Se mais não faz, é porque mais não pode.
Os "carnívoros" de Llosa - ou "esquerda má", na definição de Castañeda - chegaram ao poder à esteira de severas crises institucionais em seus respectivos países.
A "esquerda boa" (dita "vegetariana"
Para ficar no exemplo doméstico, note-se que Lula não é Chávez porque não pode, não porque não queira.
Quem o impede são as instituições fortalecidas, que herdou de FHC e que não conseguiu, embora tenha tentado, enfraquecer.
Basta lembrar quantas vezes essa gente tentou botar canga na imprensa. Observe-se, também, que Lula tem sido, sim, um aliado incondicional - INCONDICIONAL, repito - de Hugo Chávez e Evo Morales.
No ambiente internacional, a agenda brasileira é, sem tirar nem pôr, a da esquerda.
O que estou dizendo é que essas diferenças a que aludem tanto Castañeda como Llosa são absolutamente irrelevantes. Lula leva o desprestígio das instituições, no Brasil, até onde é possível levar. Se mais não faz, é porque mais não pode.
Pois é… Vejam que a "esquerda vegetariana" - NA VERDADE, HERBÍVORA - acaba de incluir Cuba na tal Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC).
E que exigência se fez àquela tirania?
Nenhuma!
E que exigência se fez àquela tirania?
Nenhuma!
Ao contrário: Raúl Castro, com 95 mil mortos nas costas, foi tratado como herói e resistente. Sob o comando de Lula, o encontro pediu o fim do embargo americano à ilha (irrelevante, insisto, para a miséria em que vive o povo). E, de novo, sem quaisquer condicionantes.
Castañeda e Llosa não se davam conta, então, que a dita esquerda "vegetariana" (herbívora) era só uma espécie de veículo da esquerda "carnívora".
Alguém poderia perguntar: "Mas que mal tem isso, Reinaldo?" O avanço de regimes que flertam abertamente com a ditadura, como se dá na Venezuela, no Equador e na Bolívia, e a admissão de uma ditadura descarada no grupo dos países respeitáveis - segundo Lula, essa foi a maior conquista da reunião na Costa do Sauípe.
A confusão é gigantesca. Alexei Barrionuevo, do The New York Times, escreve sobre a cúpula: "Apesar de toda a popularidade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado dos EUA, o Brasil não conseguiu impedir os líderes de celebrar a inclusão do presidente cubano, Raúl Castro, nesse encontro.
Lula também não pôde impedir que os outros presidentes aproveitassem a ocasião para atacar os Estados Unidos e a Europa por seu papel na crise econômica global, que também afeta a região."
Viram só?
Barrionuevo, coitado!, não entendeu nada.
Em primeiro lugar, não sei por que a popularidade de Lula teria alguma interferência numa reunião de chefes de estado.
Em segundo, notem que, para ele, o brasileiro estaria algo contrariado com a "celebração" a Raúl Castro e com os discursos antiamericanos.
Castañeda e Llosa não se davam conta, então, que a dita esquerda "vegetariana" (herbívora) era só uma espécie de veículo da esquerda "carnívora".
Alguém poderia perguntar: "Mas que mal tem isso, Reinaldo?" O avanço de regimes que flertam abertamente com a ditadura, como se dá na Venezuela, no Equador e na Bolívia, e a admissão de uma ditadura descarada no grupo dos países respeitáveis - segundo Lula, essa foi a maior conquista da reunião na Costa do Sauípe.
A confusão é gigantesca. Alexei Barrionuevo, do The New York Times, escreve sobre a cúpula: "Apesar de toda a popularidade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado dos EUA, o Brasil não conseguiu impedir os líderes de celebrar a inclusão do presidente cubano, Raúl Castro, nesse encontro.
Lula também não pôde impedir que os outros presidentes aproveitassem a ocasião para atacar os Estados Unidos e a Europa por seu papel na crise econômica global, que também afeta a região."
Viram só?
Barrionuevo, coitado!, não entendeu nada.
Em primeiro lugar, não sei por que a popularidade de Lula teria alguma interferência numa reunião de chefes de estado.
Em segundo, notem que, para ele, o brasileiro estaria algo contrariado com a "celebração" a Raúl Castro e com os discursos antiamericanos.
Epa! Calma lá!
Ele foi o chefe da torcida - não tão caricato quanto um Chávez ou um Evo Morales. Mas é fato que pôs o indiscutível peso do Brasil na região a serviço de um discurso jurássico.
Ou como ler o que publica hoje o Estadão?
"Lula afirmou ontem no encerramento da CALC que, para enfrentar a crise financeira internacional, os países da região devem reforçar a intervenção do Estado na economia. Lula também recomendou que as economias regionais evitem optar pelo ajuste fiscal. "O Estado, que não valia nada, passou a ser o salvador da pátria", afirmou Lula, referindo-se às medidas adotadas pelos países desenvolvidos e por nações latino-americanas, que vêm investindo dinheiro do governo em bancos privados e no setor produtivo."
Num daqueles momentos em que a sua retórica assombra o mundo, o brasileiro mandou ver:
"Éramos um continente de surdos, que não nos enxergávamos"
Não entendi se a cegueira se juntava à surdez ou se o Apedeuta citava, indiretamente, Elias Canetti e prometia escrever o seu "Uma Luz em Meu Ouvido"…
Sei…
Há muita gente entusiasmada com tudo isso etc e tal.
Bom divertimento.
Da formidável jornada de Lula no que pretendem seja a nova política externa brasileira, já podemos colher alguns resultados.
Quando o Apedeuta assumiu, o país respondia por 1,1% do comércio mundial. Antes da crise, já estava em 1,1%… Antes de ele assumir, o Brasil guardava prudente distância de ditadores de qualquer viés. Hoje em dia, avançamos muito: já aprendemos a tratar bem os ditadores e candidatos a tanto.
Um avanço espetacular.
Quem disse que não pode haver harmonia entre herbívoros e carnívoros?
De volta a 12 de março de 2010
É por isso que vocês gostam de ler este blog.
É por isso que eu gosto de fazê-lo.
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