OS TOPA-TUDO SEM DINHEIRO
MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA
No afã de contornar a questão econômica com a poção mágica da política, o governo lançará uma campanha visando estimular o consumo para tentar manter a produção.
Para tanto, a propaganda governamental terá um slogan que afaga o ego nacional com pinceladas de auto-estima: “O mundo confia no Brasil e o Brasil confia nos Brasileiros”.
A ordem é consumir e o governo promete que o crédito continuará fácil e abundante, mas não são mencionados os altos juros e os impostos escorchantes.
Do alto de prestígio o presidente da República recomenda que seus filhos amados não deixem de comprar “sua casinha, seu carrinho, seu primeiro sutiã”. Luiz Inácio se coloca outra vez como animador de auditório e brada aos quatro ventos do palanque eletrônico da TV:
“Quem quer dinheiro?”
Sem medo e felizes, os topa-tudo sem dinheiro acorrem às lojas em busca de um esplendoroso Natal. Não interessa a inadimplência. Não importa se depois chegará janeiro com impostos e aumentos, inclusive, da escola dos filhos. A ordem do dia é gastar, comprar o máximo de sutiãs que se puder.
Há de se convir, entretanto, que a retórica de Luiz Inácio, suas arengas que procuram atritar ricos e pobres, negros e brancos, suas metáforas futebolísticas, sua imagem cuidadosamente trabalhada no modelo pobre operário, seus ataques á língua pátria, seu contínuo festival de besteiras chamadas eufemisticamente de gafes, nada disso, enfim, é espontâneo ou aleatório, mas faz parte da propaganda que sempre intensificou o culto da personalidade.
Um culto diga-se a bem da verdade, que vem ao encontro da mentalidade de um povo sequioso por um salvador da pátria e que por formação histórica gosta de ser tutelado pelo pai Estado.
Mais ainda, o sinal verde para a gastança está de acordo com a índole do brasileiro que, de modo majoritário, nunca foi muito de planejar suas finanças, mesmo porque, parece sentir prazer em gastar mais do que pode, de se endividar, na medida em nosso país os endividados têm vantagens muito maiores em suas negociações do que aqueles que corretamente pagam em dia.
Certamente, por contas dessas características, um homem que fazia compras na Rua 25 de Março respondeu ao jornalista que lhe perguntava sobre a crise: “crise, que crise?”.
Dirão alguns que o governo está no caminho certo porque também os Estados Unidos apontam para o aumento de crédito, incentivo ao consumo e ao emprego, diminuição de impostos. Existem, porém, algumas abissais diferenças entre o governo norte-americano e o nosso. Para começar, aquele não é perdulário.
E enquanto nos Estados Unidos se paga 8% de juros ao ano no cartão de crédito, nosso cheque especial alcança 170% de juros anuais. No mais, se o governo pensa em abaixar impostos, logo esse governo sedento por arrecadações cada vez maiores, no momento a idéia não passa uma boa intenção ou de um factóide bem político.
Melhor ficar como São Tomé e ver para crer.
Atente-se também para o fato de as informações dos jornais não são tão róseas quanto as “boas notícias” que aparecem nas TVs ou nas palavras do presidente e de seus auxiliares. Em cadernos de economia dos principais jornais do país se pode ler, entre várias outras análises e notícias, que nossa balança comercial em números de novembro já reflete a desaceleração do ritmo do comércio mundial, principalmente no que diz respeito às exportações que caíram 21%. Acrescente-se que de julho à primeira quinzena de novembro os preços das principais matérias-primas desabaram, em média, 42%, em dólar, segundo o índice CRB Reuters/Jefferies, sendo que as matérias-primas respondem por 65% das exportações.
Além do mais, a recessão nos países mais ricos está provocando o cancelamento das exportadoras brasileiras. Esses fatores limitam o interesse por novos investimentos e afeta as contas externas.
A desaceleração da economia mundial ainda não foi sentida plenamente no Brasil e o povo continuará a gastar e a perguntar:
“Que crise?
O governo aposta nas bolsas-esmola e no aumento do salário mínimo, mas a classe média já começa a sentir o baque. A inadimplência aumentou, o comprometimento da renda subiu de 34% em setembro a 36% em outubro e com isto o calote.
Sem medo de ser feliz Luiz Inácio vai surfando na “marolinha”, enquanto montadoras e empresas começam a dar férias coletivas e demitir. Indústria, agricultura, comércio, construção civil e até o governo sabem que em 2009 não haverá apenas uma “gripezinha”.
Portanto, é preciso certa cautela nossa, os topa-tudo sem dinheiro, na hora de comprar sutiãs. Afinal, tudo indica que acabou o tempo em que se comprava nessa vida e se terminava de pagar em outras encarnações.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
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