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sábado, 6 de setembro de 2008

Diogo Mainardi - "Um aborto é igual ao outro"


"O aborto é uma escolha puramente pessoal. O que 
é moralmente repugnante é o conceito de que alguns 
merecem ser abortados mais do que outros"

Sarah Palin, no congresso do Partido Republicano, prometeu que, se eleita, assumirá o papel de patrona das pessoas com necessidades especiais. Um Santo Egídio na Casa Branca. 

Um Santo Egídio de batom.

O recém-nascido de Sarah Palin é Down. Seu nome é Trig. Trig rapidamente se tornou uma das principais bandeiras da campanha presidencial americana. Ele é agitado de um lado para o outro, passando de colo em colo, de palco em palco. Sarah Palin descobriu que Trig era portador de síndrome de Down durante a gravidez. Em vez de abortá-lo, foi adiante com a gravidez mesmo assim.

Sarah Palin é contrária ao aborto. Me incomoda um tantinho que seus partidários e opositores sempre associem Trig a esse fato. Ter a síndrome de Down parece qualificá-lo automaticamente para um aborto. Os partidários de Sarah Palin interpretam a escolha de ter parido Trig como um sinal de grandeza. Seus opositores a interpretam como um sinal de obtusidade religiosa. Mas abortar Trig teria sido igual a abortar Track, ou Bristol, ou Piper, ou Willow. 

Um aborto é igual ao outro.

Eu entendo do assunto. Tenho dois filhos. Como Sarah Palin, agito-os de um lado para o outro, de artigo em artigo. Ela tem Track e Trig, eu tenho Tito e Nico. Tito passou por todos os testes pré-natais. Naquele tempo, eu era um palerma, e o teria abortado até mesmo se seu ultra-som mostrasse algo simples como um pé chato. 

Na hora do parto, devido a uma barbeiragem médica, Tito sofreu uma paralisia cerebral. Isso mudou tudo. Eu mudei. Quando decidimos ter outro filho – Nico –, perguntei-me se o abortaria caso os testes pré-natais indicassem alguma anomalia, por mais séria que fosse.
 
A resposta: jamais. Jamais? Jamais.

Do Alasca para a Inglaterra. David Cameron, líder do Partido Conservador, tem um filho com paralisia cerebral. Seu nome é Ivan. Como Sarah Palin e eu, David Cameron agita Ivan de um lado para o outro, de reportagem em reportagem. Ele argumenta que seu caso pessoal pode ajudar a esclarecer algumas de suas idéias políticas. 

Ao contrário da maioria de seus correligionários, ele defende a liberdade de abortar até a 39ª semana de gravidez, em caso de fetos defeituosos, e só até a vigésima semana, em caso de fetos sem defeitos. Ele está disposto a estabelecer – por lei – uma disparidade hedionda.
O nazismo matou mais de 70 000 deficientes físicos e mentais nas câmaras de gás. Os princípios da SS vingaram. Agora os testes pré-natais permitem determinar quem pode viver e quem pode morrer.
 
É um Aktion 14F13 intra-uterino.

O aborto é uma escolha puramente pessoal. Todos deveriam ser livres para fazer o que bem entendem. É uma estupidez legislar demais sobre o tema. O STF, em meio aos grampos, julga os casos de aborto de anencéfalos, mas o fato é que, no Brasil, qualquer um que queira abortar, aborta, na vigésima ou na 39ª semana de gravidez. 

O que é moralmente repugnante é o conceito de que alguns merecem ser abortados mais do que outros.
 
Trig. Tito. Ivan.
por Diogo Mainardi

1 comentários:

Anônimo disse...

Sua argumentação de que o aborto é escolha que remete à liberdade, no caso, jurídica tem muitas falhas lógicas no que tange à definição de Direito, justiça, etc. Usando argumentos semelhantes, poder-se-ia sobressaltar o direito à vida de um indivíduo adulto sobre qualquer outro; e isso é claramente injusto e o Direito tem alguma coerência em seus dizeres. Entretanto, sua lembrança do nazismo e a observação das classes de crianças abortadas mostra que você tem boa intenção. Abraços.