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terça-feira, 2 de março de 2010

DEMOCRACIA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO - 2

DEMOCRACIA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO. OU: A DOÇURA DE PALOCCI NÃO ME ADOÇA




As oposições e Palocci

Os ditos radicais do PT ainda estavam no partido e largavam o braço no “traidor” Palocci.
A rigor e felizmente, as escolhas do PT caracterizavam, sim, uma traição. Mesmo os petistas ditos moderados faziam uma defesa um tanto envergonhada do governo. Os principais apoiadores de Palocci, especialmente no Senado, eram parlamentares do… PSDB e do então PFL — os tucanos eram os mais animados. Afinal, diziam, ele está “usando o nosso [deles] programa”. Era verdade. Mas e daí?

Fui convidado a falar num seminário do PSDB quando os petistas lançaram o seu programa de reformas da Constituição — o mesmo que FHC havia proposto e que colaborara para lhe render, entre outras ações, a pecha de “neoliberal”.

Lembro-me claramente o sentido da minha intervenção, que está documentado porque escrevi depois um texto analítico para a revista da Fundação Teotônio Vilela.

Afirmei que compreendia os motivos por que as oposições apoiavam quase unanimemente o programa de reformas do PT — embora a gigantesca base de Lula no Congresso e o seu próprio partido estivessem bastante divididos. Afinal, tucanos e pefelistas não eram — e disto se orgulhavam tanto — como os petistas, que sempre apostaram no “quanto pior, melhor”.

Afinal, eles não eram como os petistas, que botaram os tontons-maCUTs na rua, EM PLENO 2002, para defender um reajuste para o funcionalismo de… 73%!!!

E Antonio Palocci estava na turma, como ele sabe muito bem. Afirmei, pois, que entendia, sim. Mas também disse que o apoio à reforma, como eles o estavam dando, caracterizava uma rendição perigosa. E usei uma imagem: A COERÊNCIA NÃO PODE SER UMA CRUZ A PESAR SÓ NO OMBRO DOS ADVERSÁRIOS DO PT.

E recorri ali a uma outra imagem, que empreguei, depois, muitas outras vezes: os adversários do PT estão permitindo ao partido viver numa espécie de presente eterno, de modo que os petistas sempre estarão na vanguarda porque a sua NECESSIDADE DA HORA é tida como a evolução do pensamento. Estarão sempre certos: quando defendem uma coisa e quando defendem o seu contrário.

Eu não propunha que os oposicionistas rejeitassem reformas necessárias; não!, eu não propunha “o quanto pior, melhor”. Mas insistia que A EMPULHAÇÃO DO PARTIDO FOSSE DENUNCIADA. Boa parte dos oposicionsitas preferia dar ao PT as boas-vindas à realidade.

OCORRE QUE PALOCCI, COMO O SAPO DO GUIMARÃES ROSA, PULAVA TAMBÉM POR PRECISÃO, NÃO SÓ POR BONITEZA. Ele, sem dúvida, passara a gostar muito daquele negócio de “mercado”. E como!!! Mas sabia que não tinha outra alternativa.



Uma nota para falar da imprensa


Sabem quem apontava as contradições do PT e sua vigarice histórica? Curiosamente, gente como eu — e, definitivamente, não sou de esquerda — e colunistas de esquerda, que se sentiam traídos. Além, é óbvio, de Heloisa Helena e outros babões, que acabaram deixando a legenda. Isto mesmo: num dado momento, Reinaldo Azevedo e a extrema esquerda do PT atacavam a hipocrisia do “PT de centro”. Com a diferença nada ligeira de que eu cobrava que eles reconhecem que a escolha do caminho da virtude (só na economia) tinha de se fazer acompanhar de um mea-culpa pelos vícios pregressos. E a extrema esquerda achava que a nova virtude era vício e o que o velho vício era virtude.

A imprensa, de maneira geral, cobria o governo de elogios.

Quanta prudência!

Quanto realismo!

Quanta responsabilidade!

Havia até quem visse naquilo tudo manifestação de uma genuína humildade e reconhecimento de que estavam errados. Isso tudo malgrado o discurso que já se iniciava da “herança maldita”, uma das falácias históricas que marcou a consolidação do PT no poder.

Botei pra quebrar

Bem, escolhi a contramão no site e na revista Primeira Leitura — e, por isso, tive de fechá-los.

Apontei, naqueles dias, o que aponto agora: A CONVERSÃO DO PT AO MERCADO era a única saída do partido, não uma escolha — ou Lula, ele próprio já o disse, teria caído no primeiro ano. MAS EU ME NEGAVA, DIZIA, E OS QUE ME ACOMPANHAM DESDE AQUELE TEMPO SABEM DISSO, A FAZER UMA ESPÉCIE DE TROCA COM O PT: “Nós não tocamos na estabilidade, mas vamos cobrar um preço bastante alto por isso”. Rejeitava o partido que tinha uma tese para o Brasil a depender do lado em que estava do balcão.

Mas não teve jeito. A estabilidade era um “valor caro” demais aos chamados setores formadores de opinião para que se prestasse atenção a outros aspectos da governança. Quando o escândalo do mensalão veio à luz, houve, acreditem, quem realmente tivesse ficado chocado, como se aquilo fosse algo incompatível com o, como é mesmo?, “partido da ética na política”.


Sei de renomadas reputações que acharam imprudente a entrevista de Renata Lo Prete com Roberto Jefferson…

Afinal, era Jefferson contra o PT, não é?

E todos sabíamos em quem acreditar…

continua no post abaixo

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