Estadão
O governo avalia que a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acirra mais os ânimos contra o PT e a presidente Dilma Rousseff e aumenta o clima de beligerância no País num momento crucial, em que ela precisa de apoio para enfrentar a pressão dos que querem o impeachment. Auxiliares de Dilma temem que a investigação atinja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem provas concretas.
O assunto foi tratado em conversas reservadas entre ministros, ontem, antes da reunião de coordenação política. A ordem no Planalto é proteger Dilma do novo escândalo, que tem potencial para dar munição aos protestos marcados para o dia 16, em todo o País, contra o governo e a corrupção.
A prisão de Dirceu na 17.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Pixuleco, também provocou preocupação na cúpula do PT. Dirigentes da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil, de Lula e Dirceu, discutiram os desdobramentos da crise ontem, em Brasília, e hoje haverá reunião da Executiva Nacional. Petistas receberam informações de que integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público estariam dizendo aos presos: “Se você entregar o Lula, sairá rapidinho.”
Um ano depois de participar ativamente da fundação do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu assume o cargo de secretário de Formação Política da legenda, posto que ocupa até 1983. No partido ainda comanda a Secretaria-Geral do Diretório Regional de São Paulo (1983-1987) e a Secretaria-Geral do Diretório Nacional (1987-1993).
Um ano depois de participar ativamente da fundação do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu assume o cargo de secretário de Formação Política da legenda, posto que ocupa até 1983. No partido ainda comanda a Secretaria-Geral do Diretório Regional de São Paulo (1983-1987) e a Secretaria-Geral do Diretório Nacional (1987-1993).
Dirceu candidata-se ao governo do Estado de São Paulo - termina em terceiro lugar - depois de ser eleito deputado estadual (1986) e deputado federal (1990). Ele voltaria a ser eleito para a Câmara dos Deputados em 1998 e 2002.
Assume a presidência nacional do PT, cargo para o qual é reeleito por três vezes. Na última delas, em 2001, Dirceu é escolhido diretamente pelos filiados da legenda em um processo inédito de eleições diretas para todos os postos de comando de um partido político.
Um dos responsáveis pelo pragmatismo político que levou à vitória de Lula na campanha à Presidência em 2002, Dirceu deixa o comando do PT e se torna coordenador político da equipe de transição. “Dirceu é dono do espaço que quiser ocupar”, dizia Lula na época.
O “homem forte do governo” licencia-se da Câmara dos Deputados para assumir a função de ministro-chefe da Casa Civil. No cargo, tenta fechar um acordo entre o governo e o PMDB sem sucesso. O Planalto, então, reorienta a formação da maioria no Congresso a partir de acordos com partidos mais fisiológicos
Denúncia de propina derruba Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares, homem de confiança de Dirceu. O assessor foi exonerado após suspeita de ter recebido propina de bicheiros para a campanha do PT, em 2002. Foi o primeiro caso de corrupção envolvendo um integrante da gestão.
Dirceu deixa a Casa Civil após o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciar o pagamento no governo Lula de “mesada” por parte do PT a parlamentares em troca de apoio. Ele retorna à Câmara, mas no fim do ano tem o mandato cassado. Um ano depois, Dirceu é denunciado pelo Ministério Público, que o aponta como “chefe de quadrilha”.
Um ano depois de ser condenado pelo Supremo pelos crimes de corrupção e formação de quadrilha, cuja pena é de 10 anos e 10 meses de detenção, Dirceu é preso em São Paulo. Ele começa a cumprir parte da pena no regime semiaberto, já que para o crime de quadrilha ainda resta um recurso pendente. Três meses depois, o Supremo o absolve pelo crime de quadrilha, e Dirceu consegue permanecer no semiaberto.
Supremo autoriza progressão de regime e Dirceu é liberado para cumprir em casa o restante da pena imposta por corrupção no mensalão. Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão, Dirceu teve 142 dias da pena original descontados, por ter trabalhado enquanto esteve no regime semiaberto.
Surgem as primeiras denúncias sobre a ligação da consultoria de Dirceu, a JD Assessoria, com as empresas envolvidas na Lava Jato. A suspeita era que a consultoria prestava serviço semelhante ao de Youseff: elas emitiam notas fiscais para as maiores empreiteiras do País por assessorias e outros serviços fictícios.
A justiça apura o recebimento de R$ 29 milhões entre 2006 e 2013 da JD. Desse montante, R$ 8 milhões de empreiteiras acusadas operação por pagarem propinas dos contratos com a Petrobrás. Os documentos foram pedidos para a investigação.
Milton Pascowitch, da Jamp Engenheiros Associados, detalha em delação premiada o envolvimento com JD de Dirceu. Ele falou muito sobre Dirceu, passou muitos detalhes, situações. Em troca, conquistou pouco tempo depois um primeiro benefício, a prisão domiciliar. Dirceu, por sua assessoria, negou taxativamente irregularidades no negócio.
Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, apresentou à Procuradoria-Geral da República um documento que descrevia três pagamentos, no total de R$ 3,2 milhões, à JD Assessoria e Consultoria. O documento também citava Aloizio Mercadante e Edinho Silva (PT).
Durante o interrogatório, o lobista Julio Camargo afirmou que o ex-ministro teria recebido propina de R$ 4 milhões do diretor da Petrobrás Pedro Barusco, fato também negado pela defesa. Pedro Barusco depõe e reforça o envolvimento do ex-ministro da Casa Civíl. 'O nome dele (Dirceu) aparecia nas conversas. Agora, se ele efetivamente recebeu, não era papel meu. Eu cuidava da parte da Casa e já era difícil. Eu não me envolvia com esse negócio do partido'
Acuado pela Lava Jato, José Dirceu pede habeas preventivo. O pedido foi negado duas vezes pelo TRF da 4ª Região, e depois, pela 3ª vez, em caráter definitivo. Condenado no mensalão, ex-ministro está sob investigação por suposto recebimento de propinas disfarçadas na forma de consultorias, por meio de sua empresa JD assessoria, já desativada; irmão e ex-assessor também foram presos.
Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, a investigação revela que o ex-ministro teve papel crucial na instalação do modelo que abriu caminho para o cartel de empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários na estatal mediante pagamento de propinas para políticos e ex-diretores da Petrobrás.
A nova fase da Lava Jato foi batizada de Operação ‘Pixuleco’. O termo era usado pelo tesoureiro do PT João Vaccari Neto para tratar do dinheiro, segundo afirmou o empreiteiro Ricardo Pessoa, em sua delação premiada
Em nota, o presidente do PT, Rui Falcão, refutou as acusações de que o partido teria realizado operações financeiras ilegais ou participado do esquema de corrupção na Petrobrás, conforme relato no acordo de delação premiada feito pelo lobista Milton Pascowitch. A nota não cita Dirceu. Pascowitch acusou o ex-ministro de comandar o desvio de recursos na estatal e disse ter entregue R$ 10,5 milhões na sede do PT, em São Paulo.
Berlinda. A investigação da PF joga novamente os holofotes sobre o PT, dez anos depois do escândalo do mensalão. Agora, o receio do Planalto e do partido é de que novas delações compliquem mais o cenário político. Dirceu foi homem forte do PT e do governo Lula e ainda tem influência sobre a legenda. “A Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro não deixam a gente entrar na agenda positiva”, disse um ministro ao Estado.
Na semana passada, o governo achava que o reinício dos trabalhos do Congresso seria difícil, principalmente por causa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que rompeu com Dilma e tem o nome envolvido na Lava Jato. Assessores da presidente acreditavam, porém, que a denúncia contra Cunha – acusado pelo lobista Júlio Camargo de cobrar propina de US$ 5 milhões – poderia desviar o foco da pressão sobre Dilma.
Agora, o diagnóstico é de que tudo vai piorar. Amigos de Dirceu disseram ao Estado que ele esperava a prisão e, por isso, está “tranquilo”. Apesar de magoado com Dilma e com Lula, sob alegação de que não o teriam defendido, o ex-ministro não pretende apontar o dedo para ninguém.
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que o esforço do governo é evitar que os problemas na política contaminem a economia. “A gente dorme e acorda com uma notícia dessas. Do ponto de vista do ambiente de negócios, essa é a preocupação, porque precisamos ter estabilidade. As investigações seguem e o País também segue, com suas empresas e a economia funcionando.”
Irritado com acusações da oposição, que tentaram associar Dirceu a Lula e Dilma, o senador Jorge Viana (PT-AC) partiu para o ataque. “A oposição está num papel muito apequenado e não aguenta nem meia Lava Jato”, reagiu. “Por que se apura a ação de algumas figuras e de alguns partidos e não se apura de outros? É um jogo de cartas marcadas?”
04 de agosto de 2015
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